Várias pesquisas para a formulação de vacinas contra a Covid-19 estão em andamento em universidades públicas brasileiras, mas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, um dos estudos busca um caminho que seja mais barato e traga mais facilidade na aplicação em massa.
Os primeiros estudos in vitro, realizados no Instituto de Ciências Biológicas (ICB), para um imunizante de aplicação oral ou nasal se mostraram promissores. Se os testes em pequenos animais forem bem-sucedidos, a pesquisa pode evoluir para o uso de cobaias maiores, com fisiologia mais próxima da humana – como primatas. Com investimentos, a vacina oral poderá ficar pronta em até três anos.
Dawidson Assis Gomes, professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UMG, explica que a intenção do projeto é desenvolver um imunizante que seja facilmente fabricado, sem depender da manipulação de vírus em laboratórios de nível de segurança altíssimo, tão raros no Brasil e em outros países em desenvolvimento.
“Nossa pesquisa não envolve o uso de adenovírus ou de vírus inativado. Na verdade, pegamos pedacinhos da proteína spike, chamados de peptídeos, e verificamos se eles são capazes de estimular a produção de anticorpos. Os primeiros estudos em laboratório indicaram que, sim, vários peptídeos foram capazes disso, e vamos agora começar os estudos em animais”, relata Gomes, que realiza a pesquisa ao lado do aluno Vinícius Goes, da pós-graduação em bioquímica e imunologia.
Após os testes em animais, será possível verificar a viabilidade de uma versão oral ou nasal para o imunizante, que poderia ser mais facilmente aplicada na população, como acontece com a vacina contra a poliomielite (Sabin). “Vacina oral tem maior facilidade na manipulação e maior aceitação em uma população”, explica o professor.
Verbas
Até o momento, essa pesquisa vem sendo realizada graças a recursos financeiros do próprio laboratório. Mas, para continuar sendo realizada, precisa contar com pelo menos R$ 2 milhões, sendo que metade desse valor seria usada para comprar uma máquina sintetizadora de peptídeos – ela “fabrica” as ligações entre aminoácidos conforme a programação digital inserida pelos pesquisadores.
“Pode parecer um valor muito alto, mas essa máquina permitiria a síntese de peptídeos em maior escala e com um custo muito mais baixo não apenas para nossa pesquisa, como para outras da UFMG e do país”, afirma Gomes.
“É preciso investir em um grande número de vacinas nacionais para estarmos preparados em uma próxima pandemia”, conclui Gomes.
“Atualmente, quando temos que encomendar do exterior um miligrama de peptídeos, gastamos R$ 1.000. Para sintetizar um grama, o investimento é de R$ 1 milhão. O equipamento pode gerar uma economia de pelo menos cem vezes nas despesas com compras de peptídeos”, adiantou o pesquisador da UFMG, que aguarda investimentos públicos ou privados para dar continuidade aos experimentos.
Casos graves
Durante os estudos para o desenvolvimento da vacina oral contra a Covid-19, o pesquisador Dawidson Gomes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), deparou-se com informações que podem render futuramente outra pesquisa importante, se o laboratório tiver mais recursos.
Ao estudar os peptídeos da proteína spike e as reações com soros de pacientes positivados para o coronavírus, os pesquisadores da UFMG verificaram que havia sequências de aminoácidos específicas nas amostras de pessoas que tiveram sintomas graves da Covid.
“Vimos que é possível termos uma explicação bioquímica para os casos mais graves. Em laboratório, vimos que há reações químicas com peptídeos que não acontecem nas amostras de pacientes com sintomas leves da doença”, explicou o pesquisador da UFMG.
Protótipos
Dessa forma, segundo Gomes, se os pesquisadores pudessem mergulhar nessas reações químicas, poderiam criar protótipos para testes que identificariam com antecedência se uma pessoa poderia desenvolver ou não os sintomas graves da Covid-19. “Para isso, teríamos que ter antes várias questões a serem respondidas em uma pesquisa. Mas precisaríamos de mais recursos e decidimos que era mais importante, neste momento, focarmos a vacina oral contra a Covid”, justifica Gomes.