Para cada criança ou adolescente à espera de uma família em Minas Gerais, existem cinco pessoas na fila de adoção, prontas para serem mães ou pais. Mas o principal motivo para essa conta não bater está nos próprios interessados em adotar, que exigem um perfil muito restritivo, contrário ao da maioria daqueles que lotam os abrigos: enquanto 81,9% das pessoas só aceitam menores com até 5 anos, 80,8% deles têm mais que isso.
Meninos e meninas pardas e negras, que têm irmãos ou possuem algum tipo de deficiência também são excluídas por muitos adotantes. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (25), no Dia Nacional da Adoção, quando também foi lançado “Três Vivas para a Adoção”, manual produzido pelo Movimento de Ação e Inovação Social, com o apoio do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), para lembrar que o filho ideal não existe e que adotar é se propor a amar.
Segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, atualmente há 1.001 menores à espera de adoção em Minas e 5.340 pretendentes no Cadastro Nacional de Adoção, onde estão os perfis de crianças e adotantes de todo o país. “Cerca de 70% a 80% das crianças estão fora das faixas de preferência dos casais, que preferem recém-nascidos, brancos e do sexo feminino. O principal obstáculo para a adoção é a restrição das pessoas”, diz a advogada especialista em direito de família, Juliana Vieira Lobato. “Quanto maior o coração para receber a criança, mais rápido é o processo”.
Uma queixa comum de adotantes é o excesso de burocracia do processo, que exige, por exemplo, participação em curso, entrevista e visita domiciliar. No entanto, segundo Juliana, o cuidado é necessário para resguardar a criança – o problema está na estrutura do Judiciário para cumprir os procedimentos. “É preciso haver exaustão nesses procedimentos para garantir o melhor interesse da criança. O que nós precisamos é de mais efetivo: juízes, promotores, assistentes sociais e psicólogos. É processo demais para gente de menos”, pontuou.
Exemplo. A aposentada Andreia Marzano Reis, 54, adotou as filhas Erica, 12, e Larissa, 11, e demorou quatro anos para conseguir a guarda definitiva da caçula. Mas garante que passaria por todas as dificuldades de novo, se necessário. “As pessoas falam que as crianças são sortudas, mas elas não têm ideia do que a gente ganha. É um amor que vai crescendo e fica de um tamanho que não dá para mensurar”, conta, sem deixar de se emocionar.
Para adotar
Onde ir. Em Belo Horizonte, os interessados em adotar devem procurar a Vara Cível da Infância e da Juventude, na avenida Olegário Maciel, 600, no centro da cidade.