Os relatos de assédios dentro da Polícia Civil de Minas Gerais expostos após a morte da escrivã Rafaela Drummond, que tirou a própria vida no dia 9 de junho, serão alvo de debate na Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa (ALMG). A mulher de 31 anos trabalhava em uma delegacia em Carandaí, na Região Central do estado, e relatou a amigos e familiares situações de abuso e assédio por parte de colegas homens.
A audiência pública vai acontecer na sexta-feira (30/6), às 13h, no Auditório José Alencar da ALMG, em Belo Horizonte. A reunião tem o objetivo de debater o caso de Rafaela como também a atual situação da saúde mental dos servidores da PCMG.
Em entrevista ao Estado de Minas, no dia 14 de junho, o diretor do Sindicato dos Escrivães de Polícia do Estado de Minas Gerais (Sindep-MG), Marcelo Horta, afirmou que o dia a dia dos agentes é estressante, e, normalmente, é somado a um ambiente de trabalho pouco saudável. “A gente entende que é uma tragédia o que aconteceu. É uma tragédia anunciada. O sindicato tem atuado fortemente no combate ao assédio que é uma coisa terrível que acontece na polícia.”
De acordo com a Comissão de Segurança Pública, os agentes da corporação se sentem vulneráveis diante de perseguições que ocorrem na instituição, devido à falta de efetivo, à sobrecarga de trabalho e à falta de equipamentos para a devida prestação da política pública, com convocação da chefe da Polícia Civil, do secretário de Estado de Governo e da secretária de Estado de Planejamento e Gestão.
Investigação
Na última quinta-feira, a Corregedoria-Geral da Polícia Civil de Minas Gerais anunciou que tomou a frente da investigação “de forma exclusiva” sobre a morte de Rafaela. Com isso, tanto a presidência do inquérito policial, quanto a apuração do processo disciplinar do caso serão feitas pela sessão. “A PCMG reforça que as investigações continuarão sendo conduzidas de maneira isenta e imparcial.”
Em áudios aos quais a reportagem do Estado de Minas teve acesso, e que já estão sendo periciados pelos órgãos competentes, evidenciam a rotina de trabalho conturbada vivida pela escrivã na delegacia de Polícia Civil de Carandaí. Em uma das mensagens enviadas para uma amiga, a mulher detalha como foi uma discussão com o delegado da unidade policial.
A briga teria começado por causa de um pedido de mudança na escala de folgas, uma das principais reclamações da escrivã enquanto trabalhava. “Ele falou que eu tinha cismado com isso, falando que ele tava de implicância. Ele disse que eu não gosto de receber ordens. Mas não é isso, ele estava implicando por causa do carnaval”, disse.
A infelicidade com o delegado continua em outra mensagem. A escrivã conta como foram os dias seguintes à discussão. “O delegado é aquele tipo de pessoa que gosta de colocar o terror psicológico, gosta de atazanar. E eu não abaixo quando estou certa, por isso toda essa confusão. Tenho vontade de nem voltar lá. Ele colocou tanto terrorismo em cima de mim que eu não aguentei. Quando estou certa, eu rebato. Agora, já percebi. Vou chegar lá só e fazer minha parte.”, relatou.
Em outro áudio a jovem explica que não queria tomar providências em relação a situações de perseguição, boicote e até uma tentativa de agressão física, por medo. “Não quis tomar providência porque ia me expor. Isso é Carandaí, cidade pequena. Com certeza ia se voltar contra quem? Contra a mulher. Eu deixei, prefiro abafar. Eu só não quero olhar na cara desse boçal nunca mais”, narra.
Desde que o caso veio á tona, um delegado e um investigador que teriam envolvimento nas situações narradas pela escrivã foram tranferidos para outra delegacia da PCMG, em Conselheiro Lafaiete, também na Região Central de Minas.