A Conferência Municipal de Saúde da Mulher teve uma pauta bem interessante. Olharmos os fatores que levam as mulheres a ficar doentes. A palestrante Dra. Soraia Cintra falou claramente com os participantes. Em entrevista, ela fala que o feminismo deve acontecer sim.
“A gente tenta trazer um pouquinho de cada coisa, justamente para poder despertar nas pessoas que estão na conferência, alguma coisa que elas não pararam para pensar, porque quando a gente vai falar de saúde, a gente precisaria de um dia todo para discutir, porque é muito assunto e nós mulheres temos muitas particularidades, que às vezes os nossos colegas homens não têm. Primeiro, que a gente até se cuida mais, mas mesmo assim a gente está diante de doenças muito específicas, de situações muito específicas, então tentei trazer alguma contribuição nesse sentido, para que agora a hora em que elas forem conversar, trazer alguns elementos que elas não tivessem pensado ou já tivessem pensado, mas estavam guardados, porque às vezes ficam com vergonha de abordar, porque nós temos uma questão física que é diferente do homem. Enfrentamos algumas situações, por exemplo, a gravidez, que não é doença, mas ela pode ocorrer normalmente, você passar bem durante os nove meses e tal, mas a gente tem a gravidez de risco, que precisam de uma atenção. O município está dando conta dessas mulheres, dessa situação, dessa gravidez de risco? Uma coisa que acabei até não abordando aqui, do direito reprodutivo. O município está atento aos direitos reprodutivos da mulher? Ele tem o atendimento para aquela mulher que não quer mais ter filhos? Ele faz o encaminhamento para ela ser operada, ou para o seu companheiro ser operado? Porque a cirurgia do homem é tão mais simples e mais rápida do que a da mulher. Então o sentido foi um pouco nesse, de trazer alguns elementos e essas particularidades. Não adianta dizer que eles também não ficam doentes, é claro que eles ficam, alguns com doenças até mais graves, mas nós temos algumas particularidades que eles não têm, então acho que o município se ele não tem esse tipo de serviço, ele precisa olhar, para de repente ter um centro de saúde da mulher e congregar esses atendimentos específicos, que vão desde a primeira menstruação até quando a gente para de menstruar, então essas são as orientações que precisamos na vida”.
Pergunta: E isso não tem nada a ver com feminismo?
Soraia Veloso Cintra: Tem tudo a ver, é claro, porque o que a gente tem que pensar? O feminismo ultimamente virou como se fosse um xingamento, as pessoas têm medo de se dizer feministas, não eu não tenho medo de me dizer feminista, porque eu luto pela igualdade, eu respeito o fato que nós homens e mulheres somos diferentes biologicamente, é claro que nós somos diferentes, não dá nem para falar, mas o feminismo está aí para lutar pelos nossos direitos e direito igual. O feminismo não mata, já o machismo mata e a violência contra a mulher é um outro problema seríssimo e gravíssimo. Eu não tenho os números de Capinópolis, mas devem ser iguais aos números do restante do país, as mulheres sofrendo com a violência quando tentam terminar relacionamentos, tanto no namoro, quanto no casamento. Recentemente uma mulher no Estado de São Paulo, recebeu seis tiros e o ex-marido ainda passou por cima dela. Ela nasceu de novo, não morreu, sobreviveu aos seis tiros e ao atropelamento e nesse momento ele felizmente está na cadeia.
Pergunta: Podemos notar que nas cidades grandes, como Uberaba, existe a delegacia da mulher, tem um centro de saúde específico para a mulher, que é isso que a conferência vem trazer para uma cidade pequena, não que vamos abrir de hoje para amanhã uma delegacia da mulher ou um centro de saúde, mas já se começa a plantar uma sementinha quanto à importância desse debate?
Soraia: Exatamente. O importante do debate, de repente não é trazer uma delegacia da mulher, mas trazer a discussão para cá justamente pela cidade ser pequena e o fato da cidade ser pequena é um ponto extremamente positivo, porque todo mundo conhece todo mundo, todo mundo conhece o homem violento, todos sabem que é ali que mora o senhor fulano, que bateu na mulher, ali que mora fulano que matou a anterior, então vamos lá conversar com o senhor fulano: Olha, nós estamos de olho em você, na sua violência e como isso está atingindo a sua atual esposa, por exemplo. Porque é muito importante repetir o que eu tenho dito sempre, nenhuma mulher gosta de apanhar, algumas ficam por ene motivos e não nos cabe julgar, cabe é estender a mão para essa mulher e dizer: a culpa não é sua, então as mulheres precisam entender isso. Você que está sofrendo violência, está doente com isso, a culpa não é sua. Procure ajuda, procure socorro, não fique aí sofrendo sozinha.
Pergunta: Como você vê a realização da 1ª Conferência Saúde da Mulher?
Soraia: Muito importante, acho que a cidade dá uma resposta à participação popular, porque é isso que a população anseia. A população anseia ser ouvida pelos seus gestores e quando o conselho consegue formar essa conferência, chamar as pessoas e elas virem, é isso que é importante e as mulheres que aqui estão, os homens também, estão representando uma população de mais de sete mil mulheres que tem aqui na cidade, então que essas mulheres se sintam representadas e aquelas que não puderam vir nessa primeira, acho que daqui a quatro anos deve ter a segunda, venham participar da segunda, entendendo que isso não é uma atuação politiqueira de prefeito x ou y. Sempre que tiver oportunidade venha participar, venha conhecer, venha dar a sua opinião, porque isso é muito importante.