A Polícia Civil apresentou na manhã desta quarta-feira (11) três suspeitos de matar um adolescente de 16 anos, no Bairro Santa Fé, em Goiânia. De acordo com o delegado Valdemir Pereira da Silva, adjunto da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), responsável pelo caso, a vítima, que era usuária de drogas e tinha dívidas com traficantes, foi morta em “um tribunal do tráfico”. “O garoto foi julgado e torturado por cerca de 4 horas, com pauladas e chutes, até ser morto a facadas”, destacou.
O crime aconteceu no último dia 2 de março, em uma área conhecida como Mata do Muro Branco. De acordo com a Polícia Civil, Natanael do Vale, 20 anos, levou a vítima até o local do crime para tirar satisfações sobre comentários que teriam sido feitos pelo menor de que ele era um traficante de drogas reincidente. Além disso, a vítima tinha dívidas com o suspeito.
“Ele levou o menor até o local e o questionou sobre os boatos, mas a vítima negou. Neste momento, Fabrício Fonseca [21 anos] se juntou a eles e os outros dois suspeitos, que são o Lucas Lima do Nascimento Martins e Lucas de Almeida Alves, ambos de 18 anos, foram chamados até o local, onde foi montado uma espécie de tribunal do tráfico. Lá, eles julgaram, condenaram e decidiram pela morte brutal do adolescente”, explicou o delegado.
Após o crime, de acordo com Silva, os suspeitos jogaram madeira e um sofá velho sobre o corpo da vítima e atearam fogo. “O Natanael teve o papel de julgador. Fabrício assistia à cena e, depois, o suspeito convocou as duas testemunhas, que seriam os dois Lucas, que confirmaram que a vítima tinha feito comentários sobre o tráfico. Depois disso, eles optaram pelo crime e todos participaram das agressões”.
O menor era usuário de drogas, mas não tinha passagens pela polícia. No mesmo dia, a Polícia Militar fez diligências pelo bairro e conseguiu prender Fabrício. Já Lucas de Almeida e Lucas de Lima foram presos na última segunda-feira (9).
Um celular de Natanael, que permanece foragido, foi encontrado a cerca de 50 metros da cena do crime. Nele, segundo o delegado, foram encontradas mensagens de SMS com ameaças a outras vítimas sobre dívida de drogas. “Ele também trocou diversas mensagens com outros suspeitos. Vamos apurar se ele tem envolvimento em outros homicídios”, disse Silva.
Crueldade
Durante a coletiva, Fabrício falou com a imprensa e disse que matou a vítima para se defender. “Era uma guerra do tráfico. Ele queria me matar, junto com uma gangue, aí trombei com ele e isso aconteceu. Eu estava sendo ameaçado por ele. Eu não traficava, não tinha nada a ver com isso, eu apenas andava com o cara que traficava aí queriam me matar. Chegaram a ir à minha casa, mas não me acharam, deixaram recado. Aí um dia achei ele e aconteceu. Antes ele do que eu”, disse.
Questionado sobre o funcionamento de um “tribunal do tráfico”, Fabrício disse que apenas antecipou uma situação. “O cara ia me matar, eu fiquei com medo. Temo pelos meus familiares, que estão sofrendo. Eu me arrependo de coração do que aconteceu, se eu pudesse, voltava atrás”, ressaltou o suspeito.
Apesar da declaração, o delegado diz que o grupo agiu com muita frieza e chegou a rir do crime no momento da prisão. “Eles estão dizendo que estão arrependidos porque estão presos. Mas não pensam que, na verdade, mataram uma pessoa, que implorou pela vida. Eles são extremamente perigosos, tanto que a Justiça decretou a prisão preventiva de todos. São covardes, pois a vítima foi cruelmente agredida, recebeu pauladas, chutes e diversas facadas. No momento da prisão, nenhum dos três demonstrou qualquer tipo de arrependimento. Dois deles, inclusive, chegaram a rir e todos confessaram a participação no crime”.
Silva ressaltou que esse tipo de julgamento e sentença aplicado por traficantes não é novidade. “No mundo do tráfico, aqueles que falam muito, que devem, estão condenados à morte. Esse caso foi difícil de ser apurado, pois muita gente tem medo de prestar depoimento por medo. Inclusive, até agora, não conseguimos ouvir os parentes da vítima”.
Segundo o delegado, os suspeitos vão responder por homicídio qualificado e associação ao tráfico de drogas. Após o término dos procedimentos e oitivas, eles devem ser levados para a Casa de Prisão Provisória de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital.