A pandemia trouxe impactos no processo de adoção de crianças e adolescentes. Um dos principais desafios é justamente iniciar a aproximação entre quem busca um novo lar e a família ou a pessoa interessada em adotar em razão do distanciamento social necessário para preservar a saúde de outras crianças e adolescentes acolhidos nas instituições e dos pretendentes.
Em razão disso, o número de adoções concluídas diminuiu significativamente em Betim no ano passado, de acordo com dados do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Enquanto em 2019 foram 644 processos finalizados, em 2020, ano de pandemia, esse número caiu para 115, uma redução de 82%. Em contrapartida, o total de processos ainda em andamento cresceu 40,4%. Em 2019, foram 220 procedimentos em trâmite, e em 2020, esse número subiu para 323.
O professor e gestor de escola Ernando Jonas Ribeiro, 41, adotou três irmãos durante a pandemia, de 6, 7 e 9 anos. Dois processos já foram concluídos e um está ainda em tramitação. “A adoção já estava em meus planos desde jovem. Na minha opinião, quem quer adotar já carrega a chama da adoção no coração. Mas li a respeito, me preparei para isso e recebi apoio do Grupo de Apoio à Adoção (Gaabe Betim)”, contou Ribeiro, que ficou nove meses na fila de espera e há dez meses está com as crianças em casa.
Por causa da pandemia, ele foi conhecer as crianças só por meio de videochamadas até que, duas semanas depois, pode levá-los para casa de onde não saíram mais. “Tivemos uma grande empatia mesmo por videochamada. É claro que seria melhor se eu pudesse visitá-los pessoalmente, o que não foi possível por causa da pandemia. Mas ela também me possibilitou ficar o dia inteiro com eles”, contou Ribeiro, que está trabalhando de home office.
Segundo a referência técnica da Secretaria de Assistência Social Ana Leticia Pinheiro, em função da pandemia, foram necessárias adequações no processo de aproximação e convivência. “Diante da pandemia os contatos iniciais vêm sendo realizados de forma remota para evitar expor as crianças nas saídas e retornos para o abrigo”, disse.
À espera
Hoje, de acordo com o TJMG, há 41 crianças e adolescentes em abrigos de Betim, e 72 pretendentes a adotar – o total de interessados é maior porque nem sempre o perfil pretendido é o mesmo da criança que busca uma nova família.
Além da própria pandemia em si, outro grande desafio à adoção em Betim e em Minas de maneira geral, segundo o TJMG, é o reduzido quadro de técnicos judiciários – assistentes sociais e psicólogos – e o elevado número de processos em tramitação. De acordo com o TJMG, para incentivar a adoção e acelerar o trâmites dos processos, passaram a ser realizadas audiências virtuais e encontros online para proporcionar a aproximação entre o adotando e o adotante.
No que se refere aos processos de habilitação de pretendentes para adoção, o TJMG informou que disponibiliza o curso de preparação online para pretendentes. Já para a renovação das habilitações, a justiça usou a renovação automática das habilitações no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento SNA. “Evitou-se que as habilitações vencessem e os pretendentes deixassem de ser consultados para eventuais adoções”, informou o tribunal em nota.
Preservação dos laços
O caso do professor Ernando Ribeiro, que adotou três irmãos, se trata de uma adoção atípica, ou seja, que foge do perfil tradicional escolhido pelos pretendentes.
Em Betim, o TJMG não detalhou quantas adoções semelhantes foram realizadas, mas segundo a referência técnica que cuida dessa área, Ana Letícia Pinho, das 15 crianças com idades entre 0 e 12 anos, destituídas de suas famílias e que foram encaminhadas em 2020 para família substituta, seis faziam parte de grupo de dois irmãos. Na opinião dela, isso ajuda na “preservação dos laços”.
Gaabe incentiva adoção por lives
O Grupo de Apoio à Adoção de Betim (Gaabe), criado há quatro anos, buscou as redes sociais para disseminar a cultura da adoção neste momento. “Desde o primeiro mês da pandemia, o Gaabe vem se reinventando. Estamos produzindo conteúdo nas redes sociais e apresentando lives mensais com temas diversos, a fim de disseminar a cultura da adoção, demonstrando, inclusive, as dificuldades vivenciadas neste período”, afirmou a presidente da instituição, Roseli Chaves.
Durante a pandemia, segundo Roseli, várias famílias que participam do grupo de adoção em Betim iniciaram o processo de aproximação e já estão em fase de convivência familiar. “Acreditamos que o grupo tem sido uma importante via de acesso e informações para adoções seguras, legais e para sempre”, acrescentou Roseli.
E para celebrar o Dia Nacional da Adoção, o Gaabe promoverá uma live aberta ao público geral, no próximo sábado (29), às 16h, pelo seu Instagram (@gaabeoficial).