Três vezes por semana, às sete da manhã, pacientes de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, entram em uma van da prefeitura para fazer hemodiálise em Diamantina, a 219,7 km. A viagem é longa: as crateras e os trechos sem asfalto da BR–367 dificultam o percurso. O grupo passa quase quatro horas dentro da van.
Os problemas da rodovia são antigos e só devem começar a ser reparados em setembro, segundo o governo de Minas. Para isso, porém, é preciso que a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprove o projeto que autoriza o Estado a gastar parte do dinheiro do acordo com a Vale em estradas – que não tem data para ser votado na casa. O gasto estimado é de R$ 100 milhões.
Enquanto isso, o motorista da Secretaria de Saúde de Minas Novas, Arlindo Macedo, que dirige na estrada há 20 anos, vai seguir “arrancando dentro de buracos”. Três vezes por semana, ele leva pacientes para Diamantina. “Se a estrada fosse boa, essa viagem poderia durar, no máximo 2h40. De alguns anos pra cá, pela falta de manutenção, a situação está muito precária. Alguns pacientes ficam quatro horas na hemodiálise e depois precisam encarar a estrada”, disse o motorista, que também é vereador.
O retorno da van para Minas Novas ocorre por volta das 22h. Não é raro pacientes precisarem fazer pausas na viagem por causa do mal-estar. “Um senhor de 80 anos já deixou de ir ao tratamento porque estava com dores pelo corpo”, complementou Macedo.
Piores trechos
Os pontos mais críticos da rodovia estão nos quilômetros de competência do governo estadual. Nesses trechos, a identificação da estrada passa a ser MGC–367. “A última obra foi um asfalto de Minas Novas passando por Chapada do Norte até a cidade de Berilo. Foram 40 km de asfalto, porque antes era terra”, finalizou o motorista.
O secretário de Estado de Infraestrutura e Mobilidade, Fernando Scharlack Marcato, confirma o recebimento de várias reclamações com relação à rodovia. “Há vários trechos estaduais que estão muito ruins, é um problema estrutural. O Estado ficou duas gestões sem investir em estradas. São problemas que o tapa-buraco não resolve mais”, explicou.
Entrevista com secretário de Estado Infraestrutura e Mobilidade, Fernando Scharlack Marcato
Quais os trechos da BR–367 são de responsabilidade do Estado? O nosso trecho vai de Diamantina até o entroncamento com Carbonita, e tem mais um trecho que é de Araçuaí a Virgem da Lapa.
Qual é a solução para a estrada? É a recuperação funcional. A rodovia tem o leito, que é o cascalho, o subleito e depois o asfalto. Tem que tirar todo o asfalto e colocar um asfalto novo. Algumas partes você recicla, mas, de uma forma geral, é um asfalto novo.
Quais as providências tomadas pelo Estado? O investimento necessário é da ordem de mais ou menos R$ 100 milhões. O grande gargalo é o recurso. Nós colocamos essa como a prioridade zero nos recursos do acordo da Vale. Mas só podemos gastar quando houver a aprovação da Assembleia.
É possível falar em data para início das obras? Já em setembro temos condições de começar, desde que a Assembleia aprove o acordo da Vale. Senão, a gente não tem condição
Reivindicação
A União dos Municípios do Vale do Jequitinhonha cobra melhorias. O presidente da entidade, Leandro Santana, disse que já tentou diálogo com o governo e não conseguiu
Com problemas na estrada, motoristas precisam de “plano B”
A professora aposentada Fátima Neves, de 62 anos, mora emCapelinha e, constantemente, precisava trafegar pela BR-367. No entanto, devido aos problemas da rodovia, ela mudou a rota. “Por ser uma estrada mais reta, não ter curvas, a gente passava por Diamantina para chegar a Belo Horizonte. Mas aquele caminho ficou inviável, é buraco dentro de buraco. É uma falta de respeito tremenda, estamos pagando todos os impostos e temos aquela falta de respeito. Agora, eu passo por Guanhães, levo menos tempo, mas tem mais de 250 quebra-molas e muitas curvas”, contou.
Na próxima sexta-feira, ela vai à capital mineira buscar a irmã, que está em tratamento de saúde. “Não podemos usar uma estrada reta. Vamos ter que passar em curvas porque Diamantina é inviável. É totalmente desconfortável para qualquer ser humano, preciso mudar toda a minha rota por causa da estrada. Eu tenho um carro turbo e, quando passo pela BR-367 preciso andar a 7 km/h”, afirmou.
Leia a nota do DER na íntegra
O DER-MG vai realizar o serviço de recuperação funcional do pavimento em toda extensão da MGC-367 sob sua responsabilidade. O primeiro lote a ser licitado é o trecho de 25 quilômetros, entre os entroncamentos para Carbonita e Bocaiúva.
Técnicos do Departamento finalizam os estudos para contemplar a melhoria das condições da rodovia em mais três lotes que compreendem toda a extensão do trecho estadual: do entroncamento da BR-451 (Bocaiúva) a Couto de Magalhães; de Couto de Magalhães a Diamantina e de Virgem da Lapa a Araçuaí.
No site do DER-MG (na aba sobre Transportes/Rodovias), divulgamos a relação completa da malha rodoviária no Estado sob a responsabilidade do Departamento. Temos também a relação das rodovias federais e das rodovias estaduais coincidentes (MGC).
A rodovia BR-367 aparece nas duas listagens, com trechos federais (280,9 kms, onde se encontram os segmentos não pavimentados) e trechos sob a responsabilidade do DER-MG (MGC), (222,5 kms pavimentados).
O primeiro segmento da MGC-367 que se encontra com o DER-MG está no final da rodovia com o entroncamento para a BR-259 (próximo a Datas e Gouveia) e vai até o entroncamento com a LMG-677, antes de Turmalina.
Em seguida, segue por vários entroncamentos: MG-214 – São José do Rio Preto e BR-451 – distritos de Senador Mourão e Abadia e as cidades de Olhos d’Água e Carbonita / distritos de Desembargador Otoni, Planalto de Minas, somando 193 quilômetros.
O trecho passa a ser federal do entroncamento da LMG-677 até Virgem da Lapa, quando retorna a jurisdição do DER-MG, por cerca de 30 quilômetros, até Araçuaí.