Nascido e criado em Governador Valadares, o administrador de empresas Paulo Guido, de 46 anos, ganhou as redes sociais essa semana após publicar um vídeo em que ele aparece surfando – com muita maestria – as águas do rio Doce. Embora surpreendente para quem vê pela primeira vez, a prática já é comum para ele, que domina desde 1989 as “ondas” do rio que corta sua terra natal.
Paulinho Guido, como é conhecido, conta que as imagens que viralizaram na web foram feitas no último domingo (4). “O mais impactante mesmo é quando o rio fica bem cheio, que aí a onda fica bem grande. Hoje (quarta-feira, dia 7) ela está um pouco maior. Mas eu trabalho, então só posso ir no fim de semana, mas tem uma outra galera surfando lá”, conta ele.
O surfista de água doce explica ainda que existe um grupo de cerca de cinco moradores da cidade que praticam o esporte no local constantemente. A onda em questão é formada pelas pedras submersas no rio. “A água vem passando e bate na pedra, aí ela sobe e desce, formando a onda. Depende do formato das pedras e, de acordo com o volume de água, o bicho pega”, detalha Guido.
Confira o vídeo:
No início, há quase 30 anos atrás, os surfistas entravam na água e remavam com os braços para chegar até o ponto, o que era bastante cansativo. “O aproveitamento era de 10% das tentativas de surfar. De um tempo para cá improvisamos uma corda, que amarramos em uma árvore que tem na margem do rio. A gente segura na corda e deixa a prancha na tangente, o que joga a gente dentro da onda. Depois disso é só complementar com a remada e o drop (movimento para ficar em pé na prancha)”, explica.
O pior momento, ainda segundo ele, é após a queda na água. “É complicadíssimo, sufoco total, pânico, filme de terror, entendeu?”, brinca Guido. “Na hora, dependendo do lugar da onda, do tombo que você tomar, a prancha fica afastada. Você tem que tentar se desvencilhar daquele tanto de caldo para alcançá-la. E a correnteza, ao invés de te jogar para a margem, te leva mais para dentro do rio. Tem que ter muita calma, porque senão, é caixão e vela preta”, completa o surfista.
Paulo Guido conta que, no domingo, quando o vídeo foi feito, a corda que prendia a prancha no pé do sobrinho dele arrebentou e ele teve que pular na água para resgatá-la. “Ele conseguiu ir para a margem, e eu pulei no rio e fui descendo atrás dela. No meio daquele tanto de onda você não consegue enxergar a prancha. Ela foi parar bem longe e, para voltar, foi outro suplício”, disse.
O local onde a prática acontece fica dentro do Parque Natural Municipal. Do outro lado do rio, está um dos bairros mais nobres de Governador Valadares, a Ilha dos Araújos. Para chegar ao ponto onde a onda se forma, é preciso descer uma trilha e, também, uma parte formada por pedras.
“Mesmo após a criação do parque, é um local isolado. A verdade é que quem vai lá, é quem já sabe surfar, quer emoção. Até muita gente que já surfa, chega na beira da pedra, olha aquilo ali, bate a adrenalina e acabam nem entrando. Nunca aconteceu de ninguém afogar. Até mesmo porque, esses ‘Zé Goiaba’ que acha que é aventureiro, menino de internet, não vai se aventurar. Não tem como, ali não é brincadeira, tem que ter muita consciência, saber como entra, como sai”, completa.
Segundo ele, não é recomendado a ninguém que não tenha experiência a tentar o surf no rio Doce. “Não recomendo e não faço nem questão de dar assistência, que é para não trazer nenhuma desgraça e não queimar a imagem do nosso esporte. Agora, quem sabe surfar mesmo é bem vindo, vamos levar, instruir, ensinar”, finaliza.
Local pode sediar etapa do Campeonato Mineiro de Surf
Já há algum tempo acontece anualmente no Rio de Janeiro o Campeonato Mineiro de Surf. Porém, neste ano, o organizador do evento está programando, além da etapa no mar do Estado vizinho, uma etapa da competição em Governador Valadares, justamente no ponto em que Paulinho Guido aparece no vídeo.
Segundo ele, ainda não existe uma data para a realização do campeonato na cidade, uma vez que depende da natureza. A época mais provável é entre dezembro deste ano e fevereiro, no máximo até março de 2019.
“Está muito em cima para fazer agora, pois temos que conseguir patrocinadores e organizar tudo. Então vamos ficar de stand by e esperar a mídia anunciar que vai ter uma desgraça de enchente, e é nessa hora que a gente vai surfar”, finaliza o surfista.