Diante de uma realidade em que 79% dos motoristas utilizam de forma irregular as 102.842 oportunidades de estacionamento rotativo diárias na capital, a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) lançou nesta terça-feira (26) três aplicativos para controlar a ocupação das vagas. No entanto, uma das funções dos apps, que seria democratizar o uso do espaço de estacionamento –, atualmente utilizado por cerca de 68 mil veículos por dia – não deve ser cumprida, conforme especialista.
Isso porque, agora, o motorista conseguirá ativar a renovação do uso de uma mesma vaga – o que é proibido – de onde estiver. Além disso, a tecnologia não avança em relação à fiscalização, que ainda precisa ser feita no local. Na terça-feira, policiais militares e guardas municipais da capital voltaram a multar. A fiscalização – que ficou suspensa por quase um mês – não estava sendo feita devido à falta de talões de papel nos 534 pontos de venda, o que, segundo a BHTrans, já foi resolvido.
Quem for usar o aplicativo pode baixá-lo na Play Store (Android) ou na App Store (iOS). Após a instalação, ele faz um cadastro e adquire quantos tíquetes virtuais – de R$ 4,40 (mesmo valor dos talões de papel) – desejar por meio de cartões de débito e crédito ou boleto bancário.
Ao estacionar em uma vaga rotativa, com o celular em mãos, o condutor ativa o tíquete, que reconhece o horário em que o procedimento foi realizado. Porém, ele não funciona por geolocalização nem exige que o condutor informe o local onde estacionou. Sem esse controle, o motorista pode renovar, de onde estiver, o tempo de permanência no local, o que acaba interferindo na essência da ideia do rotativo, que é permitir que vários condutores utilizem o espaço ao longo do dia. Segundo a BHTrans, na capital são 22.144 vagas físicas que, quando respeitado o tempo de permanência máximo, se transformam, pela rotatividade, em 102.842 oportunidades de estacionamento.
Análise. Na avaliação do consultor em transportes e trânsito Silvestre de Andrade, essa falha precisa ser corrigida, uma vez que os aplicativos deveriam fazer com que mais pessoas usassem o rotativo.
“Hoje, com o folheto, diversos motoristas deixam a chave do carro com um flanelinha, que fica responsável por trocar o Faixa Azul quando vence o tempo-limite ou até mesmo só coloca o talão no momento em que ele percebe a chegada da fiscalização. A implementação do sistema digital tem que modernizar essa questão e identificar a pessoa que está usando a mesma vaga repetidamente. Agora o motorista não vai nem precisar do flanelinha. Ele mesmo vai renovar pelo aplicativo, sem ter que ir até o carro”, criticou Andrade.
O presidente da BHTrans, Célio Bouzada, reconheceu que o funcionamento dos aplicativos ainda não é o ideal. No entanto, ele disse que melhorias serão feitas para aperfeiçoar o sistema tanto para os usuários quanto para a fiscalização: “A nossa ideia é dar um passo de cada vez. Saímos da inércia e agora já temos aplicativos”.
Talões
Venda. Segundo a BHTrans, as folhas do faixa azul ainda serão aceitas por tempo indeterminado. Mas informações extra-oficiais dão conta de que os talões param de ser vendidos em outubro.
Usuários desconfiam de sistema
No primeiro dia de funcionamento dos aplicativos do rotativo digital em Belo Horizonte, a reportagem circulou pelas ruas da Savassi, na região Centro-Sul, e conversou com motoristas, donos de bancas e até flanelinhas sobre o novo sistema.
A sensação geral é de desconfiança. O motorista Mauro Pires Jordão, por exemplo, já baixou um dos três aplicativos, mas não pretende usá-lo por enquanto. “Todo app, no começo, dá problema. Vou esperar mais uns dias e ver como vai ser”, disse.
Já George Giannarino, 41, dono de uma banca na avenida Getúlio Vargas, tem o receio de que os talões adquiridos por ele não sejam mais vendidos. “Se o app pegar, não sei o que fazer com esses folhetos”, afirmou. Um flanelinha, por sua vez, acredita que o app dará um fim a sua atividade ilegal. “Esse negócio vai ferrar com a gente”.
Aplicativo da prefeitura é seguro, diz Prodabel
Para garantir a segurança das transações pelos aplicativos e impedir que hackers e outras pessoas mal-intencionadas adquiram ilegalmente créditos para o estacionamento rotativo, a Empresa de Informática e Informação de Belo Horizonte (Prodabel), que criou o app da prefeitura, adotou o mesmo sistema utilizado pelas criptomoedas e que hoje é adotado por grandes bancos e empresas: o blockchain.
“É uma plataforma de código aberto, que qualquer um pode usar. A prefeitura não teve gastos com essa tecnologia, pois nossa equipe desenvolveu um sistema próprio para trabalhar com os apps”, salienta Leandro Garcia, presidente da Prodabel.
Segundo Garcia, apesar da confiabilidade do blockchain, a Prodabel implementou outros sistemas de segurança no servidor e até na interface do app, que não foram divulgados. Além dos aplicativos já disponíveis, outras 30 empresas participaram da licitação da prefeitura e podem lançar a qualquer momento um novo app.