O juiz Vallisney de Souza Oliveira , da 10ª Vara Criminal do Distrito Federal, autorizou, na última terça-feira (23) a prisão temporária dos quatro suspeitos de integrarem uma quadrilha supostamente responsável pela invasão hacker ao celular do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro e de outras autoridades. Após os acusados prestarem depoimento à Polícia Federal, todos os olhos estão voltados para um deles: Walter Delgatti Neto, conhecido como “Vermelho”.
Delgatti Neto foi o único entre os quatro acusados que admitiu ter hackeado o celular de Moro. Gustavo Henrique Elias Santos alegou que não tem relação com as invasões e ainda disse que viu algumas das mensagens vazadas no telefone de “Vermelho”.
“O próprio Vermelho [apelido de Delgatti Neto ] mostrou algumas coisas para ele, e ele assustou e falou: ‘Meu, cuidado com isso aí porque pode dar problema’. Na verdade, ele não acreditou naquilo, mas, pelo que foi narrado, mostraram algo para ele a respeito disso”, disse Ariovaldo Moreira, advogado de Santos.
Ficha criminal extensa
Em 2012, Walter Delgatti Neto foi detido na cidade de Piracicaba ao tentar pagar a conta de um hotel com o cartão de crédito de um homem de 75 anos e foi condenado a um ano de prisão em regime aberto.
Em 2014, ele usou uma identidade falsa para alugar um apartamento imobiliado e chegou a contratar uma equipe de mudança para furtar os móveis. A administradora do imóvel chamou a polícia e impediu o crime.
Em 2015, “Vermelho” foi detido dentro do Parque Beto Carrero World, em Santa Catarina, junto com outro dos acusados, Gustavo Henrique Elias Santos, que acabou sendo liberado após prestar depoimento. Walter, no entanto, foi preso por falsidade ideológica na ocasião. Ele portava uma carteira falsa de policial civil, além de armas e munições.
Também em 2015, acabou preso por tráfico drogas e falsificação de documentos por portar medicamentos de uso controlado e uma carteira clandestina de aluno da Universidade de São Paulo (USP). Ele foi condenado pela falsicação, mas absolvido da acusação de tráfico.
No mesmo ano, ele foi indiciado por estelionato por usar o cartão de crédito de um advogado para comprar uma poltrona giratória, uma cabeceira, um jogo de lençol, travesseiros, um conjunto de box, entre outros itens. A conta ficou em mais de R$ 3 mil.
Relação conturbada com a família
A casa da família Delgatti ocupa a maior área no quarteirão do bairro de classe média de Araraquara, no interior de São Paulo, e fica bem no fundo do terreno. Tem galinheiro, pomar e um galpão de trabalho desativado. Ainda que não aparecesse muito por lá, quem ajudava a pagar as despesas era Walter Delgatti Neto, o jovem de 30 anos preso e que confessou ter participado do hackeamento de telefones de dezenas de pessoas, entre elas o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro , e o procurador da Lava-Jato Deltan Dallagnol.
Com o mesmo nome do pai, Valter Júnior, o suspeito não tinha com ele qualquer conexão, segundo os vizinhos. Em novembro do ano passado, Júnior quis dar uma cochilada depois do almoço e não levantou. Morreu de infarto. O filho não foi ao enterro. Com a mãe também não falava desde 2008, ano da separação dos pais. Ela soube da prisão do filho por uma notícia de internet.
“Se um dia ele é atropelado e precisa de sangue, vou atrás dele e ajudarei como puder. Se é pego fazendo coisa errada, não conte comigo. Só vou se me levarem algemada daqui”, contou.
Comportamento nas redes sociais
Na época em que os primeiros vazamentos de mensagens do ministro Sergio Moro vazaram, “Vermelho” reativou sua conta do Twitter. Na rede social, Delgatti Neto, compartilhava todas as reportagens do The Intercept sobre os vazamentos de mensagens, além de vídeos e críticas contra o presidente Jair Bolsonaro.
No dia 20 de junho, o suposto hacker respondeu um tweet de Deltan Dallagnol sobre os ataques ao seu celular. “Em abril deste ano, identificamos ataques virtuais às nossas contas no Telegram. Por razões de segurança pessoal e pelo risco de comprometimento de investigações em curso, a decisão na época foi de desativar a conta – o que exclui o histórico tanto na nuvem quanto no celular”, escreveu o procurador.
Walter, por sua vez, explicou que, mesmo apagando todo o histórico, “os caches ficam no celular”. “eles são arquivos fragmentados, sem o conteúdo da mensagens, mas com todas saídas e entradas de mensagens, EX: 23/04/2016 15:15:17 saiu uma mensagem, 15:30:18 recebeu uma, e se comparado com o material vai confirmar autenticidade!”, escreveu.
Neste mês, “Vermelho” respondeu a um tweet de Glenn Greenwald , em que o jornalista mencionou Moro e compartilhou uma matéria da Revista Veja sobre o ex-juiz. “Sergio Moro, assume tudo logo, colabora com a justiça, conta tudo o que sabe. Cada dia que passa está ficando mais ridículo sua defesa apresentada. A casa caiu, tampar o sol com a peneira não vai adiantar”, escreveu.
“Deve ser difícil ter que fazer coisas que você não queria fazer né? Tentar maquiar tudo que está acontecendo? Fingir que tudo está bem? Da para ver no seu rosto que nada está bem, deprimente isso! #juizdesesperado”, escreveu o suspeito diretamente a Moro, em outra ocasião.
Fonte: IG