Áudios com ameaças de tiroteio, atuação de organização criminosa e fotos com atentados a ônibus assustaram moradores de Uberlândia neste fim de semana. As mensagens foram compartilhadas em grupos do WhatsApp e causaram pânico na população, pois muitas delas diziam para as pessoas não saírem de casa.
Contudo, o diretor regional da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi), da 9ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), coronel Adanil Firmino da Silva, desmentiu os boatos que dizem respeito aos possíveis crimes e pediu bom senso para os uberlandenses. A reportagem entrevistou o coronel para saber o que de fato está ocorrendo na cidade e também falou com uma psicóloga especialista em fenômenos grupais, que orientou sobre como agir diante de situações como esta de viralização virtual.
Na sexta-feira (20) criminosos encapuzados fizeram vários disparos de arma de fogo próximo a um bar do Bairro Osvaldo Rezende. Quatro pessoas ficaram feridas. A preocupação dos moradores também é devido à morte de um agente penitenciário, baleado em uma avenida da cidade depois que saiu da Penitenciária Pimenta da Veiga. Ainda, o pneu de um ônibus que transportava albergados foi atingido por um tiro também no fim de semana.
No início do mês, um tumulto foi registrado dentro do Presídio Professor Jacy de Assis.”As pessoas começaram a associar esses últimos acontecimentos às ameaças. Acho que isso acentuou ainda mais o medo dos moradores”, destacou a contato comercial Ana Cláudia Dias.
Ela conta que assim que recebeu as mensagens começou a repassar para a família. E depois se recusou a sair de casa com medo das ameaças que ouviu nos áudios. “Fiquei assustada. Liguei para as pessoas mais próximas e pedi para que não saíssem. Meu namorado tem uma filha de 22 anos e ligou para ela e pediu para não sair também. A gente sempre sai no sábado á noite para comer alguma coisa em um barzinho e neste sábado ficamos em casa. Foram vários áudios dizendo que tinham sequestrado uma moça e depois chegou outro que tinham dado tiros em ônibus, foram muitos áudios. Acabamos pedindo uma pizza por telefone”, disse.
Além de não sair e alertar as pessoas mais próximas, Ana Cláudia ligou para a mãe, que tem costume de pegar um ônibus para ir à igreja. “Neste fim de semana minha mãe não foi ao culto por conta disso tudo que tem acontecido, não sabemos ainda se está acontecendo algo ou se tratam de boatos realmente, devemos nos prevenir”, finalizou.
Uma moradora da cidade, de 32 anos, que preferiu não ser identificada, contou que participa de pelo menos cinco grupos e que em todos eles o drama era generalizado. “Muitas pessoas compartilharam e na hora que falamos que temos que tomar cuidado com o que compartilhamos deu briga. Realmente agem sem pensar”, relatou.
Já a estudante de psicologia Maíra Vieira Guedes destacou que recebeu os áudios e várias fotos nos grupos que participa. Entretanto, apesar do receio, não deixou de fazer o que estava programado para o fim de semana. “Eu saí na rua normalmente, mas é claro a gente sempre fica com muito receio. Não sabemos até que ponto as coisas são verdade, podem ser fotos antigas ou não. A gente fica meio perdido e com medo. Apesar de ter saído evitei andar sozinha, principalmente de madrugada”, destacou.
Orientação
O diretor regional da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi), da 9ª Região Integrada de Segurança Pública, coronel Adanil Firmino da Silva, afirma não ter ocorrido tiroteios neste fim de semana e que ainda não foi comprovado que o ônibus danificado mostrado nas fotos foi atingido por disparo de arma de fogo. Ele também relata que não houve sequestro em Uberlândia. A orientação é que as pessoas não compartilhem informações sem antes se certificarem de que são verídicas.
“Minha recomendação é que a população não divulgue o que não foi investigado. Se tiver de repassar, que seja para autoridades prontas para resolverem esses assuntos. Isso inclusive deixa a PM em situação ruim, pois os moradores começam cobrar uma atitude frente a fatos que não ocorreram”, disse.
Fenômeno de massa
Cristina Silva Gontijo, que é psicóloga com ênfase em processos grupais, analisou a situação e destaca que essas correntes têm se tornado cada vez mais frequentes. Disse também que o anonimato dá sentimento de poder às pessoas que gravam áudios aterrorizantes, às vezes com identificações falsas e que acabem amedrontando outras pessoas.
“Uma pessoa sozinha fazendo algo no anonimato sabe que outra também fará a mesma coisa. E isso toma uma proporção chamada de massa. Por isso é denominado fenômeno de massa e é o que está ocorrendo”, afirmou.
A psicóloga também falou sobre as pessoas que compartilham as mensagens. “Essas pessoas acabam sendo atraídas e caem facilmente em um âmbito que chamamos de mente coletiva, onde não há, ou quase não há, raciocínio lógico sobre a ação. Afinal, a pessoa não questiona a veracidade do item compartilhado. Daí a importância de terem cautela ao compartilharem. É preciso se certificar da veracidade dos fatos”, concluiu.
G1