Por: Paulo Braga / Ana Beatriz
O filósofo irlandês Edmund Burke, ainda no século XVIII, afirmou que — Um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la. No Brasil, o conceito apresentado por Edmund Burke pode ser confirmado com o atual cenário de desconfiança em relação à vacina. Em 1904, o Brasil já viveu uma história idêntica, entretanto, o tempo mostrou que os esforços do médico Oswaldo Cruz foram essenciais para conter surtos de doenças infectocontagiosas.
Na virada do século XIX para o século XX, o Brasil vivia um novo tempo, onde deixava a monarquia, a escravidão e passava a ter grandes revoluções. A população sentia os efeitos da decadência das grandes propriedades rurais e famílias inteiras migravam-se para a cidade. A falta de habitação causava aglomerações de pessoas em cortiços e pensões. A falta de estrutura e de condições mínimas de higiene, faziam as doenças se proliferarem.
O enfrentamento de doenças no Brasil no início do século XX
O Rio de Janeiro era um foco endêmico de diversas doenças como a febre amarela, febre tifoide, varíola, peste bubônica e tuberculose. O médico Oswaldo Cruz era o encarregado por garantir melhorias no sistema de saneamento da cidade maravilhosa.
A princípio, o emprenho de Oswaldo Cruz visava conter a febre amarela, combatendo a doença através da eliminação dos mosquitos e realizando o isolamento dos infectados em hospitais.
A peste bubônica foi enfrentada logo em seguida, e o governo visava a eliminação de ratos e pulgas, no entanto, devido à resistência das famílias, as brigadas que fiscalizavam as medidas de desratização eram sempre acompanhadas de soldados da polícia.
O enfretamento do governo brasileiro à varíola, similarmente às demais ações, enfrentava resistência. A vacinação da população era necessária, e surgiam as grandes teorias da conspiração. A vacinação passou a ser obrigatória em todo o território nacional após a aprovação de um projeto de lei.
Os governistas do início do século passado defendiam a vacinação da população, ao contrário do atual governo brasileiro, sob comando de Jair Bolsonaro. À época, os opositores do presidente Rodrigues Alves alegavam que a vacina não era confiável, impelindo as manifestações violentas da população do Rio. Revestidos de uma pseudo moralidade, os opositores alegavam que o chefe da família era desmoralizado, pois sua esposa e filha(s) eram obrigadas a se desnudarem perante estranhos para a aplicação da vacina.
Em novembro de 1904, ficou estabelecido a obrigatoriedade de atestado de vacinação para matrículas em escolas, acesso a empregos públicos, emprego nas fábricas, hospedagem em hotéis, viagem e casamento.
As manifestações contra a vacinação passaram a ser violentas, no entanto, foram condidas pelo governo.
Ao longo da história, as vacinas ajudaram a reduzir drasticamente a incidência de pólio, sarampo e tétano, bem como outras doenças. Atualmente, são consideradas o tratamento com melhor custo-benefício em saúde pública.
Desde a década de 70, quando foi criado o personagem Zé Gotinha, o Brasil se consolidou como uma das nações que coordenam eficientes sistemas públicos de vacinação pelo mundo.
Vacinação é proteção para todos
Para o dr. Carlos Divino, pediatra no Centro Médico Menino Jesus, em Ituiutaba, quem não se vacina, coloca a própria vida em risco e a de outras pessoas.
“Quem não se vacina, não coloca apenas a própria saúde em risco, mas também a de seus familiares e outras pessoas com quem tem contato, além de contribuir para aumentar a circulação de doenças. Tomar vacinas é a melhor maneira de se proteger de uma variedade de doenças graves e de suas complicações, que podem até levar à morte”.
Com o advento das vacinas, doenças que costumavam matar milhares de pessoas até a metade do século passado, tiveram uma drástica redução. As vacinas foram responsáveis pela queda de mortes de doenças como coqueluche, sarampo, poliomielite e rubéola.
“Mas, mesmo estando sob controle hoje em dia, essas doenças podem rapidamente voltar a se tornar uma epidemia caso as pessoas parem de se vacinar”, reforçou o médio Carlos Divino.
Eficácia e segurança das vacinas
A maioria das vacinas protege cerca de 90% a 100% das pessoas. O pequeno percentual de não protegidos se deve a muitos fatores – alguns estão relacionados com o tipo da vacina, outros, com o organismo da pessoa vacinada que não produziu a resposta imunológica adequada.
Quanto à segurança, é importante saber que toda vacina, para ser licenciada no Brasil, passa por um rigoroso processo de avaliação realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Esse órgão, regido pelo Ministério da Saúde (MS), analisa os dados das pesquisas, muitas vezes realizadas ao longo de mais de uma década, e que demonstram os resultados de segurança e eficácia da vacina obtidos em estudos com milhares de humanos voluntários de vários países. O objetivo é se certificar de que o produto é de fato capaz de prevenir determinada doença sem oferecer risco à saúde.
A pandemia de Covid-19, que já ceifou milhares de vidas, fez com que os cientistas de todo o mundo desenvolvessem esforços para garantir uma vacina eficiente. “Um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la”, assim como apontado por Edmund Burke, os mesmos debates sobre a eficiência da vacina passaram a fazer parte da pauta.
Dr. Carlos Portilho, médico no SPF do Bairro Semírames, em Capinópolis, reforça a importância da vacina.
Vacina evita mortes
As vacinas são poderosas ferramentas, com comprovada capacidade para controlar e eliminar doenças infecciosas que ameaçam a vida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que de 2 a 3 milhões de mortes a cada ano sejam evitadas pela vacinação e garante ser a imunização um dos investimentos em saúde que oferecem o melhor custo-efetividade para as nações. Isso significa que as vacinas possibilitam excelente resultado de prevenção a baixo custo, quando comparadas com outras medidas, o que é muito importante, principalmente nos países sem condições adequadas para realizar diagnóstico e tratamento de doenças.
Quanto mais pessoas são vacinadas, menor é a circulação de vírus e bactérias entre a população, logo, menos pessoas adoecem.
Para o dr. Carlos Divino, pediatra no Centro Médico Menino Jesus, em Ituiutaba, a vacinação é um ato de amor.
“A vacinação ajuda a prevenir doenças graves, existem vacinas para recém-nascidos e crianças, bem como para pré-adolescentes e adolescentes, adultos, idosos; e ainda para gestantes e todas tem sua eficácia, converse com seu médico sobre quais doses você e sua família precisam manter atualizadas. Proteja-se. Vacinar é, acima de tudo, um ato de amor.“