Dona da história: Elizane Ramalho Pereira, 36 anos, dona de casa, Palmas, TO
No centro da sala a pessoa estirada no caixão. Os parentes choravam, cochichavam baixinho e eu passava por eles com o ouvido em pé para conhecer as histórias do morto. O que ele terá dito pela última vez? Será que sentia a chegada da morte? Algumas respostas vinham pelas conversas soltas no ar. Outras eu deixava a imaginação preencher.
Enquanto as pessoas só viam tristeza naquele ambiente, eu enxergava alegria. Tinha apenas seis anos de idade quando fui pela primeira vez ao enterro de um desconhecido. Menti a meu pai que o morto era tio de uma amiga e ele foi comigo. Enquanto ele dava seus pêsames, eu me divertia com as flores coloridas e com os chás e salgadinhos. Na escola, quando havia comentário de que alguém havia morrido, eu logo perguntava quando seria o velório.
Fingia que era da família
Eu fingia ser da família e entrava no velório de qualquer um. Dentro da casa do falecido, o mais legal era conhecer os cômodos e os armários do banheiro e imaginar o que o finado teria usado pela última vez. A impressão que eu tinha era de que só o morto sabia que eu estava ali. Isso, ao contrário de me assustar, me deixava tranqüila.
Reportagem: Ana Rita Martins
Fonte: Mdemulher