A vacina que a UFMG está desenvolvendo para proteger a população contra a Covid-19 deve ser testada em humanos em dezembro deste ano. E, em 2022, estará pronta para aplicação em massa. As estimativas foram feitas nesta sexta-feira (21) pelos cientistas que estão à frente da pesquisa.
Além das datas, eles reforçaram que o imunizante é considerado mais eficiente contra as variantes do que os utilizados no Brasil atualmente. Mas, apesar do otimismo, várias etapas até a produção industrial da vacina devem ser cumpridas.
“Agora estamos buscando recursos para produzir o lote piloto de vacinas e fazermos os testes de segurança, para depois submetermos a vacina à Anvisa e, em dezembro deste ano, se tudo der certo, iniciarmos a Fase 1, de testes em humanos”, explicou o coordenador do Centro de Pesquisas da UFMG, Ricardo Tostes Gazzinelli.
Nesta sexta, ele e outros cientistas receberam no Centro de Tecnologia de Vacinas (CT-Vacinas) da instituição deputados da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Durante o encontro, Gazzinelli apresentou os resultados da Spintec, como o antídoto foi provisoriamente batizado
Segundo ele, a vacina teve resultados animadores em animais, por ser muito eficiente em estimular o sistema imunológico, incluindo níveis altos de anticorpos e de resposta de linfócitos T. Além disso, seria mais eficaz contra as variantes da Covid-19 que as vacinas atuais, por usar proteína recombinante. “A proteína N não é tão exposta, por isso não é tão sujeita às mutações”, explicou.
Produção nacional
Diante dos deputados, o pesquisador ressaltou que o país anualmente gasta dezenas de bilhões de reais com transferência de tecnologia. Mas, o ideal, conforme Gazzinelli, seria pensar em investimentos a médio e longo prazo para uma cadeia de produção 100% brasileira, que não dependa de insumos estrangeiros.
“Precisamos estar preparados para enfrentar novas pandemias, epidemias e inclusive combater doenças negligenciadas pela indústria, mas que continuam a ser grande problema pro país, como a dengue e a malária”, explicou.
Verba
Em abril deste ano, o presidente da ALMG, deputado Agostinho Patrus (PV), se comprometeu a incluir, por meio de uma emenda ao Projeto de Lei (PL) 2.508/21, do governador Romeu Zema, a destinação do valor de R$ 30 milhões necessário para as fases 1 e 2 dos testes da SpiNTec. O projeto autoriza a utilização de recursos oriundos de acordo judicial firmado com a Vale para a reparação de danos causados pelo rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que matou 272 pessoas em janeiro de 2019.
O prefeito Alexandre Kalil, de Belo Horizonte, também afirmou que a prefeitura da capital irá financiar a vacina. “A UFMG é investimento, é investimento em ciência. A prefeitura garantiu sim a continuidade de um plano tão importante para a população, porque não sabemos se vamos precisar de mais vacinas no ano que vem, ou 2023, ou 2024”, declarou no mês passado.
Fases
Atualmente, a vacina está sendo testada em macacos. Essa etapa da pesquisa é pré-requisito obrigatório para experimentos em humanos. Três grupos de primatas participam dos testes. O primeiro grupo, com quatro macacos, está recebendo o imunizante com um adjuvante, substância que aumenta a resposta imunológica do indivíduo. O segundo grupo, também formado por quatro animais, recebe a vacina com outro tipo de adjuvante. O terceiro grupo, o de controle, é formado por dois macacos que não receberão a vacina.
“O experimento com os primatas testa a segurança e a imunogenicidade da vacina, ou seja, nos permite ver se ela provoca algum efeito colateral e se gera anticorpos nas células de defesa. O primata é o animal mais próximo do ser humano. Portanto, nessa fase de testes pré-clínicos é possível verificar qualidade e eficiência da vacina em humanos”, explica o virologista Flávio Fonseca.
O pesquisador acrescenta que os animais usados no experimento foram resgatados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Eles foram microchipados e retornarão ao órgão após os testes para serem devolvidos à natureza. “Nenhum animal sofrerá eutanásia”, afirma o pesquisador.
Spintec
Além da UFMG, também participam do desenvolvimento da vacina a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). A plataforma tecnológica usada na vacina consiste na combinação de duas proteínas, entre elas a proteína S, utilizada pelo novo coronavírus para invadir as células do hospedeiro. Essas proteínas são combinadas em uma proteína “quimera”, que obteve os resultados positivos na prova de conceito.