Antigamente, segundo Marco Antonio Manfredini (CRO-SP 27.268), secretário geral do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), acreditava-se que o flúor era importante apenas na fase do desenvolvimento dos dentes: “Hoje sabemos que a importância do flúor está na sua atuação local na boca. Ele atua contra a desmineralização do dente”.
A desmineralização é um processo que acontece algumas vezes ao longo do dia. Após a ingestão de alimentos, esse processo se intensifica porque o pH [potencial de hidrogênio, índice que mensura a acidez ou alcalinidade do meio] da boca torna-se mais ácido – com isso os dentes começam a perder minerais como cálcio e fosfato, tornando-se mais frágeis e mais sensíveis às bactérias que causam as cáries.
“Quando acabamos de comer, o pH da boca fica mais ácido. Quando o pH estabiliza, ocorre a remineralização e o dente fica mais estável. Quando consumimos flúor, ele fará parte da nova camada de esmalte do dente, que ficará mais forte e menos sujeito à desmineralização”, explica Renata Martins (CRO-SP 102411), ortodontista da Odontoclinic.
O flúor presente na água tratada já contém a quantidade suficiente para garantir a proteção dos nossos dentes. Pessoas que moram em cidades onde esse serviço não é oferecido pela rede pública, não podem dispensar o uso de um creme dental com flúor. Em casos pontuais, o dentista pode avaliar a aplicação de flúor no consultório.
Não há contraindicação para o consumo de flúor, segundo Renata, exceto para crianças menores de cinco anos, ou que ainda não sabem cuspir a pasta após a escovação: “Flúor em excesso quando a criança está crescendo provoca a fluorose, que provoca manchas brancas nos dentes e atrapalha o desenvolvimento tanto dos dentes quanto também dos ossos. Os pais podem comprar para os filhos as pastas infantis, que já não possuem flúor”.
Com água fluoretada, crianças registram menos cáries – A fluoretação da água no Brasil teve início em 1953 e desde 1974 é considerada obrigatória pela na Lei Federal 6.050. Em 2015, o CROSP em parceria o Ministério da Saúde e a Unicamp (Universidade de Campinas) realizaram o mais amplo estudo no mundo sobre a fluoretação da água e sua relação com a prevenção das cáries. Foram recolhidas amostradas de todos os 645 municípios paulistas e verificou-se que 99% deles realizam a fluoretação, porém, 30% o fazem em níveis insuficientes para a prevenção das cáries.
Se considerado o padrão adotado pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, balizado pela resolução SS-250 (de 1995), as concentrações em uma faixa de 0,6 a 0,8 são tidas como apropriadas. Abaixo ou acima deste recorte, são inadequadas e podem favorecer a formação de cárie ou propiciar a fluorose, respectivamente.
“Em 1985, quando começou a fluoretação em São Paulo, a média era de 6,4 dentes com cáries por criança. Em 2010, a média caiu para dois dentes atacados pelas cáries por criança. E temos cidades com menos de um dente atacados pela cáries”, destaca Marco Antonio.