Construída em 2022, a área de escape do Anel Rodoviário de Belo Horizonte, localizada na altura do Km 541 da BR-040, próximo ao Bairro Betânia, completa um ano de funcionamento na próxima segunda-feira. Desde sua inauguração, a estrutura já evitou 22 acidentes, sendo nove envolvendo caminhões e ônibus e 13 com veículos de passeio. Não houve feridos em nenhum dos casos de acionamento da estrutura, aponta a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). O último deles foi na manhã de ontem, quando um caminhão carregado com terra perdeu os freios e entrou na plataforma de segurança, evitando o que poderia ter se transformado em tragédia.
O dispositivo de segurança pode ser considerado um “anjo da guarda” para os motoristas que, diariamente, passam pelo Anel Rodoviário. Com problemas mecânicos, os condutores podem utilizar o espaço de quase 400 metros para evitar um acidente mais forte. Segundo a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), entre 1º de agosto de 2021 e 25 de julho de 2022, 107 acidentes com vítimas foram registrados no trecho da área de escape. Se pegarmos os dados entre agosto de 2022 e 25 de julho deste ano, a partir da construção da área de segurança, o número cai para 66, uma diminuição de 38,31%.
A obra para a construção da estrutura durou cerca de nove meses e, apesar de ficar em uma rodovia federal, custou cerca de R$ 3,5 milhões aos cofres da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). O local foi escolhido após estudos realizados pela BHTrans. A área de escape fica exatamente antes do trecho conhecido como “descida do Betânia”, local de vários graves acidentes nos últimos anos. A “piscina de concreto” tem 100 metros de comprimento e várias camadas de brita e esferas de cerâmica, que formam uma rampa. Ela garante uma desaceleração rápida do veículo em pane, permitindo que parem em uma emergência.
De acordo com o engenheiro José Maurício Pinto, assessor da Diretoria de Sistema Viário da PBH, o primeiro ano de utilização da área de escape pode ser considerado um sucesso. “Ela é bem localizada, em um ponto ideal. Sabendo que o trecho tem uma área para o condutor que tem problema utilizar, os outros motoristas se sentem mais seguros. Neste primeiro ano, nenhum motorista que precisou entrar na área de escape se feriu e até alguns dos veículos conseguiram sair do local rodando (sem necessidade de guincho), sem maiores danos. Consideramos um enorme sucesso”, disse.
Já que nem todos os motoristas são familiarizados com a região, a BHTrans montou um esquema de sinalização especial para facilitar o entendimento de quem passa pelo local. “A sinalização criada também é importante. O projeto foi elaborado justamente com isso. A rodovia conta com vários avisos para informar os motoristas. Placas, telões, sinais luminosos e um grande display que mostra para os condutores onde está a área de escape”, explicou José Maurício.
Especialistas concordam com a funcionalidade do trecho. O engenheiro do transporte Frederico Augusto considera positivo o balanço deste primeiro ano de utilização do espaço. “Diminuiu o risco de acidentes porque agora temos um dispositivo a que o motorista pode recorrer quando está em um momento de emergência. Se a gente pegar pelo tanto de acidente no Betânia e o número de utilização da área, realmente é um dado alto. Mas mostra a segurança do dispositivo”, explicou.
Frederico concorda com uma crítica que foi feita por outros especialistas no último ano: a área de escape deveria ter ser construída um pouco mais abaixo. Com uma sequência de descidas na região do Betânia, um veículo pode vir a ter problemas após passar pela área. “Entendo que ela deveria estar mais embaixo no Anel. Ainda temos uma segunda descida no Betânia e mais uma abaixo, e naquele ponto pode acontecer uma nova perda de freio”, disse.
Para a prefeitura, os estudos feitos previamente à construção apontam que a estrutura foi construída no trecho mais apropriado. “O local é ideal. Quando contratamos o projeto, procuramos a empresa que já tinha uma experiência. Sugerimos três pontos para fazer um estudo e acabou que a ideia da empresa coincidiu com a nossa indicação. No outro local, um pouco mais abaixo, temos vários fatores que não indicavam a construção como o fato de ser já no final da descida. Caso fosse construído ali, não teria mais tempo para evitar um acidente”, explicou o assessor da PBH.
