VALDO CRUZ
FERNANDA ODILLA
ENVIADOS ESPECIAIS A BELO HORIZONTE
PAULO PEIXOTO
DE BELO HORIZONTE
O governador eleito de Minas, Fernando Pimentel, diz ser contra o PT adotar uma campanha agressiva no segundo turno da eleição presidencial. “Campanha não vale tudo”, afirmou o petista, amigo pessoal da presidente Dilma Rousseff.
Ele diz recomendar, na reta final, uma linha mais propositiva. Em sua opinião, “pancadaria” pode funcionar no primeiro turno, mas não no segundo. “O eleitor repudia.” Receita que adotou na eleição mineira e que ganhou.
O ex-ministro de Dilma faz a ressalva de que não sabe dizer se a campanha petista exagerou no tom contra Marina Silva, que ficou fora do segundo turno depois de cair nas pesquisas por causa da estratégia de desconstrução de sua imagem adotada pela propaganda dilmista.
Primeiro petista a conquistar o governo mineiro, desbancando depois de 12 anos os tucanos do poder, Pimentel classifica de “tosco” o mote ensaiado pela campanha dilmista de que “quem conhece Aécio não vote nele”.
Para ele, o que estará em jogo na eleição é a escolha entre um caminho que deu certo, que só precisa avançar mais, ou outro que representaria um retrocesso.
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Folha – O sr. acabou com a hegemonia tucana que durou 12 anos. Qual foi a receita para tirar os tucanos de Minas Gerais?
Fernando Pimentel – Foi uma construção que vem de muito tempo. Tem a ver com nossa trajetória na Prefeitura de Belo Horizonte, um processo muito importante também de renovação do partido aqui em Minas, jovens deputados que surgiram. Houve uma oxigenação do partido que o deixou mais contemporâneo. Surgiu uma esquerda pós Muro de Berlim, uma militância política que veio depois da Guerra Fria, do fim do socialismo burocrático, do Leste Europeu. Com a qual não tive dificuldade de conviver.
Tem uma visão diferente até da minha geração, sou da geração de 68. E veio também a ajuda do PMDB. Percorremos todo o Estado, ouvindo os mineiros, em caravanas que antecederam a campanha.
A fórmula foi a renovação?
Decidimos também não fazer uma campanha do contra. Foi uma campanha propositiva. As pessoas queriam participar, ser ouvidas.
Os governos anteriores não estavam ouvindo a população?
Definitivamente não. Mal mal de quatro em quatro anos, quando tinha eleição. As manifestações do ano passado têm a ver com isso. Um desejo enorme de participar, de estar envolvido. Então, nosso eixo primeiro era “ouvir para governar”. O segundo era “regionalizar para administrar”.
Em Minas funcionou o desejo de mudança? Você tirou os tucanos do poder depois de doze anos. Não vai acontecer o mesmo com a presidente Dilma?
A resposta é muito simples: não é o tempo. Ninguém questiona se é oito, dez, dezesseis. É o conteúdo, é a entrega, o que é que você fez. Aí, os tucanos vão me desculpar, mas a comparação é esmagadora contra eles. Em doze anos, nenhum brasileiro, nem o mais ferrenho adversário nosso, nem o mais radical, será capaz de dizer que o Brasil não mudou. E em Minas? Minas mudou? Quando você discutia ponto por ponto com a população, estava tudo péssimo.
O PT atacou demais a Marina? Na campanha vale tudo?
Campanha não vale tudo, sou contra essa ideia de que em campanha vale tudo. Agora, não sei, estava tão mergulhado na campanha regional, tão voltado para Minas, que não acompanhei tão de perto. Falo com sinceridade, não sei dizer se exageraram na mão ali.
O sr. é visto como trunfo da presidente em Minas para derrotar o Aécio no segundo turno. Como fará campanha aqui?
Quem vai fazer campanha não é o governador eleito de Minas Gerais, é o cidadão Fernando Pimentel. Nesta condição, vou apresentar os motivos pelos quais considero o melhor caminho reeleger a presidente e fazer aqui uma campanha propositiva, não agressiva contra ninguém.
Você é contra este tipo de campanha?
Totalmente. Eu sou contra e o eleitor também é.
A campanha nacional fez uma campanha considerada muito agressiva contra a Marina Silva.
Aí é sua opinião. Tem de separar um pouco as coisas. Se você apontar contradições no discurso do adversário, você não está agredindo, está fazendo uma constatação.
Mas em outros momentos, como o caso do BC, foi agressiva?
Eu sou contra uma campanha agressiva.
Você não recomendaria esta linha num segundo turno?
Não, porque acho que isto não leva a voto. Como acho que o senador Aécio Neves, se permanecer no segundo turno com a campanha que fez no primeiro, está fadado ao fracasso.
Por quê?
Porque a campanha dele é só rejeição ao PT. Pode ser bom para o primeiro turno, para o segundo não é. Não é isso que o eleitor quer. Você vai eleger um presidente porque ele é contra, só por isso? Campanha do contra, da pancada, da agressão, não leva a lugar nenhum. Portanto, recomendaria que nós fizéssemos uma campanha, e temos condições de fazer no país e em Minas, propositiva. Significa que não vai criticar? Claro que não, crítica é outra coisa. Agora, pancadaria não funciona, eu fui vítima disto e não funcionou comigo. O eleitor repudia.
