Escolas paulistas dominam a lista das maiores médias no Enem 2017 do país inteiro. Das 100 unidades mais bem colocadas na prova, 30 são do estado de São Paulo.
A região Sudeste concentra 85 das 100 escolas mais bem posicionadas. Minas Gerais tem 23, Rio de Janeiro, 16, e Espírito Santo, 6. O cenário é semelhante ao registrado a partir dos dados do Enem 2016.
A Folha de S.Paulo levou em conta apenas escolas com pelo menos 61 estudantes no 3º ano -grupo que se aproxima do universo de escolas brasileiras. As médias foram calculadas com notas da prova objetiva (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas).
A tabulação resultou em um total de 6.499 escolas, sendo 5.227 públicas e 1.272 privadas.
Mesmo havendo predomínio das escolas paulistas no top 100, a de São Paulo com maior nota aparece só na 11ª posição do ranking nacional.
Trata-se do Vértice, colégio particular do Campo Belo, na zona sul da capital paulista. Os 66 alunos no Enem 2017 alcançaram, na média, 686,50 pontos. Na redação, a nota foi de 769,39. O Vértice tem 1.300 alunos no total, sendo 250 no ensino médio. São apenas duas turmas de 3º ano.
O diretor, Adilson Garcia, diz que a escola não tem projetos específicos com foco no Enem, embora a equipe pedagógica mantenha análises sobre os dados do exame para entender os pontos fortes e fracos dos estudantes.
“Nossos alunos sempre foram preparados para os grandes vestibulares, mas isso não pode virar uma fobia. É muito importante que, na hora que ele terminar a educação básica, esteja preparado para ser um cidadão global”, afirma.
As mensalidades são de R$ 4.230 no 1º e 2º anos. No 3º ano, com aulas em tempo integral, são de R$ 4.890.
Somente 7 das 100 maiores notas do Enem são de escolas públicas –5 federais e 2 estaduais de ensino técnico.
O Coluni (Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa), de Minas Gerais, é a pública mais bem colocada no país. Com média de 689,81 na parte objetiva, a escola ficou na 7ª posição nacional.
O Objetivo Integrado aparece com a maior nota do país entre as escolas que concentram poucos alunos. Os 40 estudantes da unidade alcançaram média de 722,80.
Líder tem mensalidade de R$ 2.212
Uma escola de Belo Horizonte, que nasceu como pré-vestibular em 2000 e se prepara para abrir turmas de ensino infantil, ficou pelo quinto ano seguido em primeiro lugar no Enem entre os colégios com mais de 60 alunos participantes.
Localizado em região nobre da capital mineira, o colégio Bernoulli tem mensalidades que chegam a R$ 2.212.
“Além do Enem, a gente se preocupa com a formação do cidadão: visão de mundo, segurança, estabilidade emocional”, afirma Rommel Fernandes, 44, diretor do grupo.
Os 298 alunos da escola no Enem chegaram, na média, a 712,91 pontos na parte objetiva e 840,81 na redação.
“Até a segunda série [do médio], a formação tem que ser completa para que, na terceira, seja tudo muito objetivo. Nessa hora a gente pensa como maximizar a chance de entrar na faculdade”, diz ele.
Desaparecem aulas de educação física, artes, teatro, trabalhos em grupo, excursões e, no lugar, entram nove simulados do Enem ao ano. Os alunos do 3º ano se mudam inclusive para a unidade do curso pré-vestibular.
O conteúdo do pré-vestibular e do 3º ano é idêntico, com turmas de 50 alunos, aulas à tarde e aos sábados, duas redações por semana e preparação extra para ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), USP, Unicamp e olimpíadas de diversas disciplinas.
No 1º ano de medicina na Federal de Minas Gerais, a ex-aluna Luísa Gomes, 18, diz que hoje sente falta das aulas dinâmicas. “Se alguém tem dúvida, não tem medo de perguntar. É melhor que ficar só aquele monólogo a aula toda.”
Nos corredores do colégio, há cartazes com os aprovados em direito, medicina e engenharia em vestibulares concorridos. Fotos dos primeiros colocados também estão nas portas dos elevadores.
Fernandes é egresso do ITA. Deu aulas em pré-vestibulares antes de fundar o Bernoulli. É dono de uma rede de ensino que completa 19 anos. Cerca de 400 escolas no Brasil usam material didático do grupo.
Uma nova unidade em Salvador alcançou a 7ª melhor nota do país, já com a primeira turma de 3º ano, entre escolas de pequeno porte, com até 60 estudantes.
A escola de BH tem seleção de alunos. Aqueles que acertam 60% em uma prova geralmente conseguem a vaga.
Mas o Bernoulli não separa os alunos em turmas por rendimento ou área do conhecimento. Pontuar que as pessoas não são iguais é um dos argumentos para diluir a pressão sobre os vestibulandos.
A fórmula foi absorvida por João Pedro Júnior, 17, que quer cursar ciências da computação: “O importante é não ligar pra competição com os outros, é você com você mesmo”.