Um barão de Minas, filho de uma escrava, poderá engrossar a lista de descendentes nunca reconhecidos de D. Pedro 1º. A suposta paternidade é investigada por professores do Vale do Rio Doce, divisa com o Espírito Santo.
Conhecido por suas aventuras amorosas, o imperador reinou de 1822 a 1831, quando fugiu para Portugal. Nesse período, deixou inúmeros filhos país afora.
O novo candidato a herdeiro é o fazendeiro Anacleto Corrêa de Faria, nascido em 1819 e nomeado barão de Itaperuna justamente pelo primogênito D. Pedro 2º.
O assunto é fruto de pesquisa do historiador Flavio Mateus dos Santos e recorrente entre descendentes do barão. Para eles, o título foi dado por conta da ascendência nobre.
A possibilidade é considerada “bastante plausível” por especialistas em história do período. “D. Pedro era um coelho, um homem de muitas mulheres”, afirma, aos risos, a historiadora Mary del Priore. “Só no Arquivo Nacional há registro de 40 filhos bastardos dele”. Ela aponta, no entanto, que o título também pode ter sido comprado.
Morto em 1903, o barão recebeu a condecoração e terras do império localizadas no Vale em 1889, pouco antes da proclamação da República. Oficialmente, ele foi agraciado pela participação na Guerra do Paraguai (1864-1870).
Mas Flavio Mateus, autor de livros sobre revoltas separatistas na região, vai mais longe. Ele diz que Anacleto nasceu de uma relação do imperador com uma escrava e, por isso, teria sido transferido pela Corte à cidade mineira de Muriaé, próxima ao Rio, e adotado por um comerciante.
Já em meados de 1880, conseguiu uma audiência com Pedro 2º para cobrar seus supostos direitos. Documentos apontam que, ao ser agraciado, ele vendeu antigas propriedades e se mudou para a região onde ficavam suas novas terras.
O historiador considera que uma série de movimentos armados nessa região, após a proclamação da República, podem ter influência dos laços do barão de Itaperuna com a família real. “Como herdeiro, Anacleto era um símbolo da monarquia”, diz Flávio, que prepara uma tese de doutorado sobre o tema.
A pesquisadora Isabel Lustosa, da Fundação Casa de Rui Barbosa, lembra que Pedro 1º reconheceu como filhos ilegítimos apenas os nascidos da marquesa de Santos, da baronesa de Sorocaba e da madame Saisset.
Uma das descendentes do barão, a médica Heleny Machado fez uma pesquisa de nove anos sobre a árvore genealógica da sua família e diz que os rumores sobre a origem de Anacleto são recorrentes, mas não comprovados.
O túmulo do barão de Itaperuna ainda existe no distrito de Santo Antônio do Manhuaçu, em Caratinga. Fica em um cemitério simples, mal cuidado e com poucos traços de realeza.
Folha de S. Paulo / José Marques