por Raul Mariano
A proliferação do uso do crack em Minas pode estar em um estágio mais avançado do que se imagina. Das 853 cidades mineiras, 744 alegam ter problemas com a droga, segundo levantamento publicado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), por meio do portal Observatório do Crack. Nesse universo, 191 prefeituras afirmam que o nível do problema é alto.
O mapeamento levou em consideração os impactos causados pela droga nas áreas de educação, assistência social, saúde e segurança. De acordo com a CNM, o problema é agravado pela inexistência de políticas voltadas para localidades com menos de 200 mil habitantes, que representam a maioria dos municípios brasileiros.
“Há ausência de programas específicos para usuários, bem como de recursos para implantação destes programas, carência de profissionais especializados e até material para ações de prevenção” (Eduardo Stranz, consultor da CNM)
Consultor da CNM, Eduardo Stranz explica que, no geral, os problemas comuns às cidades mineiras se assemelham ao que acontece no restante do país. Ele revela que destacam-se a falta de atividades e ações de reinserção social para os dependentes químicos, além das verbas que são consideradas insuficientes para tratar a questão do vício.
“As dificuldades relacionadas pelos gestores são referentes a falta de estrutura da rede de saúde para o tratamento clínico. Temos, dentre os inúmeros relatos, a questão da ausência de ambulatórios especializados, onde são tratadas as demandas como crises de abstinência, início de overdoses e desintoxicação. Essas informações, segundo os gestores municipais, se dão pela carência de recursos financeiros”, explica Stranz.
Apesar de o número de usuários de crack detidos em Belo Horizonte ter diminuído nos últimos anos, os pontos onde os viciados se aglomeram para consumir a droga continuam a existir na antiga cracolândia da capital mineira, no bairro Lagoinha, Noroeste da cidade.
Por lá, a concentração dos usuários é maior no entorno do Conjunto IAPI, o viaduto República do Congo, os gramados e uma escadaria da região.
Para especialistas, é urgente a adoção de ações que visem a redução de danos. “É um caso muito mais de saúde pública do que de segurança. Até porque a lei não descriminalizou o uso, mas o despenalizou, fazendo com o que o usuário não fique preso”, explica o Major Flávio Santiago, chefe da sala de imprensa da Polícia Militar.
Esforços
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que Minas tem, em 143 municípios, uma rede de saúde mental implantada para atender, dentre diversas demandas, pessoas em uso prejudicial de álcool e outras drogas, como os viciados em crack.
No caso do serviço de atenção psicossocial para atendimento de pacientes com transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas (CAPS AD II), a secretaria informou que o Estado tem capacidade operacional para atendimento em cidades ou regiões com população superior a 70 mil habitantes.
No caso dos CAPS AD III, o atendimento é destinado a “pessoas de todas as faixas etárias que apresentam intenso sofrimento psíquico decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas”.