O pastor Moisés Barbosa Ferreira Costa, de 34 anos, suspeito de abusar sexualmente de crianças e adolescentes, tinha fama de intocável, segundo conta o secretário do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA), Edson de Oliveira Cunha, em entrevista ao Estado de Minas. Preso nesta quarta-feira (21/6), o religioso estaria recrutando suas vítimas na Igreja Batista Unidade e Fé, no bairro Sagrada Família, na região Leste de Belo Horizonte, onde ele atuava.
“Todos que integram a rede [do conselho] estão indignados. Ele era alguém acima de qualquer suspeita”, afirma Edson. As primeiras vítimas, segundo afirma, foram descobertas por meio de denúncias recebidas pelo CEDCA em março de 2022, quando o secretário atuava como presidente do conselho.
“Na ocasião, dois jovens com mais de 18 anos nos procuraram para denunciar o pastor. Eles disseram que Moisés abusou deles desde que ambos tinham 13 anos. Esse cidadão era responsável por um projeto social chamado Circo Belô, que atendia os garotos, e oferecia oficinas circenses em uma fundação cultural no bairro Sagrada Família”, conta Edson.
Ainda segundo o secretário, o pastor tinha uma estratégia para intimidar os jovens que demonstravam intenção de denunciar os abusos. “Conforme tomamos conhecimento, ele costumava falar que era intocável por ser um líder religioso, e, por isso, não iria adiantar em nada as denúncias. Ninguém nunca desconfiou dele. Era alguém que gostava muito de se projetar, sempre mostrando o que estava fazendo de forma voluntária”, completa Edson.
Como mostrou o EM, o pastor preso em uma operação da Polícia Civil também exerceu a função de coordenador do Fórum Interinstitucional de Enfrentamento à Violência Doméstica, Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes (Fevca-MG), além de ser professor da rede municipal de ensino em BH.
Ao receber as denúncias à época, o secretário do CEDCA lembra que orientou os jovens a denunciar os crimes no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). “Um deles foi ao MP e relatou o ocorrido. Depois, o caso foi recebido pela Polícia Civil, resultando em abertura de inquérito. Logo após, O CEDCA rompeu com o coordenador em meados de agosto do ano passado”, diz.
Entenda o caso
Moisés foi preso em sua casa no bairro Horto Florestal, na região Leste da capital. As investigações começaram na última semana, após uma das vítimas, atualmente com 23 anos, fazer uma denúncia na Polícia Civil. “Ela fez um depoimento relatando que foi atraída pelo investigado, que se colocava como líder religioso, instrutor de um circo e também fundador de fóruns contra pedofilia. Com as investigações, qualificamos e temos o depoimento de outras três vítimas que foram abusadas sexualmente”, detalha a delegada Thais Degani.
As vítimas, todas do sexo masculino, eram atraídas sempre da mesma maneira. O pastor escolhia seus alvos na igreja e prometia levá-las para participar de um circo onde ele trabalhava como instrutor. Após se aproximar dos menores, Moisés se aproveitava da situação para cometer os crimes. Em algumas situações, os abusos duraram mais de quatro anos.
Segundo as autoridades, o suspeito agia dessa forma há mais de dez anos, e a delegada acredita que a existência de outras vítimas possa vir à tona com o passar das investigações.
A reportagem não conseguiu localizar a defesa do pastor Moisés Barbosa Ferreira Costa. O espaço segue aberto para manifestações.