OUTROS CASOS
O incidente da manhã de ontem se somou a outros oito envolvendo caminhões e ônibus desde a inauguração da estrutura. Segundo Afrânio Batista Dias, de 67 anos, dono da empresa responsável pelo caminhão, o motorista informou que passou por cima de um objeto na pista que arrebentou a mangueira de freio. O caminhão havia saído de Congonhas, na Região Central do Estado, e seguia sentido Bairro Água Branca, em Contagem, na Região Metropolitana de BH.
Afrânio contou à reportagem que, em 2019, um caminhão da sua empresa sofreu um grave acidente no local, que poderia ter sido evitado caso a área de escape já tivesse sido construída. “É uma coisa que já poderia ter sido feita há vários anos. Precisava até de outras ali. Em 2019, aconteceu a mesma coisa com um caminhão nosso, que acabou perdendo o freio e se acidentou. A região é um açougue, se não fosse a área de escape, várias pessoas poderiam ter morrido hoje”, disse.
Em junho deste ano, a área de escape foi utilizada três vezes em apenas três dias. Em uma delas, na manhã do dia 18, uma carreta que transportava uma chapa de ferro teve problemas no freio. A carga pesava cerca de 30 toneladas. A carreta vinha de Ouro Branco, na Região Central de Minas Gerais, com destino a Sabará, na Região Metropolitana de BH. O veículo só parou após bater em uma árvore no fim da pista do equipamento de segurança.
Três dias antes, em 15 de junho, um guincho havia perdido o freio e também teve que acessar a “piscina de concreto” para evitar um acidente. O veículo estava em alta velocidade e poderia causar um grave acidente.
MOTORISTAS APROVAM
Quem passa pelo local aprova o equipamento de segurança. Além da queda nos números de acidentes na região, a sensação de segurança aumentou para os motoristas. “Passo quase todos os dias, voltando do trabalho, e desde o ano passado a gente se sente um pouco mais seguro. Tem o trânsito nos radares perto do Betânia e sempre ocorriam os acidentes lá. Dá para ver como isso diminuiu”, contou o veterinário Danilo Igor Barbosa, de 25.
A opinião é a mesma do engenheiro João Pedro Mazzoni. “A gente fica com mais segurança. Apesar de ainda achar um pouco perigoso, particularmente eu evito o local em horários de maior movimento, mas vejo com bons olhos a área de escape, realmente ajuda muito”, disse.
A Prefeitura informou que não há planos para construir uma nova área de escape no Anel Rodoviário, mas que está sempre monitorando os principais pontos para atuar em casos de acidentes.
SAÍDA DE EMERGÊNCIA
Relembre casos em que a área de escape do Anel foi utilizada
» 16/8/2022 – A área de escape foi utilizada pela primeira vez por um caminhão que perdeu os freios. A carreta transportava 26 toneladas de minério.
» 11/9/2022 – Uma carreta perdeu os freios e o motorista usou o local para conseguir parar. O caminhão estava carregado com 26 toneladas de móveis.
» 14/9/2022 – Um SUV com tração nas quatro rodas ficou atolado, porque o veículo deu defeitos no momento em que passava pelo local.
» 29/9/2022 – Um caminhão carregado de óleo vegetal perdeu os freios e entrou na área para não bater nos carros.
» 17/10/2022 – Um caminhão-baú de pequeno porte precisou da área.
» 21/10/2022 – Um carro de passeio entrou na área por engano, ficou preso e foi abandonado no local.
» 27/2/2023 – Um ônibus de turismo com 41 passageiros perdeu o freio na descida e entrou na pista. Ninguém ficou ferido.
» 15/6/2023 – Um caminhão com escada entrou na área.
» 18/6/2023 – Uma carreta que transportava uma chapa de ferro teve que usar a área de escape. Ela só parou após bater em uma árvore no fim da pista do equipamento de segurança
» 27/7/2023 – Caminhão que transportava terra perde os freios e se socorre na “piscina de concreto”
Fonte: Arquivos do EM