O desafio do uso de celulares em sala de aula: uma reflexão para o Dia dos Professores
“Alguém ficou com alguma dúvida?”, “Gostaria de acrescentar algo?”, “Querem que eu retome alguma ideia?”. Essas são perguntas comuns em qualquer sala de aula, mas que frequentemente são respondidas apenas com silêncio. Para muitos professores, esse silêncio é como um banho de água fria. Ao se virar para os alunos, muitos professores se deparam com uma realidade desanimadora: os cadernos já foram abandonados e os celulares tomaram o lugar, transportando os alunos para outro universo.
Neste Dia dos Professores (15 de outubro), é provável que muitos docentes desejassem de presente uma solução para esse dilema e uma forma de estabelecer uma interação mais saudável com os estudantes. O uso de celulares em sala de aula é visto por muitos especialistas em educação como um dos maiores desafios para o ensino atualmente. Além de ser uma distração significativa, a presença dos celulares pode dificultar o envolvimento dos alunos e comprometer o processo de aprendizagem.
Desafios e soluções
Pesquisadores em educação concordam que é preciso capacitar os professores para lidar com essa nova realidade. Gilberto Lacerda dos Santos, professor do Departamento de Educação da Universidade de Brasília (UnB), afirma que a profissão docente transita entre dois ritmos: o de preservar o conhecimento acumulado ao longo do tempo e o de se adaptar às novas tecnologias que fazem parte do cotidiano dos alunos. Para ele, a solução passa pela formação inicial e continuada dos professores, que devem estar preparados para integrar essas tecnologias de forma atraente e produtiva.
“A sala de aula não pode estar desconectada dos nossos dias”, defende Lacerda dos Santos, que também é pesquisador visitante no Museu de História Natural da França. Ele destaca a necessidade de políticas públicas que valorizem a docência, oferecendo formação e apoio aos professores para que consigam utilizar as tecnologias de forma eficiente. “Os professores são o cartão de visitas de uma instituição de ensino. Eles formam os cidadãos e precisam ser valorizados”.
O impacto global
Os desafios enfrentados pelos professores brasileiros em relação ao uso de celulares em sala de aula não são exclusivos do país. Em diversos lugares do mundo, há discussões semelhantes. Fábio Campos, pesquisador do Laboratório de Aprendizagens Transformadoras com Tecnologia, da Universidade de Columbia (EUA), comenta que a “epidemia do celular” em sala de aula tem sido uma preocupação global. “Não basta só proibir os celulares por lei. Precisamos ensinar como usar a tecnologia de forma virtuosa na sala de aula”, argumenta.
Para Campos, o uso indiscriminado de celulares também traz à tona questões de saúde mental, como ansiedade e depressão, que têm se tornado mais comuns entre os jovens. Ele lamenta que, apesar de a tecnologia ser uma ferramenta poderosa, ainda falte uma política nacional clara no Brasil para integrar seu uso de maneira produtiva na educação. “É triste que, após uma pandemia onde dependemos tanto das tecnologias digitais para a aprendizagem, o Brasil não tenha investido em uma política eficaz para isso”, critica.
O que dizem as pesquisas
A TIC Educação, uma pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) em 2023, revela que seis em cada dez escolas de ensino fundamental e médio adotam regras para o uso de celulares em sala de aula, permitindo seu uso apenas em determinados momentos. Em 28% das instituições, o uso é completamente proibido. O relatório de 2023 da Unesco sobre o Monitoramento Global da Educação também destacou os riscos associados ao uso excessivo de telas, apontando para os malefícios de exposições prolongadas à tecnologia.