Uma idosa, que vive cercada pelo tráfico e uso de drogas no bairro São Cristóvão, na região Noroeste de Belo Horizonte, tentou escapar da violência na madrugada desta quinta-feira (8) e acabou colocando a vida dela em risco do mesmo jeito.
Durante um temporal, o deslizamento de uma encosta na Avenida Antônio Carlos levou parte dos fundos da residência da mulher de 62 anos e das casas de dois parentes dela que moram ao lado, e a mulher se recusou a abrir o portão para os técnicos da Defesa Civil, achando se tratar de usuários de drogas da cracolândia. A rua também fica ao lado do aglomerado Pedreira Prado Lopes (PPL) e a violência do lugar assusta a dona de casa, principalmente de madrugada, segundo ela.
“Eles gritavam que eram da Defesa Civil, mas aqui você não pode ficar atendendo gente assim, não, uai! Gritei com eles, falei mesmo: ‘Não, vocês não vão entrar, não’. E eles disseram: ‘Se não vamos entrar, então vamos chamar a polícia’. E eu gritei: ‘Então, quem vai ligar para a polícia agora sou eu. Eu ligo para a polícia e depois que a polícia vier, aí vocês podem entrar’”, conta a moradora.
“Fiquei com medo da violência. Não pelo fato de ter acontecido isso. Eu nem tinha percebido que a terra tinha levado parte da minha casa. Achei que era só o muro que havia cedido, mas o problema foi grande. Só depois percebi o risco maior que eu estava correndo”, comentou. Uma pia que estava guardada no quintal da casa dela foi parar na Antônio Carlos, em meio aos escombros.
A mulher conta que estava acordada na hora do desabamento, porque não consegue dormir quando chove forte. O muro, segundo ela, já havia desabado há alguns anos, durante obras de duplicação da Antônio Carlos, e desde então ela diz não se sentir segura.
A casa da idosa e de uma irmã foram parcialmente interditadas. Já a residência do sobrinho dela foi totalmente interditada. Ele teve que deixar a casa onde mora com a mulher, a sogra e o filho. As residências ficam nas ruas Popular e Carajás, e os fundos dão para a Antônio Carlos.
Os escombros desceram levando partes dos imóveis e atingiram um casal de usuários de drogas que dormia em uma cabana improvisada, sobre o passeio da Antônio Carlos, na alça de acesso ao viaduto República do Congo, próximo ao Conjunto IAPI. O homem ficou com terra até o pescoço e foi socorrido pelos bombeiros e levado para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS) com fratura no braço e corte na cabeça. A mulher teve escoriações leves.
O sobrinho da idosa, um motorista de 34 anos, conta que foi acordado por volta das 4h, pelo barulho do muro descendo com o barranco, e também com os gritos de socorro do morador de rua. “A minha mãe gritava e o usuário de drogas gritava também, soterrado até o pescoço. Abri a janela e me deparei com um buraco enorme na minha frente, onde ficava o muro. Chamei a minha esposa, a mãe dela e o meu filho, porque havia risco dos quartos desabarem também”, conta o motorista.
Outro morador afetado, um vendedor de 35 anos, conta que acordou sobressaltado. “Deu aquele barulhão e a gente não sabia se era batida de carro. A gente saiu correndo e viu o morador de rua gritando: ‘socorro, socorro’. Ligamos para a polícia e juntaram pelo menos dez homens dos bombeiros para retirar o homem com vida”, comentou.