Por que falar mal da vida alheia enquanto você pode desbravar a cidade e conhecer sabores e paisagens inesquecíveis? Essa foi a resposta de moradores de cidades do Sul de Minas depois que, no início deste mês, o ranking do sexo invadiu as redes sociais e expôs mulheres das cidades.
Para reverter a imagem negativa, eles montaram listas com 50 coisas boas para desfrutar nas cidades antes tomadas pela lista do mal. O ranking do sexo foi divulgado em pelo menos duas cidades: Muzambinho e Guaranésia, onde os nomes de moradoras, entre adolescentes e casadas, apareceram seguidos de ofensas e comentários pejorativos como “só tem cara de santa” ou “a pior”. O caso de Muzambinho está sob investigação.
A professora de biologia Yasmim de Oliveira Almada Moraes, de 27 anos, foi quem teve a ideia de montar a lista do bem. “Essa lista foi uma resposta ao ranking do sexo. É um absurdo que em pleno século XXI ainda se preocupem com quem faz sexo”, disse.
Em um grupo de WhatsApp com cinco meninas e um menino, Yasmim começou a ter ideias para rebater a tal lista do sexo. “Fizemos lista de coisas para se fazer em Muzambinho ao invés de se preocupar com a vida alheia. Começamos a colocar pontos turísticos, coisas que nós fazíamos”, detalhou.
Na lista do bem há atividades simples, como andar de patins na avenida, ir ao parque municipal e caminhar no jardim. E outras relacionadas a estabelecimentos comerciais tradicionais nas cidades, como: comer pastel da Doce Vício e comer a panqueca do bar do Lu. “Quem está de passagem (pela cidade) acha que não tem nada, é uma cidade pequena. Então a gente queria mostrar que há coisas maravilhosas na cidade, ao invés de as pessoas estarem com esse pensamento antigo”, acrescentou.
Guaranésia
A repercussão da nova lista foi tão positiva que moradores de Guaranésia aderiram à ideia. A professora de educação infantil Walessa Rodrigues, de 26 anos, e o radialista Antonio Claudio, de 40, assumiram o movimento positivo na cidade, que também fica no Sul de Minas. “Comprei a ideia porque recebi essas listas denegrindo a imagem das mulheres. Me incomodei muito”, justificou Walessa.
O que impressionou Walessa foi que pessoas que vivem na cidade só passaram a prestar atenção nos pontos turísticos depois de receberam a lista do bem. “Há muitas coisas gostosas para se fazer em Guaranésia que a gente simplesmente esqueceu”, disse. Entre os conselhos da lista estão: comer pastel na feira e tirar fotos dos ipês na primavera.
Menores ainda no alvo
A Polícia Civil, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que há um procedimento de investigação em Muzambinho, no Sul de Minas, cidade que iniciou a onda de ranking do sexo. Vítimas não procuraram a corporação em Guaranésia nem em Monte Belo, na mesma região, que também teria tido casos.
Ainda segundo a Polícia Civil, o crime é tratado como injúria, que depende de representação da vítima. A punição é detenção de um a seis meses ou multa. Os policiais já identificaram alguns suspeitos, sem revelar detalhes.
Já o juiz Flávio Schmidt informou à reportagem que uma adolescente de 13 anos confessou que deu início ao ranking do sexo em Muzambinho. Ela teria repassado a ideia para outra adolescente de 14 anos. Além da dupla, conforme o magistrado, outros seis garotos teriam participado da criação da lista do mal.