A Polícia Civil de Minas Gerais (PMMG) instaurou inquérito para apurar a morte de uma paciente, de 46 anos, após sofrer parada cardiorrespiratória durante procedimento estético, em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas. Imagens de segurança do prédio, que fica no centro da cidade, foram recolhidas. Há suspeitas de que o local tenha sido alterado antes da chegada da perícia, na segunda-feira (8/5).
Segundo a perita Paula Lamounier, existem relatos de que um funcionário da clínica foi visto deixando o local com sacos plásticos e caixas, supostamente usados para descartar materiais utilizados durante o procedimento.
“Seria alteração da cena que pode ter ocorrido inadvertidamente ou propositalmente e, também, ocultação de provas, o que vamos verificar nas câmeras”, explica.
A ficha da paciente, Íris Dorotéia do Nascimento Martins, também não foi encontrada e nem fornecida à perícia. “Não havia ficha de evolução das técnicas que tinham sido indicadas à paciente, avaliação e, tão pouco, os registros do que foi feito naquele dia. Não temos o registro do que foi injetado, o volume, qual concentração, como foi feito esse cálculo”, conta Paula. Não foi encontrado o laudo de risco cirúrgico.
A perícia também não encontrou a suposta máquina que seria utilizada no procedimento chamado de “laser HD”. Nas redes sociais, a biomédica descrevia a técnica como “sem cortes” e a apresentava o método como se tivesse sido desenvolvido por ela. Lorena ainda prometia “resultado igual a cirurgia”. A paciente pagou cerca de R$ 12 mil.
A alegação é de que o equipamento era alugado por hora e que, diante do ocorrido, ele teria sido dispensado. Entretanto, a paciente havia sido submetida horas antes a solução anestésica.
Hemorragia
A suspeita é que a parada cardiorrespiratória tenha ocorrido em decorrência de hemorragia. “A vítima tem 12 perfurações, 10 no abdômen e dois nos glúteos. Além disso, nosso exame na região do tecido subcutâneo, aquele que fica abaixo da pele e acima da musculatura, mostrou que tinha uma quantidade significativa de sangue e no exame de tomografia a gente constatou hematoma e até mesmo gases o que mostra que uma manipulação aconteceu ali e em decorrência a hemorragia”, explica o médico-legista, Lucas Amaral.
A conclusão, até o momento, é de que Íris Martins foi submetida a lipoaspiração ou lipoescultura no abdômen, além de enxerto nas nádegas. Outros exames ainda serão analisados. Os procedimentos são considerados de média a alta complexidade e podem ser realizados apenas por médicos.
Além do exercício ilegal da medicina, a clínica não tinha estrutura com equipamentos adequados, como desfibrilador. No local, não tinha nem mesmo aparelho para aferir pressão. Também seria necessário o acompanhamento de um anestesista.
A paciente foi socorrida, inicialmente, por um médico cardiologista que atende em uma outra clínica no prédio, até a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ela foi levada para a Sala Vermelha do Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD) em estado gravíssimo.
Lá, Íris foi transferida para o Centro de Terapia Intensiva (CTI) e recebeu duas bolsas de sangue, além de uma de plasma. A mulher morreu na noite do mesmo dia.
O corpo da paciente foi velado e sepultado nesta terça-feira (9/5) em Djalma Dutra, comunidade rural de Divinópolis. Nenhum familiar falou até o momento.
O marido dela deverá ser ouvido nesta quarta-feira (10/5) na delegacia.
Outras investigações
A biomédica continua presa no presídio Floramar, em Divinópolis, suspeita de homicídio doloso com dolo eventual. “Ela assumiu o risco no momento em que ela estava fazendo um procedimento que ela não estava autorizada. Em um procedimento de médio a grande porte ela teria que ter outros profissionais médicos, anestesistas, equipamentos para suporte em caso de ter uma intercorrência, e ela não tinha nada disso. No momento que ela faz esse tipo de cirurgia sem equipamentos, ela assume o risco do resultado morte. É como se ela tivesse matado com intenção”, explica o delegado Marcelo Nunes.
De acordo com o delegado, há outros seis boletins de ocorrência registrados contra a profissional, além de um inquérito em andamento. A polícia também apura denúncia de que Lorena Marcondes estaria usando registro profissional de outra pessoa.
Também foi presa a técnica de enfermagem, de 33 anos, que teria participado do procedimento. O delegado informou que ela permaneceu calada durante o depoimento.
A audiência de custódia foi realizada nessa terça-feira (9/5) e elas aguardam a decisão da Justiça para saber se poderão ficar em liberdade no decorrer das investigações.
A defesa da biomédica e da técnica informou que não irá se manifestar no momento.
Interdição
Com alvará vencido desde outubro do ano passado e em processo de renovação, a clínica foi interditada pela Vigilância Sanitária na segunda-feira (8/5) por realizar procedimentos não declarados e autorizados.
De acordo com o rol de atividades dos profissionais em estética do Conselho Biomedicina, os biomédicos só podem realizar procedimentos como: eletroterapia, sonoforese (ultrassom estético), iontoforese, radiofrequência estética, laserterapia, luz intensa pulsada e LED, peelings químicos e mecânicos, cosmetologia, carboxiterapia, intradermoterapia (enzimas e toxina botulínica), preenchimentos semi permanentes, mesoterapia.