Em agosto do ano passado, a revista Time publicou uma das capas mais ousadas de sua história. Mostrava a bela jovem Aisha, de 18 anos, mutilada por seu marido, um talibã “ofendido em sua honra”, no Afeganistão. A visão do rosto jovem desfigurado causava um misto de repulsa e pena, mas era sem dúvida uma denúncia poderosa das condições terríveis a que mulheres podem ser submetidas no regime talibã.
Informamos sobre o assunto e informou que ela tinha embarcado para os Estados Unidos para uma cirurgia, com o objetivo de reconstituir seu nariz e orelhas, arrancados quando tentou fugir do marido arranjado por sua família.
Agora, ela posou para a imprensa internacional com uma prótese temporária, enquanto aguarda uma solução mais permanente, que exige cirurgia.
Nesses momentos, eu penso por que todos nós às vezes reclamamos e nos deprimimos por motivos absolutamente fúteis. O sorriso dessa moça – e seu claro orgulho por finalmente poder parecer uma pessoa normal, sem provocar no próximo um olhar de choque – é comovente.
A prótese dá uma ideia de como Aisha ficará após a operação. Quem está financiando a cirurgia é a Fundação Grossman Burn, com sede em Los Angeles.
Seu sobrenome nunca foi revelado. Sua história, sim, para o mundo inteiro. E é aterradora e revoltante. Aisha foi dada pelo pai a um terrorista Talibã quando tinha apenas 12 anos de idade, pouco mais que uma criança. Foi vendida em troca de uma dívida. A família do marido dela a forçou a dormir no estábulo com os animais. E, anos depois, quando a menina tentou fugir de um cotidiano de humilhações, seu marido a perseguiu e, como castigo, a mutilou. Ela desmaiou e, no meio da noite, despertou em meio a um líquido viscoso. “Quando abri meus olhos, não podia enxergar nada, por causa do sangue”, declarou à repórter da CNN Atia Abawi.
Aisha foi abandonada na montanha. Achavam que ela morreria. Mas ela conseguiu, apesar de terrivelmente ferida, chegar à casa de seu avô. E foi tratada durante dez semanas num posto médico administrado por americanos. Transportada para um refúgio secreto em Cabul, capital do Afeganistão, foi levada enfim para os Estados Unidos, abrigada por uma família americana.
Espera-se que sua reabilitação dure cerca de oito meses.
Segundo o Dr Peter Grossman, seu nariz e suas orelhas serão reconstituídas com osso, pele e cartilagem extraídos de outras partes de seu próprio corpo. A mulher do médico disse que Aisha se lembra de seus tempos de escravidão toda vez que se olha no espelho, mas hoje já é capaz de sorrir e, quem sabe um dia, poderá superar toda a injustiça e crueldade de que foi vítima – num momento em que era uma adolescente, com todos os mesmos sonhos de quem um dia quer ser feliz, amar e ser amada.
De acordo com estimativas das Nações Unidas, quase 90% das afegãs sofrem algum tipo de abuso doméstico.
Os afegãos afirmam que tudo isso não passa de propaganda americana, porque, pela lei sagrada islâmica, cortar nariz e orelhas de pessoas seria ilegal.