Comprar um carro zero km por menos de R$ 30 mil está cada vez mais difícil no Brasil. Segundo levantamento feito pela plataforma Kelley Blue Book (KBB), que compara preços de automóveis, o modelo mais barato do país, hoje, é o Chery QQ Flex Smile 1.0, que tem preço inicial de R$ 27,3 mil. Há três anos, o mesmo modelo custava R$ 23 mil, um aumento de 18,7%, 2,2 pontos percentuais (p.p) acima da inflação acumulada no período, que foi de 16,5%, segundo o Banco Central (BC). Décimo da lista, o Renault Sandero Authentique 1.0, subiu 29,6% desde maio de 2015 (13,1 p.p acima da inflação), e passou de R$ 34,5 mil para R$ 44,05 mil em 2018.
“Pensando no custo-benefício, não vale a pena comprar um carro zero. Além da desvalorização imediata, tem os custos de documentação e emplacamento”, afirma o dono da loja de seminovos V8 Automóveis, Carlos Antônio Campos. Ele mesmo trocou de carro há cerca de 30 dias e optou por um Hyundai i30 2.0, ano 2011, que saiu por R$ 33 mil. “É um carro confortável, com todos os itens opcionais, banco de couro, teto solar e baixa quilometragem”, diz. Um i30 zero km, completo, custa R$ 105,9 mil.
Além de subir acima da inflação, os preços dos automóveis brasileiros são mais altos que no resto do mundo. Um Sandero Authentique zero km, que no Brasil custa R$ 44,05 mil, sai a partir de 7.990 (R$ 33,9 mil) na França. A título de comparação, no país europeu o preço do veículo equivale a 5,4 vezes o salário mínimo do país, que é de 1.480,27 (R$ 6.280). No Brasil, o mesmo carro custa mais de 46 vezes o salário mínimo local, de R$ 954.
Para o economista e coordenador do curso de administração do Ibmec-BH, Eduardo Coutinho, três elementos explicam os preços mais altos no Brasil. “Os impostos são importantes”, afirma. Um estudo da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea) mostra que 41,2% do preço dos carros flex de motor 1.0 a 2.0 no país é formado por tributos. Nos Estados Unidos, chega a 7,5%; no Japão é de 5% e na Argentina, 21%, segundo a Anfavea.
Coutinho, porém, lembra que o mercado fechado também colabora. “A taxa de importação é muito alta, isso impede a concorrência que poderia baixar os preços”, explica. Outro elemento, segundo Coutinho, “é a baixa produtividade da mão de obra brasileira”, diz.
“Novas tecnologias e a inclusão de itens obrigatórios de segurança também tiveram impacto no preço final dos veículos”, acrescenta o diretor geral da KBB no Brasil, Carlos Domingues. Para o executivo, isso também ajuda a explicar o aumento dos preços acima da inflação nos últimos anos.
Para um novo, cinco usados são vendidos
Para cada veículo novo vendido, cinco usados são comercializados, segundo o diretor geral da KBB no Brasil, Carlos Domingues. “A depreciação dos veículos novos no país é grande por vários motivos, até pela condição ruim das vias”, explica Domingues.
O empresário André Cavalcanti, da consultoria automotiva Personal Driver, concorda. “Com a crise, os clientes estão trocando menos de carro, rodando mais tempo com o mesmo modelo e, quando precisam trocar, optam por um veículo mais novo que o antigo”, avalia Cavalcanti.
Mercado continua a ter crescimento
O mercado de veículos novos no Brasil cresceu 38,5% em abril ante igual mês do ano passado, com o emplacamento de 217,8 mil unidades, informou nesta quarta-feira (2) a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em balanço de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Pela média diária, as vendas também cresceram, mas a um ritmo menor, de 18,7%.
Os automóveis e comerciais leves, que representam mais de 90% do setor, registraram 209,9 mil emplacamentos em abril. O resultado corresponde a um aumento de 37,8% frente a igual mês de 2017 e de 4,9% ante março. O ano acumula 737,2 mil unidades vendidas, avanço de 20,4%.
O mercado voltou a atingir uma média diária superior a 10 mil unidades. Durante a crise, o setor só chegou a esse ritmo nos meses de novembro e dezembro. Antes disso, só em 2013, quando a média diária chegava a 14 mil ou 15 mil unidades. No acumulado de janeiro a abril, as vendas gerais chegaram a 762,8 mil unidades, alta de 21,3% frente a igual intervalo de 2017. Trata-se do maior volume no período desde 2015, quando o mercado somou 893,7 mil unidades.
Dicas de compra
Detalhes. Compare modelos diferentes considerando as características, especificações técnicas e adicionais de cada carro.
Pesquisa. Quanto maior a pesquisa, maior a economia. Sempre leve os valores que encontrou na hora de negociar preços.
Entregar o usado. Nem sempre essa é a melhor opção; diante dos custos fixos, as concessionárias não oferecem o melhor valor pelo carro antigo.
Ouça o vendedor. Ele pode ajudar com informações técnicas, já que tem conhecimento de mercado.
Financiamentos. Tenha atenção com prazos muito longos e pesquise todas as modalidades disponíveis.
Na web. Bons negócios podem estar na web, não tenha preconceito.
Fonte: O TEMPO