Você recomendaria à presidente seguir esta linha propositiva no segundo turno?
Ela já está. De todas as campanhas, a dela é a mais propositiva.
Em São Paulo ficou muito claro que há um sentimento de rejeição ao PT.
Tem um desejo da sociedade de governos mais oxigenados, mais abertos à participação, as pessoas querem se envolver mais, se sentir incluídas. O PSDB oferece este modelo? Sinceramente, a ficha pregressa do PSDB não indica algo nesta direção. Eu acho que o povo brasileiro maduramente também irá dizer não. Talvez a Marina indicasse esse desejo, os tucanos, você vai me perdoar, não indicam nada nesta direção. O governo do PT indica? Claro que indica, talvez insuficientemente, talvez este desejo significa que tem de continuar avançando.
No segundo turno, temos um candidato do PSDB e uma candidata do PT. Como o povo vai votar? Vota pensando no seguinte: Minha vida está melhor ou não? Quero que ela continue melhorando ou não? Ou está tão ruim que vale a pena trocar de autoridade de plantão?
Quando o Lula foi eleito o sentimento era esse. O Lula ganhou dois mandatos e a Dilma um e o Brasil mudou, a vida das pessoas melhorou. O sujeito pode achar que não melhorou tanto quanto ele gostaria, tudo bem, mas isso é suficiente para trocar totalmente de modelo? Porque o outro modelo temos precedentes.
O eleitor mostrou que quer discutir isso melhor, por isso a eleição foi para o segundo turno.
Exatamente. No primeiro, essa dicotomia não fica tão clara, porque tem vários candidatos, teve essa comoção enorme com a morte do Eduardo Campos, teve a Marina. Agora, não. Tem um e tem outro. Eu quero crer que o povo vai escolher manter o caminho da mudança na linha da presidente Dilma e do presidente Lula, e não fazer, não vou dizer que é uma aventura, porque não é, é uma coisa até segura. Se você escolher o lado de lá é seguro, você sabe o que eles vão fazer, já estão falando. Vamos escolher?
O PSDB representa retroceder?
Para o povo é, sem dúvida. Não é para quem não precisa trabalhar para viver, é rentista, tem outros interesses.
Concorda com a avaliação do PT nacional de que é mais fácil enfrentar Aécio do que Marina?
A gente não escolhe adversário na eleição. Não vejo como classificar desta forma. Eu acho que a Marina era uma candidata do mesmo campo que nós. Tinha suas diferenças, mas era do mesmo campo.
Seria então mais difícil enfrentar a Marina?
Não sei, para mim acho que não, porque era uma escolha que não saía do campo. Agora, não, a escolha é continuar mudando ou parar com o processo de mudança e voltar ao esquema de concentração de renda que o Brasil conhece bem.
O mote de quem conhece Aécio não vota nele é bom para ser usado na campanha?
Não vou chegar a este ponto, não acho que a questão da campanha não vai ser este. A questão vai ser outra, no segundo turno o povo brasileiro vai ter de pensar maduramente, já está fazendo isto, e formular o que deseja. Se quer continuar no caminho aberto com o presidente Lula ou se quer dar uma guinada e ir para outro lado. Aí, a escolha tem seu preço.
Mas o PT está querendo usar isso como argumento: Aécio perdeu em Minas. Então, quem conhece o Aécio não vota no Aécio…
Acho esse argumento meio tosco para uma eleição nacional.
Por que o sr. diz que é tosco?
Porque eu acho que a escolha não vai ser feita a partir desse viés. A escolha vai ser entre um modelo que o povo conhece e está experimentado e um outro modelo que o Brasil já experimentou.
O sr. fez aliança com o Aécio em 2008 [na eleição municipal em BH] e o conhece. Acha que o PT tem que ter mais receio do Aécio do que do José Serra em 2010? O Serra sempre teve a pecha de não ser tão agregador, e o Aécio agregaria mais. Isso pode fazer diferença, comparado com 2010?
A gente até ouve muito: “Ah, o Aécio é um bom articulador”. É mas perdeu aqui para nós, o que mostra que ele pode ser bom, mas não é tão bom. O que eu quero dizer é que ninguém é infalível. Ele é um grande quadro político, mas pode perder. Pode perder inclusive na articulação política.
O que a Dilma tem que apresentar no segundo turno para ganhar a eleição? Qual é a sua proposta?
Eu não vou dar essa opinião em uma entrevista de jornal porque vai parecer leviano. Eu tenho liberdade suficiente para falar com a própria presidenta. Eu acho que pode sim inovar em algumas coisas, expandir. Ela está pensando nisso já, tem trabalhado nessa direção, tem conversado, mesmo comigo já conversou nessa direção, de acrescentar algumas novidades, algumas inovações. Não só ampliações, porque ampliação vai ter dos programas já existentes. Mas coisas novas efetivamente.