Em outros Carnavais, o casal Erika Maia, 26, e Ítalo Cardoso, 27, pegou um aparelho de som doméstico, instalou o equipamento em um carrinho de feira e partiu do Barreiro para a região Centro-Sul de Belo Horizonte para participar da folia. Perto da casa deles não havia programação oficial. Mas, neste ano, os dois resolveram montar o próprio bloco no bairro onde moram, o Não Acredito que te Beijei. Vizinhos também criaram o Esperando o Metrô, e dois tradicionais blocos da cidade escolheram a região do Barreiro para desfilar. Uma mudança que ocorre em todas as regionais da capital.
Dados da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur) mostram um movimento de descentralização em curso. No ano passado, as regiões Centro-Sul e Leste representavam 75% da programação dos blocos de rua. Em 2018, essa soma cai para 62%. Isso não significa diminuição de blocos nas duas regionais, mas, sim, crescimento no restante da capital. Pela primeira vez, todas as regiões vão receber algum evento.
O Barreiro, que não teve desfile em 2017, vai concentrar 2% dos cortejos em 2018. A região Oeste tinha 6% da programação e passa para 9%. A Noroeste também se destaca, com expansão de 5% para 8%. Das regiões mais periféricas, a única que manteve programação estável é Venda Nova, com 2%.
“Nosso mote é ‘Carnaval para Todos’. Por isso, é importante que ele aconteça em toda a cidade”, diz o presidente da Belotur, Aluizer Malab. Ele atribui a descentralização não só ao trabalho dos blocos de rua, mas também ao aumento de três para nove palcos oficiais, instalados pela prefeitura, que terão shows e, desta vez, chegam a regiões como Barreiro, Venda Nova e Norte.
Essência. Mas a pulverização que se vê hoje da festa veio junto com o movimento de reflorescimento dos blocos de rua em Belo Horizonte, há oito anos. “A retomada da folia de rua já veio com esse ímpeto de deslocamento, de encontro com o outro, com a diferença”, explica o antropólogo Rafa Barros, 34, fundador do tradicional Filhos de Tcha Tcha, criado em 2010. O bloco sempre elege locais para desfilar onde já existem lutas políticas e sociais e, neste ano, escolheu o Barreiro.
“A descentralização do Carnaval incentiva uma forma democrática e abrangente de ocupação do espaço. É também uma ação mais sustentável em termos de planejamento urbano”, destaca Rodrigo Picolé, regente do Tchanzinho Zona Norte, bloco que traz, desde 2013, a bandeira da periferia no nome.
Na região Oeste, o Me Beija que Sou Pagodeiro enfrentou resistência por atrair multidões em uma área residencial. Neste ano, vai para a avenida do Contorno, mas sem sair da região. “A resistência é natural, mas é preciso aprender a conviver. O Carnaval de rua traz em si um desejo de ocupação do espaço público por pessoas que são diferentes”, conclui o advogado Matheus Brant, fundador do bloco.
Bloco reúne dezenas de foliões
A expressão popular “queimar o filme” significa estragar a reputação de uma pessoa. Mas para o bloco de Carnaval Queimando o Filme, que animou a tarde de sábado (27) na praça Duque de Caxias, no tradicional bairro Santa Tereza, região Leste de Belo Horizonte, a proposta é outra: cair na folia e ser feliz. A festa reuniu dezenas de pessoas de todas as idades, muitas delas fantasiadas.
De acordo com o produtor de vídeo Pedro Flores, 20, o bloco foi criado por amigos que trabalham com produção de vídeos e de cinema. “O nome tem duplo sentido: queimar o filme do cinema, das produtoras, e a expressão “queimando o filme” nas ruas”, brinca.
Segundo ele, o bloco surgiu há quatro anos, no Santo Antônio, na região Centro-Sul, mas, como o bairro tem muitas ladeiras, e eles queriam circular mais, escolheram o boêmio Santa Tereza, onde, segundo ele, o Carnaval de BH ressurgiu em 2013. A concentração do bloco começou às 10h, e, às 14h, os foliões saíram pelas ruas.
Bateria feminina. Outro bloco que desfilou no sábado em Belo Horizonte foi o Sagrada Profana, no Santa Inês, também na região Leste. A bateria do grupo é formada apenas por mulheres. (Pedro Ferreira)
Blocos deste domingo (28)
Não Bloco Bruta Flor – 13h, praça Rui Barbosa, 50, centro
Pega que Sara – 13h, praça Comendador Negrão, 159, Floresta
Afrodum – 14h, avenida Brasil, 944, Santa Efigênia
Abre que Tô Passanú – 14h, praça Marino Mendes Campos, 12, Anchieta
Bloco Família Zn – 14h, rua Henrique Tenn, 279, São Bernardo
Os Jacarés e as Capivaras – 14h, avenida Portugal, 2.596, Jardim Atlântico
Jú Quebradinha – 16h, avenida Américo Vespúcio, 965, Aparecida