O anúncio do ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, de um remédio com 94% de eficácia no tratamento do coronavírus, aumentou ao mesmo tempo as esperanças e as incertezas. Trata-se da nitazoxanida, base de um vermífugo muito usado em crianças. Mas, como os testes estão sendo feitos in vitro, não há ainda resultados para garantir o sucesso. “Pode dar certo, mais provável visto os testes anteriores, ou não”, escreveu Pontes no Twitter.
Depois da experiência recente com o anúncio da cloroquina como possível medicamento no combate ao coronavírus ter provocado uma corrida às farmácias, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se antecipou e incluiu o remédio na lista de substância controladas. “Toda prescrição de medicamento à base de nitazoxanida agora precisa ser feita em receita especial de duas vias”, diz a resolução.
Com isso, as farmácias ficam obrigadas a reter a receita. “O mais importante é que as pessoas aguardem os resultados dos testes. A população precisa ter consciência e buscar informações em fontes oficiais”, afirma o farmacêutico Saulo Silveira Moreira, que atualmente faz uma especialização em farmácia clínica na Faculdade de Ciências Médicas.
Moreira explica que a substância, embora seja usada para combater vermes, pode atacar vírus. No entanto, ele destaca que só os testes vão trazer segurança. “A nitazoxanida interfere no metabolismo do verme, impedindo que ele consiga se multiplicar para sobreviver. Também é indicado em casos de diarreias provocadas por rotavírus. Por isso, pode ser que ele consiga agir da mesma forma em um vírus. É preciso esperar os resultados dos testes em humanos, porque testes in vitro não são os mais confiáveis quando se trata de medicamentos”, afirma o farmacêutico.
Segundo publicação na coluna da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, cientistas apontam que nitazoxanida só desenvolveu atividade antiviral adequada em doses altas, no entanto, se mostrou mais tóxica do que a cloroquina.
Transição
Para evitar que os tratamentos em curso sejam interrompidos, até o dia 15 de maio as pessoas poderão continuar comprando os medicamentos (nitazoxanida) com receita comum. Em todos os casos, o farmacêutico está obrigado a registrar na receita a comprovação do atendimento.
Base na ciência
O infectologista Adelino de Melo Freire Júnior, diretor técnico-científico do Hospital Felício Rocho, explica que o uso do medicamento pode fazer sentido porque a nitazoxanida tem efeitos antivirais in vitro já documentados. “Já foi testada pra MERS (síndrome respiratória grave) e febre amarela. Como é uma droga conhecida e um perfil de segurança favorável, seu uso como tentativa de tratamento fica favorecido”, avalia.
Segundo o infectologista, a melhor forma de comprovar o efeito de um medicamento é por meio de estudos que comparem o uso da medicação com o placebo. “O ideal é nem paciente nem médico saiba se está usando a droga em questão ou o placebo. A seleção é feita de forma randomizada. Normalmente são feitos em vários locais ao mesmo tempo. E, dependendo dos números de pacientes e do resultado esperado (cura de uma doença aguda, como no caso da Covid), é possível ter resultados preliminares em algumas semanas”, explica.
Fonte: O Tempo