Dizem que não existe nada maior e mais valioso do que coração de mãe. Quem nunca ouviu o ditado popular “em coração de mãe sempre cabe mais um”? Neste domingo (13), no dia dedicado a elas, a lavradora Nazaré Rodrigues dos Santos, 58, mãe de cinco filhos já adultos, recebeu o melhor e mais esperado presente: um coração novo.
Depois de um ano e meio de espera pelo transplante, ela conseguiu um doador e recebeu o coração em uma cirurgia que começou por volta de meio-dia e terminou no início da noite, no Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte. Até o fechamento desta edição, a informação era a de que tudo havia corrido bem, de acordo com familiares da paciente.
Nazaré saiu de Jaíba, no Norte de Minas, em 2016 e veio para a capital em busca de uma solução para uma insuficiência cardíaca causada pela doença de chagas, que destruiu células do seu coração.
A lavradora passou a morar com a filha caçula, a dona de casa Solane Gonçalves dos Santos, 27, que vive com o marido em Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte. “No início do tratamento, ela se sentia muito mal, mas, com o tempo, foi melhorando e decidiu voltar para Jaíba há um mês”, disse a filha. No entanto, Nazaré se sentia muito cansada. “Apesar da melhora, ela não dava conta de fazer muito bem as atividades de casa”, contou.
No sábado, a lavradora estava em casa, no Norte de Minas, quando recebeu a ligação informando sobre o doador. O novo coração veio de um jovem que morreu em um acidente de trânsito na Zona da Mata.
Nazaré veio de carro para a capital, às pressas, e foi direto para o hospital. O médico responsável pela cirurgia, Paulo Henrique Nogueira da Costa, disse que a paciente pode se considerar presenteada no Dia das Mães. “Receber um órgão no Brasil ainda é uma dificuldade muito grande. Realmente, é um presente o que ela está recebendo”, afirmou o cirurgião cardiovascular, que estava otimista com as condições da paciente para receber o novo órgão.
“No coração dela já cabia todo mundo, com esse novo, então, vai ser melhor ainda”, concluiu a filha Solane.
Fila. No Brasil, cerca de 32 mil pessoas aguardam por um transplante de órgão. Até o final do ano passado, 3.431 mineiros esperavam por um doador compatível.
Recusa. Enquanto milhares esperam, 43% das famílias dos potenciais doadores não autorizam a retirada dos órgãos.
Como doar. O passo principal para se tornar um doador é conversar com a sua família e deixar bem claro o seu desejo.
Compromisso. Não é necessário deixar nada por escrito. Porém, os familiares devem se comprometer a autorizar a doação por escrito após a morte.
Tempo curto é desafio para médicos
O cirurgião cardiovascular do Hospital das Clínicas, Paulo Henrique Nogueira Costa, explicou que a operação de transplante de coração é um “trabalho cronometrado”. “O procedimento é todo coordenado, temos uma equipe em Juiz de Fora, de onde o coração veio, e uma aqui (na capital). Estamos em comunicação o tempo todo trabalhando em paralelo. Quando o coração chega aqui, a paciente já está pronta para recebê-lo”, relatou o médico.
Segundo Costa, o coração é o órgão que menos tolera a isquemia – tempo que fica sem ser irrigado no organismo. “São apenas 4 horas entre parar de bater em um doador e voltar a bater no receptor. Temos só esse tempo”, contou.