Em Brumadinho, na Grande BH, no trecho onde fica o ponto mais mortal da BR-381 em Minas e o 10º mais violento entre as BRs de todo o país, com base em dados da Polícia Rodoviária Federal, a descida forte de curvas fechadas e em curtas sequências exige muito sobretudo dos veículos mais pesados e de seus motoristas.
“O principal problema de uma pista assim é o excesso de velocidade. O motorista tem de manter o veículo em baixa velocidade para ter as respostas nas sequências de curvas”, observa o caminhoneiro Anderson Santos, com a experiência de quem transporta equipamentos entre Americana (SP) e Contagem, na Grande BH.
Mas, para isso, completa, é preciso também que os veículos tenham uma manutenção muito boa. “Dependendo do peso que um caminhão carrega, vai exigir bastante dos freios. Se os freios falham, é desastre na certa. Por isso, a manutenção tem de ser feita em dia, a cada mês ou quando tem problema. Além da segurança, isso traz economia, porque fazer reparo na estrada é muito mais caro”, explica o motorista profissional.
Na outra ponta da BR-381, no trecho conhecido como Rodovia da Morte, partindo de BH, o mais mortal dos sete trechos críticos indicados pelo mapeamento com dados da PRF é uma travessia urbana do Bairro Feixos, em João Monlevade (veja arte na página ao lado), onde bastaram dois acidentes para matar seis pessoas e ferir três.
Naquele ponto, a estrada federal atravessa uma movimentada área de residências e comércio em ambas as margens, onde carros, motos e caminhões cruzam de um lado para outro, muitos sem esperar pela sua vez em filas que por vezes se formam nos acostamentos e nas margens usadas como trevos. Há quebra-molas e placas alertando para essa travessia e determinando a redução de velocidade para 40 km/h, o que não evita que a imprudência deixe marcas no lugar.
“O dia inteiro que você ficar parado aqui vai ver gente de um lado para o outro. Eles confiam demais. Confiam que os carros e as motos vão reduzir no quebra-molas, mas tem carro que quer passar a carreta é no quebra-molas, ou moto que nem liga, aí joga mesmo o cidadão a pé para o alto ou bate feio no carro que atravessa”, descreve o vendedor Amarildo dos Santos, de 48 anos, que passa pelo bairro todos os dias.
CAUSA E CONSEQUÊNCIA O grande volume de tráfego para as condições precárias e linhas mal concebidas são motivos que fazem do trecho duplicado e concedido da BR-381 (Sul – Rodovia Fernão Dias) e do público em duplicação (Norte – BH/Governador Valadares) os que mais matam em Minas Gerais, segundo a avaliação do engenheiro, consultor e especialista em transporte e trânsito Márcio Aguiar.
“Não adianta apenas duplicar uma estrada. É preciso equalizar a restauração com a adequação do traçado. Uma pista que tem curvas fortes, como a BR-381, seja na Rodovia da Morte ou na Fernão Dias, quando ganhar mais uma pista na mesma geometria, vai comportar mais tráfego a uma velocidade ainda maior”, observa o especialista.
“É preciso ter condição de investimentos que prevejam mudanças de traçado e força para isso, e não apenas pensar em duplicação. Essa mentalidade de simplesmente duplicar é ultrapassada e mostra que o Estado precisa renovar seus quadros técnicos”, afirma.