Enquanto Marina Silva (PSB) junta a retórica econômica tucana a uma plataforma social ambiciosa, restou à presidente-candidata Dilma Rousseff (PT) fazer reflexões sobre as dificuldades de ser governo.
Em contraste com a agenda desenvolvimentista de quatro anos atrás, que detalhava em minúcias as milhares de obras a serem feitas, a petista deixou as promessas de lado no debate entre os presidenciáveis.
Alvo preferencial de todos os adversários, Dilma recomendou pés no chão: falou de limitações orçamentárias, da crise internacional e da necessidade de barganhar apoios no Congresso.
Inédito em campanhas petistas ao Palácio do Planalto, tamanho realismo nasceu da necessidade de improvisar um contraponto à ascensão de Marina e seu programa de utopias e generalidades.
SAÍDA PELA TANGENTE
Questionada sobre a contradição entre promessas de austeridade fiscal e de mais gasto social, a candidata abrigada no PSB mimetizou a saída pela tangente já adotada por Aécio Neves (PSDB).
Sem dar detalhes, Marina disse que, com “as escolhas corretas”, haverá mais eficiência na gestão do Orçamento.
A escolha de Dilma foi ampliar despesas em educação e transferência de renda, sacrificando o equilíbrio das contas públicas e o controle da inflação.
É difícil imaginar como promessas de mais gastos corrigiriam essa opção.
“Não são promessas”, disse Marina, “são compromissos”. Mas também há compromissos de restabelecer o cumprimento das metas de inflação e de aperto fiscal.
A minoria influente que comanda as operações no mercado financeiro, aparentemente, acredita que os segundos compromissos vêm na frente: a Bolsa de Valores sobe com a alta de Marina nas recentes pesquisas de intenção de voto.
Sintomaticamente, Aécio –o candidato naturalmente mais identificado com a agenda do mercado– limitou seus questionamentos à solidez da candidatura marinista. Ele se disse o mais indicado a conduzir uma política econômica “confiável”.
SEGUNDA VIA
No primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os economistas tucanos continuaram dando as cartas no Ministério da Fazenda e no Banco Central, mesmo sob ataque petista. Num governo do PSB, aparentemente, não haveria o incômodo da hostilidade.
“Tu és a segunda via do PSDB?”, perguntou Luciana Genro (PSOL) a Marina, com a sinceridade de quem vai continuar sendo oposição. Na resposta, afagos a Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao final, pouco foi dito de concreto sobre o que, afinal, Dilma fez de errado –fora as críticas à gestão da Petrobras, que não bastam para explicar a prostração da economia e a alta da inflação.
Marina quis que a própria petista, a quem criticou por não assumir erros, se encarregasse da tarefa. “Pode parecer que estou plenamente satisfeita. Não estou”, disse a presidente, no mais perto que chegou da autocrítica.