O médico Álvaro Ianhez foi preso na tarde desta terça-feira (9/5), mais de um ano depois de ter sido condenado a 21 anos e oito meses pela morte e retirada ilegal de órgãos do menino Paulo Veronesi Pavesi, de 10 anos, em Poços de Caldas, no Sul de Minas. O crime aconteceu em abril de 2000, na Santa Casa da cidade.
A detenção aconteceu 23 anos após o crime, depois que o Superior Tribunal de Justiça cassou a liminar que impedia a prisão de Ianhez. Ele está sendo encaminhado para a cidade de São Paulo (SP), onde vai ficar à disposição da Justiça.
De acordo com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Justiça de Minas já foi comunicada da prisão. “Caberá ao Departamento Penitenciário de Minas Gerais a transferência do preso para uma unidade prisional do estado.”
Ianhez foi condenado por homicídio qualificado por motivo torpe. Em sua decisão, o juiz responsável pelo caso considerou o crime hediondo e não concedeu ao condenado a possibilidade de recorrer em liberdade. No entanto, a defesa do médico apresentou vários pedidos para impedir a prisão, e o STJ concedeu a liminar em 29 de abril de 2022.
Outras condenações
Outros dois médicos envolvidos no crime foram condenados em janeiro de 2021. José Luis Gomes da Silva e José Luis Bonfitto também responderam por homicídio qualificado por motivo torpe e não puderam recorrer em liberdade.
Já Marco Alexandre Pacheco da Fonseca, também médico, foi absolvido pelo júri. A conclusão foi que a atitude do réu não gerou a causa da morte do menino.
Relembre o caso
Paulo Veronesi Pavesi caiu de uma altura de 10 metros do prédio onde morava em Poços de Caldas, em abril de 2000. Ele foi levado para o Hospital Pedro Sanches e, dois dias depois, transferido para a Santa Casa da cidade, onde os médicos teriam constatado a morte cerebral e que os órgãos da criança haviam sido retirados e transplantados.
No entanto, a suspeita é que ele estava clinicamente vivo quando seus órgãos foram retirados.
O pai da criança desconfiou das circunstâncias da morte depois de receber uma conta do hospital de quase R$ 12 mil. De acordo com as informações, a cobrança era referente a medicamentos para remoção de órgãos, que, na verdade, deveriam ser pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O caso levou a uma investigação sobre irregularidades no esquema de transplante de órgãos em Poços de Caldas. A conclusão do inquérito da Polícia Federal apontou que o exame para constatar a morte cerebral do menino foi irregular.
A investigação deu origem a outros inquéritos, e a Santa Casa perdeu o credenciamento para realizar transplantes de órgãos. De acordo com o Ministério Público (MP), a documentação que comprovou a morte encefálica do menino foi forjada com o objetivo de tornar a criança uma doadora.
Segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), na denúncia consta que a equipe médica cometeu uma série de atos e omissões voluntárias forjando a morte do menino para que ele fosse doador de órgãos.