A luta do presidente Michel Temer (PMDB) para se manter no poder, depois de ser alvo de duas denúncias por corrupção feitas pela Procuradoria-Geral da República, tem encontrado suporte fundamental nos deputados federais de Minas Gerais. Foi deles o maior número de votos na Comissão de Constituição e Justiça, na última quarta-feira, para barrar o prosseguimento da nova acusação por obstrução de Justiça e organização criminosa. Os mineiros também haviam sido os campeões de votos a favor do presidente quando o plenário apreciou, em agosto, a primeira denúncia apresentada pelo ex-procurador Rodrigo Janot. A fidelidade ao Planalto se mantém mesmo com as constantes cobranças por mais recursos para o estado.
A bancada de Minas Gerais deu oito votos favoráveis a Temer na CCJ, a começar pelo do relator, deputado Bonifácio Andrada (PSDB). Além dele, votaram contra o prosseguimento da denúncia os deputados Bilac Pinto e Edson Moreira, do PR, Luis Tibé (Avante), Marcelo Aro (PHS) e Paulo Abi-Ackel e Rodrigo de Castro, do PSDB. O delegado Edson Moreira, inclusive, foi recrutado para substituir um colega na comissão e engrossar os votos favoráveis ao presidente Temer. Outra mineira, a deputada Raquel Muniz (PSD), também chegou a ser cogitada para a função, mas o partido dela acabou optando por outra solução.
Minas Gerais ficou a frente de São Paulo, que deu sete votos a Temer na CCJ. Os demais estados deram de um a 3 votos. A própria CCJ é presidida pelo mineiro Rodrigo Pacheco (PMDB), a quem coube articular as duas votações. Na primeira denúncia, quando o relator Sérgio Sveiter (PMDB/RJ) fez relatório contrário a Temer e o parecer foi rejeitado, Pacheco nomeou o mineiro Paulo Abi-Ackel para fazer novo texto, pedindo a suspensão da denúncia contra o presidente.
Ao chegar ao plenário em agosto, Minas Gerais também deu o maior placar favorável na primeira denúncia contra Temer: foram 33 votos a 18 pelo arquivamento da denúncia. Mais uma vez, o estado ficou à frente de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná e todos os demais estados brasileiros. Na proporção, o resultado também foi maior já que o estado tem 53 parlamentares, enquanto os paulistas ocupam 70 cadeiras.
Segundo o deputado Paulo Abi-Ackel, que relatou a primeira denúncia, a postura da bancada mineira se justifica pela responsabilidade. “Os mineiros são responsáveis e fazem política com as virtudes de grandes articuladores políticos do passado, como Tancredo. Não se deixam influenciar por redes sociais quando está em jogo a estabilidade do país, o desemprego e a necessidade de se fazer reformas”, disse. Por redes sociais, Abi Ackel disse se referir a “movimentos meio robotizados de perseguição à liberdade do parlamentar”, que, segundo ele, afetam deputados de outros estados. O tucano disse que votou contra a denúncia porque “não admitiria que o presidente fosse destituído por um flagrante forjado pela PGR”.
Abi-Ackel negou que Temer desprestigie Minas Gerais, apesar de o estado não ter nenhum ministério e, recentemente, ter perdido a batalha contra a venda de usinas da Cemig. Para ele, as perdas do estado são “decorrência de uma série de fatores, mas não de uma má vontade (de Temer) com os mineiros”. O tucano disse que situações como a venda da Cemig são “herdadas do governo do PT (do qual Temer era vice-presidente)”.
Ameaça
Um dos dois únicos mineiros que votaram contra Temer na CCJ (o outro foi Patrus Ananias (PT), o deputado Júlio Delgado (PSB) disse se envergonhar da bancada mineira. “Na primeira denúncia, dos cinco estados mais populosos do país (SP, RJ, MG, RS e BA), Temer só ganhou em Minas. A bancada tinha de estar mais sintonizada com a vontade popular, que deseja não só o afastamento do presidente como uma investigação para que ele possa responder às denúncias. Infelizmente a bancada vai no caminho inverso, sendo puxada por outros sentimentos, como desejo de emendas, cargos e outras benesses”, disse. Delgado disse esperar que os deputados mineiros não repitam o feito da primeira denúncia na votação em plenário, quando o estado deu a Temer o maior percentual de aprovação.
O coordenador da bancada mineira, Fábio Ramalho (PMDB), disse que a bancada deve manter a posição de votar a favor de Temer no plenário. “Será a mesma coisa no plenário, até porque o Bonifácio Andrada é muito respeitado pelos colegas e não ia fazer um relatório que não fosse baseado na lei”, disse. Ramalho disse que a bancada mineira tem estado ao lado do governo independentemente do tratamento dado ao estado por uma questão de “sobrevivência do governo” e “responsabilidade”.
Sobre a falta de atendimento às demandas de Minas, Ramalho afirmou que a resposta será na votação do orçamento da União. Em nova “ameaça” ao governo Temer, a bancada apresentou a Temer uma lista de pedidos que inclui verba para a BR 381 e R$ 1 bilhão para a saúde como forma de compensar a perda das usinas da Cemig. Os deputados dizem que se não forem atendidos não vão aprovar o orçamento.