Mais que o desconforto dos ônibus lotados na capital mineira, a segurança dos passageiros também parece estar em risco. Em 53 dias, desde 1º de abril, foram registrados 13 acidentes envolvendo o transporte público, com 85 vítimas. Destas, três morreram. As ocorrências se alternam entre atropelamentos, batidas e ônibus pegando fogo. Para o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belo Horizonte (STTR-BH), o sucateamento é o problema. E o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) também reconhece o colapso. Ontem, um atropelamento com morte e uma batida, com 17 feridos, se somaram à lista.
Desde o início das conversas sobre aumento no valor das passagens, logo após o fim do contrato de subsídio da Prefeitura de Belo Horizonte para as empresas de ônibus, em 31 de março, a falta de manutenção e conservação dos veículos está em foco. Quando o aumento foi aprovado, há um mês, passageiros entrevistados pelo Estado de Minas chegaram a reclamar do preço, citando “serviço precário, ônibus lotados, falta de cuidado e segurança” como motivos para não haver reajuste. Em 23 de abril, as passagens passaram de R$ 4,50 para R$ 6,00.
Entre 1º de abril e ontem, foram noticiados pela imprensa 13 acidentes envolvendo o transporte coletivo de BH e Região Metropolitana, as quais são atendidas pelos ônibus metropolitanos, que também passam pela capital (confira quadro). Dois deles ocorreram ontem (23/5), exatamente um mês depois de as passagens subirem de R$ 4,50 para R$ 6,00 na maioria das linhas de BH. Um ônibus do Move atropelou uma mulher na Avenida Antônio Carlos, na estação São Francisco, Bairro Lagoinha. A vítima morreu. Na outra ocorrência, uma batida entre dois ônibus do Move, na Avenida Dom Pedro I, no Bairro Vila Clóris, 17 pessoas feridas, sendo que uma em estado grave e três presas às ferragens.
O alto número de ocorrências acende o sinal de alerta sobre a segurança do transporte coletivo na região. Reclamações de falta de estrutura dos ônibus têm sido comuns e, segundo Paulo César da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belo Horizonte (STTR-BH), o sucateamento da frota de ônibus da capital é um problema antigo. “A gente observa que é preciso um tempo hábil para fazer manutenções completas nesses ônibus. Estes veículos chegam a rodar até 20 horas por dia. É feita uma manutenção que não condiz com o desgaste diário deles”, disse em entrevista ao Estado de Minas.
Outro ponto apontado por Silva como causador do sucateamento foi o aumento de viagens após acordo entre Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), Câmara Municipal e BHTrans em relação ao subsídio municipal pago para custear demandas do sistema de transporte da capital mineira e que vigorou até o mês passado. Ele argumenta que, com mais horários de ônibus, os veículos circulam mais e as manutenções não acompanharam esse aumento.
Além disso, o representante dos motoristas afirma que falta escuta das empresas e da prefeitura em relação aos trabalhadores que, segundo Silva, por vezes são submetidos a cargas horárias excedentes. “Mas muitas coisas contribuem. O trânsito, que tem uma frota de carros cada dia maior, tem menos pistas exclusivas. Tudo isso resulta num maior cansaço físico e mental para o trabalhador”.
Problema real
Uma operação conjunta entre BHTrans e Guarda Municipal foi feita no Barreiro, na segunda-feira (22/5), para fiscalização das condições de veículos coletivos municipais. Quatro veículos foram autuados com base no Código de Trânsito Brasileiro por estarem com os pneus desgastados ou lisos, os populares “pneus carecas”. Os veículos foram removidos para o pátio do Detran/MG.
De acordo com o Setra/BH, os consórcios associados estão colapsando, com as contas no vermelho, devido ao congelamento do valor da tarifa entre 2018 e abril deste ano, e, por isso, os veículos estão em más condições. Apesar disso, a instituição tem recomendado aos filiados que coloquem nas ruas apenas os ônibus em boas condições.
A BHTrans e a Superintendência de Mobilidade do Município de Belo Horizonte (Sumob) afirmam que têm adotado as medidas administrativas para acabar com as irregularidades e fazer com que “os concessionários cumpram o regulamento dos serviços de transporte público coletivo e convencional de passageiros por ônibus”.
Também informaram, por meio de nota, que os veículos que não estão em condições adequadas de operação estão tendo as autorizações de tráfego recolhidas, sendo autuados e, em alguns casos, removidos para o pátio do Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Todos os usuários dos transportes coletivos de BH podem reclamar das condições que presenciarem por meio dos canais da prefeitura, no aplicativo PBH APP, pelo WhatsApp (31) 98472-5715 ou no portal de serviços (servicos.pbh.gov.br/servicos). É necessário que os passageiros indiquem o número da linha, o horário e, se possível, o número do veículo para melhor direcionar as equipes de fiscalização.
ACIDENTES DIA A DIA
Confira as ocorrências envolvendo ônibus registrados em BH e região desde abril
- 5 de abril – Micro-ônibus bate em poste e pega fogo no bairro Sion – 25 pessoas ficaram feridas
- 18 de abril – Move atropela e mata motociclista na Barragem da Pampulha – uma pessoa morreu
- 20 de abril – Ônibus pega fogo debaixo do viaduto do Anel Rodoviário – não houve feridos
- 1° de maio – Dois ônibus colidiram na Avenida Antônio Carlos, Bairro Novo Cachoeirinha –27 pessoas ficaram feridas
- 11 de maio – Ônibus pega fogo no Barreiro – ninguém ficou ferido
– Ônibus atropela duas pessoas no Centro de BH – duas pessoas ficaram feridas - 15 de maio – Ônibus atropela mulher, que tem as pernas amputadas no acidente, em Ribeirão das Neves e morre
- 19 de maio –Batida entre dois ônibus do Move no Complexo da Lagoinha, Centro de BH – seis pessoas ficaram feridas
– Ônibus bate em caminhão, na Avenida das Américas, em Betim – sete pessoas ficaram feridas - 23 de maio – Batida entre dois ônibus do Move, na Avenida Dom Pedro I, no Bairro Vila Clóris- 17 pessoas feridas, sendo que uma em estado grave e três presas às ferragens
– Ônibus do Move atropela mulher na Avenida Antônio Carlos, na estação São Francisco, Bairro Lagoinha – uma pessoa morreu - 24 de maio – Batida entre ônibus do Move e um carro de aplicativo no bairro Goiânia- ninguém ficou ferido
– Batida entre moto e um ônibus, na Avenida Antônio Carlos- uma pessoa se feriu