A Andrade Gutierrez, segunda maior empreiteira do país, divulga nesta segunda-feira (9) um “pedido de desculpas ao povo brasileiro” por ilegalidades praticadas em obras públicas investigadas pela Operação Lava Jato.
No texto intitulado “Pedido de desculpas e manifesto por um Brasil melhor”, que será publicado em diversos jornais, incluindo a Folha, a empresa afirma que reparará os danos e apresenta oito “propostas para um Brasil melhor”, referentes a licitações e contratos para obras públicas.
Na última quinta (5), o juiz federal Sergio Moro, que conduz a Lava Jato em Curitiba, homologou o acordo de leniência da empreiteira –uma espécie de colaboração premiada para empresas, com objetivo de abrandar punições, como a proibição de contratar com o poder público. A empreiteira vai pagar indenização de R$ 1 bilhão, a maior da Lava Jato até agora.
Ex-executivos da empresa também já haviam tido seus acordos de delação premiada homologados em abril pelo STF (Supremo Tribunal Federal) –instância responsável por investigar políticos citados que têm foro privilegiado.
“Reconhecemos que erros graves foram cometidos nos últimos anos e, ao contrário de negá-los, estamos assumindo-os publicamente […] É preciso aprender com os erros praticados e, principalmente, atuar firmemente para que não voltem a ocorrer”, diz o anúncio da Andrade.
A empresa afirma que, desde dezembro de 2013, está implantando um “moderno modelo de compliance [transparência], baseado em um rígido Código de Ética e Conduta”.
“Acreditamos que a Operação Lava Jato poderá servir como um catalisador para profundas mudanças culturais, que transformem o modo de fazer negócios no país. Esperamos que esse manifesto contribua para um grande debate nacional acerca da construção deste Brasil melhor, ajudando na eliminação de alguns de seus piores defeitos, como o desperdício de dinheiro público e a impunidade”, diz o texto da empreiteira.
Por fim, propõe, entre outras coisas, a obrigatoriedade de estudo de viabilidade técnica e econômica antes do lançamento do edital de uma obra, a obrigatoriedade de obtenção de todas as licenças ambientais antes de iniciar uma obra e a aferição, por empresa especializada, dos serviços executados.
A Andrade aceitou pagar indenização em novembro de 2015, após meses de negociação sobre o acordo de leniência com os procuradores que atuam na Lava Jato.
Nos acordos de delação firmados por seus ex-executivos, que permanecem sob sigilo no STF, foram informados pagamentos de propina em obras da Copa do Mundo, da Petrobras, da usina nuclear de Angra 3, da hidrelétrica de Belo Monte e da ferrovia Norte-Sul.
Segundo a delação de Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, a empreiteira fez doações legais às campanhas de Dilma Rousseff (PT) e de seus aliados em 2010 e 2014 utilizando propinas oriundas de obras superfaturadas da Petrobras e do sistema elétrico.
A Andrade também usou um contrato com o instituto Vox Populi para pagar pesquisas usadas e não declaradas pela equipe de comunicação da campanha da reeleição de Rousseff em 2014 –o que configura caixa dois.