"Ao infinito e além". Esse é o propósito do mineiro Ivair Gontijo, um engenheiro que trabalha na NASA há quase duas décadas e fez parte do projeto que descobriu minerais de Minas Gerais em Marte. Esse feito será tema de um encontro virtual com o Museu das Minas e do Metal (MM Gerdau), na próxima quinta-feira (6/4), no Youtube da Gerdau.
Nascido em Moema, há 176km de Belo Horizonte, Ivair estudou em escolas e faculdade públicas durante toda a vida no Brasil. Atualmente, ele mora nos Estados Unidos, mas relembra uma parte da trajetória até alcançar o sonho. "Estudei em instituições públicas, fiz o segundo grau em uma escola agrícola e só depois fui cursar física na UFMG e me mudei para BH", diz Ivair .
"Quando me formei, comecei um mestrado em óptica, também na federal, e tive a oportunidade de cursar um doutorado na Escócia, em engenharia elétrica, na Universidade de Glasgow. Da lá, vim para a Califórnia, trabalhei nas indústrias de fibra de ótica e entre os projetos dessa época, fiz a fibra usada em cirurgias de catarata".
Apesar da ocupação de agora, ele afirma que não foi simples chegar à Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (tradução da sigla americana NASA). "O processo foi longo e exigiu paciência. Tentei entrar mais de três vezes, mas foi em 2006 que iniciei a carreira na NASA e estive na missão de lançamento e monitoramento do veículo Curiosity, em 2011", explica. Já foram dois longos trabalhos relacionados à Marte e, no primeiro, ele trabalhou na equipe responsável pelo desenvolvimento do radar que controlou o pouso do veículo no planeta.
A relação com Marte
Da curiosidade à especialidade, Ivair é autor do livro "A caminho de Marte: A incrível jornada de um cientista brasileiro até a NASA", que venceu o Prêmio Jabuti 2019, na categoria Ciências.
Além do Curiosity, ele participou da Missão Mars2020, sendo o engenheiro responsável pelas interfaces entre o veículo Perseverance e o instrumento SuperCam, construído por meio de uma colaboração internacional entre a França, Espanha e o Laboratório Nacional de Los Alamos, no estado do Novo México, Estados Unidos.
"Construímos um laser que detecta elementos químicos que formam minerais em Marte. O elemento mais comum lá é o ferro. Esse instrumento de deteção vai montado no veículo. Participei de todo o processo, desde 2015, e me mudei no fim de 2022, para outro projeto. Agora estou trabalhando para tirar fotos de exoplanetas- planetas que estão fora do nosso sistema solar, que ficam em órbita de outras estrelas", explica.
A semelhança dos minerais marcianos com os mineiros não espantou a equipe, embora seja algo muito curioso. "Tínhamos bastante indicações disso, justamente porque tem muito ferro lá. Mas agora além desse material, também detectamos outros, como titânio e silício, em quantidades enormes. Já esperávamos isso, pois todos os planetas se formaram da mesma nebulosa, então a composição deve ser parecida", diz.
"Agora, queremos descobrir materiais orgânicos, genuinamente marcianos, coletar as amostras e deixá-las na superfície do planeta. Outra missão vai lá para buscá-los, deixá-los em órbita e uma terceira equipe irá trazê-los para a Terra. Acreditamos que estarão aqui em 10 anos. A ideia é estudar e tentar responder as perguntas que sempre fazemos "será que há ou já houve vida em Marte?" ou "por que a Terra é coberta de vida e Marte é um planeta desolado?", afirma Ivair.
Durante o bate-papo na quinta-feira, o cientista vai dar mais detalhes sobre suas pesquisas e mostrar materiais encontrados em Marte que são semelhantes aos da Terra e, inclusive, estão expostos no MM Gerdau. Os participantes poderão enviar perguntas para Ivair, que deixou um incentivo para estudantes que sonham em trabalhar com ciências. "É preciso muito trabalho e muito foco, pensar a longo prazo. Se eu consegui, acredito que todos podem. Além disso, é preciso ter paciência, não vai ser rápido, não são 15 ou 10 anos. No meu caso, foram 30 anos. Objetivos ambiciosos levam tempo, mas valem a pena", finaliza.