A visiblidade que lideranças de movimentos sociais têm ganhado nos grandes protestos dos últimos meses contra a presidente Dilma Rousseff deve gerar uma série de rostos novos nas telas das urnas de votação nas próximas eleições. Responsável pela convocação dos últimos três protestos pelo impeachment no País, o Movimento Brasil Livre (MBL) possui até lista com nomes dispostos a concorrer a cargos legislativos municipais, estaduais e federais a partir de 2016.
“A diretriz do MBL é justamente a de que diversas lideranças, que acabaram por se tornar nomes conhecidos em suas cidades, especialmente no interior, disputem cargos já nas próximas eleições. E faremos campanha para essas pessoas”, afirma ao iG Kim Kataguiri, co-fundador do movimento. “Também não descarto me candidatar no futuro. Muita gente tem me pedido, inclusive, para sair como vereador já no ano que vem. Só não tenho tempo para me dedicar a isso neste momento.”
Quando a carreira não vem de família, historicamente políticos costumam se iniciar na área a partir de movimentos sociais. Os casos são inúmeros. Nomes fortes do PSDB como José Serra tiveram sua origem neles. Hoje preso por corrupção na Petrobras, o co-fundador do PT e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu também – assim como Dilma. Ambos os partidos também nasceram da união de grupos opositores formados durante a ditadura militar.
Os anti-Dilma
Ao lado do Vem Pra Rua e do Revoltados Online, o MBL se tornou o protagonista dos atos defensores do impeachent da presidente no início do ano, quando convocou o primeiro grande ato contra Dilma realizado em várias cidades do Brasil, em março. De lá para cá, o número segue se mantendo um recorde entre os protestos de rua anti-PT. Em março, somente na Avenida Paulista, tradicional ponto de manifestações de São Paulo, 210 mil pessoas compareceram, de acordo com cálculos do Datafolha. Apesar de bastante inferiores, os números dos protestos posteriores, em abril e agosto, também foram significativos.
Formado por jovens com idade média entre 20 e 30 anos, o MBL abraça uma bandeira de política econômica liberal com discursos radicais em prol do livre mercado, pela ampla privatização das empresas estatais – como a Petrobras – e de forte ataque a seus opositores. Em seus protestos, já chamaram petistas e parlamentares esquerdistas, como Jean Willys (PSOL-RJ), para a briga.
Diferente do Vem Pra Rua, cujos atos são marcados por músicas e gritos de ordem, e do Revoltados, que foca suas falas em teorias conspiratórias, o grupo concentra suas manifestações em horas de discursos revezados entre seus coordenadores, sempre realizados no palanque que montam em seus caminhões de som.
Dos três protagonistas dos atos pelo impeachment, é o único grupo que desde o início abraça o “Fora Dilma”. Até o ano passado, o Revoltados, criado como uma comunidade de caça a pedófilos na internet, era defensor da intervenção militar no País; o Vem Pra Rua, por sua vez, cujos coordenadores apoiaram Aécio Neves nas eleições do ano passado, sequer pedia a saída da presidente, o que mudou após os grupos quase racharem às vésperas dos atos de 14 de abril. Ambos os movimentos rechaçam ter pretensões políticas.
“Não tenho qualquer intenção de ser candidato. E de forma alguma faríamos campanha para um candidato, mesmo que fizesse parte do movimento”, afirma Rogério Chequer, principal liderança do Vem Pra Rua. “Poderemos ter mais para frente listas com nomes que poderíamos apoiar em eleições, mas nos limitaríamos a isso. Somos suprapartidários.”
Partido político
Como consequência à campanha que têm feito pelo impeachment, as lideranças do MBL se veem a cada dia com maior contato com deputados da oposição que apoiam suas teses pela saída da presidente. Assim, para o grupo, ao contrário do que discursam outros movimentos, não seria um empecilho o lançamento de candidaturas por partidos de oposição variados, como o DEM, o PSC e o próprio PSDB.
“Eu gostaria muito de ver o MBL como uma sigla, até porque nenhum dos 33 partidos no Brasil defende nossas ideias”, afirma Renan Santos, outro dos co-fundadores do movimento. “É um processo que já fomos atrás, sabemos como funciona. O problema é que é tudo muito proibitivo, o tempo de aprovação é longo . É uma limitação democrática.”