Começou na manhã desta terça-feira (6) o tão esperado trabalho de limpeza dos 12 profetas esculpidos por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814) e destaque do adro do Santuário Basílica Bom Jesus de Matosinhos, Patrimônio Mundial e cartão postal de Congonhas, na Região Central de Minas.
Com andaimes montados em quatro esculturas (Abdias, Habacuc, Naum e Amós), que ficam em plano mais elevado e extremidades do adro do santuário, a equipe do Grupo Oficina de Restauro, de BH, fez aplicação de álcool 70, e, em seguida, do biocida na superfície de pedra-sabão.
A limpeza com o biocida é feita em braços, cabeça e outras partes das esculturas em pedra-sabão para remoção de líquens e fungos que demandam tratamento especializado e sem interferir na beleza e integridade do conjunto bicentenário. A última limpeza dos profetas, com aplicação de biocida, produto totalmente natural segundo especialistas, ocorreu em 2012. O serviço, na parte da manhã, foi acompanhando pelo prefeito local, Cláudio Antônio de Souza, pelo reitor do santuário, cônego Nedson Pereira de Assis, e pelo diretor de Patrimônio Histórico de Congonhas, Hugo Cordeiro.
“Fizemos a limpeza nos quatro profetas, e, amanhã, vamos trabalhar nos oito restantes. O álcool, que evapora rapidamente, é usado para ‘preparar o terreno’ para a aplicação do biocida”, explicou Adriano Ramos, do Grupo Oficina de Restauro, que atua, nesse empreitada, com a também restauradora Rosângela Reis Costa.
Serviço
A Prefeitura de Congonhas custeia e está à frente do serviço, conforme entendimento com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pelo tombamento do conjunto em 1939, e autorização do reitor do santuário basílica, padre Geraldo Gabriel Pinto. A limpeza, programada para ocorrer de cinco em cinco anos, está atrasada em seis anos, e foi alvo de reportagem do Estado de Minas em 3 de novembro de 2021, quando visitantes mostraram essa preocupação com o bem cultural histórico e religioso.
Nascido e criado em Congonhas, o escultor Luciomar Sebastião de Jesus diz que, com a limpeza, moradores e visitantes poderão ver os 12 profetas em toda a beleza concebida por Aleijadinho. “O trabalho minimiza o impacto visual causado pelos líquens, que vão se enraizando na pedra-sabão e causando interferência nas peças”, afirmou o escultor.
Obra-prima
De acordo com o Iphan, o conjunto dos profetas do Antigo Testamento, esculpido por Antonio Francisco Lisboa (1738-1814), o Aleijadinho, em conjunto com o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, é considerado uma das obras-primas do barroco mundial. O conjunto foi tombado pelo Iphan em 1939 e reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial em 1985.
Com grande visitação turística, o conjunto se compõe da igreja, com interior em estilo rococó e seis capelas dispostas lado a lado denominadas de Passos – ilustrando a via-crúcis de Jesus –, além de um adro murado e uma escadaria externa monumental decorada com estátuas de 12 profetas esculpidas em pedra-sabão entre 1800 e 1805.
A escolha de 12, dentre os 16 profetas que constituem a série do Antigo Testamento, se deve, conforme a especialista em arte sacra e colonial do Brasil, Myriam Andrade, à disposição arquitetônica dos suportes para as esculturas. Assim, o artista restrito a esse número selecionou os profetas na ordem de sua entrada na Bíblia, excluindo Miquéias para dar lugar a Habacuc. Cada um deles traz lateralmente o texto de sua profecia gravados em latim nos rolos de pergaminhos.
A riqueza de detalhes pode ser percebida pelos visitantes, seja no expressionismo das estátuas ou nas exóticas vestimentas dos profetas barrocos. Essa última foi, inclusive, tema de pesquisa do historiador Robert Smith, que verificou referências à arte religiosa portuguesa no período de 1500-1800, inspirada nas pinturas flamengas do fim da era medieval.