“Olha, Aloysio, eu não sei aonde é que nós vamos chegar, mas saber que vou chegar junto com você já é uma vitória.” A frase, dita pelo presidenciável Aécio Neves na última quarta-feira (27) ao seu vice, foi o mais perto que o tucano chegou de uma confissão pública sobre a hesitação que se instalou em sua campanha nos últimos dias.
Na noite anterior, havia recebido a confirmação do que suas pesquisas internas já apontavam: tinha perdido o segundo lugar na disputa para Marina Silva, que assumira a candidatura do PSB após a morte de Eduardo Campos.
Rebaixado ao terceiro posto, Aécio tenta evitar defecções precoces e o afastamento dos financiadores de sua empreitada. Tem dito sempre que confia em seu projeto e que as pesquisas vão mudar. a seu favor.
A exceção foi o evento em que, após ouvir uma fala exaltada de seu companheiro de chapa, o senador Aloysio Nunes (PSDB), fez o desabafo. Depois disso, não tirou mais a camisa do otimismo, ao menos em público.
Nos últimos dias, Aécio refez toda a estratégia da campanha. A partir da próxima semana, vai subir o tom contra a nova adversária e explorar na TV o que considera fragilidades de Marina, sem descuidar das críticas à presidente Dilma Rousseff (PT).
O tucano se apresentará como a “alternativa segura” entre a presidente que “fracassou” e uma candidata “cheia de boas intenções”, mas ainda “incipiente” para executar suas ideias.
Na sexta-feira (29), a notícia de que o país entrou em “recessão técnica” deu força a esse argumento. No comitê de Aécio, a síntese do discurso de reação é: “Dilma levou o país a essa situação. Marina não tem experiência para tirar. Aécio tem”.
A aliados, o tucano tem dito que espera uma “retomada da racionalidade” no eleitorado após o dia 15 de setembro. Até lá, avalia, o cenário estará contaminado pela exposição que a morte de Campos deu a Marina.
“O Arminio [Fraga, economista que, se eleito, Aécio promete nomear ministro da Fazenda] passa dia e noite com 30, 40 caras analisando todos os dados, todos os índices. Uma hora isso vai fazer diferença”, desabafou recentemente com um aliado.
Aécio tem ouvido muitas avaliações sobre a “onda” Marina. Há dez dias, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso manifestou preocupação com o caráter “autônomo” com que ela faz política. FHC disse em reunião com aliados que Marina “salta instituições” e independe de estrutura partidária. Um problema para Aécio.
INTERVENÇÃO
O presidenciável tenta reverter o quadro promovendo um “freio de arrumação” nos dois maiores colégios eleitorais do país: São Paulo e Minas Gerais, seu reduto político. Na próxima semana, o foco será a reorganização em Minas. Seu candidato ao governo, Pimenta da Veiga (PSDB), está 17 pontos percentuais atrás de Fernando Pimentel (PT).
Aécio tem sido cobrado a dar mais atenção ao Estado, para evitar derrota dupla no primeiro turno: a nacional e a mineira. Sua equipe, no entanto, não quer que ele pare de viajar e defende mudanças na comunicação de Pimenta. Aécio aparece pouco na propaganda do aliado.
O presidenciável tenta, ainda, manter o PSDB paulista ao seu lado. Os tucanos do Estado sempre representaram o maior flanco de resistência à sua candidatura.
Agora que Marina lidera as intenções de voto em São Paulo, Aécio teme um desembarque gradual de sua candidatura, especialmente pelo histórico entre ele e os principais líderes da sigla.
Em 2006 e 2010, o governador Geraldo Alckmin e José Serra, respectivamente, concorreram ao Planalto e creditaram parte da derrota ao “pouco empenho” de Aécio.
Agora, um dia após as pesquisas revelarem o mau momento de Aécio, Alckmin exibiu vídeo do vice de Marina em sua propaganda na TV. O mineiro não reagiu. Ele, que surfava quando jovem, antes de o avô Tancredo o arrastar para a política, encontrou refúgio num mote do passado: “Vou furar essa onda”.