As ruas do Bairro Belvedere, na Região Sul de Belo Horizonte, antes de uso exclusivo residencial, agora recebem um novo tipo de movimento com a expansão e a chegada de novos comércios. Isso porque, na última revisão do plano diretor da cidade, a Lei 11.181/2019 concedeu a algumas vias uma maior permissividade de uso. O impacto pode ser visto já em diversas áreas do bairro com a inauguração de lojas e construção de galerias, que trazem, principalmente, marcas de luxo e de alto padrão.
A decisão da alteração no zoneamento ocorreu, de acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), após amplo processo de discussão pública na IV Conferência Municipal de Política Urbana envolvendo diversos setores da sociedade civil. A Lei em questão foi resultado de propostas apresentadas de alterações do uso do solo e foi aprovada na Câmara Municipal de Belo Horizonte em agosto de 2019. Desde então, novos empreendimentos podem ser vistos surgindo pelas ruas do bairro nobre da capital mineira.
De acordo com Cássia Ximenes, presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e o Sindicato de Habitação (CMI/Secovi-MG), a maior permissividade no uso do solo e o aparecimento de novos investimentos comerciais tem a ver com a mudança de dinâmica da cidade. “O mercado imobiliário acompanha a dinâmica da cidade e os centros de comércio alteram essa dinâmica. O comércio de alto padrão passou por vários lugares. Primeiro no Centro, depois a Savassi, mais recentemente no Lourdes e agora, com essa mudança, começa a ir para o Belvedere”, afirma.
Ainda de acordo com Cássia, a alteração do polo comercial de alto padrão ocorreu devido ao adensamento demográfico que ocorreu na região nos últimos anos. “Começou a ocorrer a construção de muitos prédios ali naquela região, que é divisa entre BH e Nova Lima, e começou a surgir uma demanda para atender esse público de alto poder aquisitivo”, conta.
“É uma demanda natural. Acaba sendo menos necessário se movimentar para ir até o comércio e o comércio se adequar para atender o público de padrão mais alto. E aí surge essa demanda da população que pressionou para o surgimento dessa nova legislação.”, continua Cássia.
Apesar da maior permissividade, o comércio ainda tem que se adequar a algumas restrições, com o objetivo de preservar o ambiente residencial. A presidente do CMI/Secovi-MG afirma: “É necessário respeitar alguns limites para bem viver. Se adequar ao trânsito, energia, condições de saneamento, água disponíveis e ainda preservar a paisagem do Belvedere, que dá visão para a Serra do Curral, que é tão importante para a cidade.”
*Estagiária sob supervisão do
subeditor Rafael Rocha
Galerias de luxo
É possível ver muitas lojas estabelecidas, mas existem também nas vias do bairro diversas galerias em construção. É o caso do Meeting Shops, lançado em maio deste ano e que aguarda ser ocupado pelas marcas. O objetivo é ser um Lifestyle Center com lojas de luxo. A previsão de inauguração é para o segundo semestre de 2023.
O que diz a população
l Dentre as vias que receberam a
Permissão Especial, está uma parte da Avenida Paulo Camilo Pena, onde está sendo implementado o Jardim Belvedere, pequeno shopping que já acumula
algumas marcas de alto padrão.
l De acordo com Alexandre Magno, vendedor de uma ótica no shopping,
a intenção dos empreendedores que chegam ao Belvedere é transformar o bairro em um novo point comercial. “É um público mais exigente e estamos com uma expectativa muito boa. Abrimos há cerca de 1 ano e meio e está bem satisfatório. Alguns empreendedores têm a intenção do Belvedere ser o que a Savassi foi um dia, com um comércio, produtos e público mais selecionados e seletivos”, comenta.
l A expansão comercial tem agradado alguns moradores, mas o desejo é que a essência do bairro seja mantida. É o que afirma Kathia Andrade, moradora da região. “Achei até bom, porque não precisa ir até o centro para achar as coisas, tem mais facilidade. Mas pode acabar reduzindo algumas características do bairro de ser mais tranquilo, as casas bonitas, que estão virando comércio, a liberdade de caminhar na rua”, afirma.
l Já outra moradora, que preferiu não se identificar, afirma estar satisfeita com o cenário do comércio atual, mas se a expansão foi muito grande, o resultado pode não ser ideal. “Está aumentando bastante, acho ótimo aumentar o comércio. Do jeito que está agora está bom, mas se aumentar muito acho ruim. Não sei se vai ter essa demanda toda, não sei o que vai virar o trânsito no bairro, que já está mais movimentado. Talvez seria melhor se fosse mais afastado da área residencial”, opina a mulher, que vive no Belvedere há 13 anos.