“Eu não tenho inimigos. Todos os meus inimigos eu já matei”. Isso foi o que Luiz Henrique Nascimento do Vale, mais conhecido como Totó, considerado o criminoso mais procurado de Minas Gerais, disse aos policiais durante a oitiva nesta quinta-feira. Ele foi preso nessa quarta-feira em Balneário do Camboriú, em Santa Catarina, vivendo uma vida de luxo com casa de frente para a praia. Totó estava foragido desde o ano passado, quando saiu do Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, pela porta da frente.
O criminoso figura na lista dos mais procurados de Minas Gerais, devido a sua alta periculosidade. A prisão de Totó aconteceu durante uma operação da Polícia Civil. Ele foi encontrado no litoral de Santa Catarina. “Ele vivia uma vida de ‘cidadão de bem’. Morava em uma casa de luxo com a mulher e o filho. Era uma casa a um quarteirão da praia. Isso tudo com os ganhos do tráfico de drogas em Minas Gerais”, explicou o delegado, João Prata, responsável pelas investigações do Departamento Estadual de Investigação de Crimes contra o Patrimônio.
A ficha criminal de Totó impressiona. Ele tem envolvimento, segundo a polícia, no tráfico de drogas, roubos a bancos e de veículos, além de homicídios. As informações foram repassadas pelos investigadores durante entrevista coletiva nesta quinta-feira. Luiz Henrique já esteve preso na Penitenciária Nelson Hungria, mas acabou solto no ano passado. O caso está sendo investigado, pois há indícios de irregularidades na soltura dele e de outras detentos.
“Desde que ele saiu, passou a morar em diversas cidades do Brasil. Há seis meses foi para Balneário do Camboriú. Lá, ele tirou novos documentos. Nasceu uma nova pessoa. A princípio, não cometeu crimes por lá”, contou o delegado responsável pelo caso. Tratavam-se de documentos verdadeiros com dados falsos, o que deve ser investigado pela polícia. Ele não andava mais armado, o que ajudou na prisão dele. “Não reagiu”, acrescentou.
As investigações se intensificaram há um ano. Isso porque chamou a atenção da polícia a organização criminosa que possuía “um farto armamento bélico” – entre eles, fuzis, pistolas e metralhadoras. Os policiais acreditam que Totó é o líder. Estima-se que outras 15 pessoas fazem parte da organização criminosa muito temida em Minas Gerais. “Uma quadrilha extremamente violenta”, caracterizou o delegado.
Os assassinatos
Entre os assassinatos relacionados a ele estão de um empresário e de um advogado, que foram mortos com tiros de fuzil. O empresário foi morto em fevereiro de 2018 no Bairro Santa Cruz, na Região Nordeste de Belo Horizonte. De acordo com a Polícia Militar (PM), Adriano Costa Vale estava em um Captiva junto com a avó, de 83 anos. Um carro parou ao lado do dele e, segundo o boletim de ocorrência, quatro passageiros atiraram várias vezes. Munições de fuzil calibre 762 foram encontradas. A idosa que também estava no carro teve ferimentos leves.
O outro caso foi em outubro de 2013 e teve como alvo Jayme Eulálio de Oliveira. O advogado, contratado para fazer a defesa da quadrilha nos tribunais, foi executado por dois homens encapuzados na entrada do prédio em que morava, na Rua Cecília Fonseca Coutinho, no Bairro Castelo, na Pampulha. As investigações apontaram que Jayme havia recebido R$ 100 mil para fazer a defesa dos envolvidos em um assalto a um posto de combustível. No entanto, o advogado não conseguiu libertar os bandidos, que pediram a quantia de volta. Após negar devolver o dinheiro, Jayme de Oliveira foi assassinado em uma emboscada.
O delegado acredita que Totó seja o líder de ambos os crimes. “Ele não participa da ação, mas é o mandante intelectual”, disse. Porém, o suspeito nega aos policiais e afirma que estava em um shopping durante um dos assassinatos. Mas os investigadores acreditam que tratava-se de uma armação. “Nós não temos dúvidas que ele é o autor. Os responsáveis pelos assassinatos são da quadrilha do Totó, usando os armamentos do Totó”, disse. “Ele tem vários integrantes da quadrilha que matam ao seu mando”, completou.
Saída da Nelson Hungria
Totó já esteve preso na Penitenciária Nelson Hungria, mas acabou solto no ano passado. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), pois há indícios de irregularidades na soltura dele e de outras detentos.
As irregularidades começaram a ser apuradas depois que a Vara de Execuções Criminais (VEC) de Contagem recebeu informação da possível soltura dos detentos. Foi verificado que os presos receberam alvarás de soltura mesmo com execução penais em curso. Quando o alvará é concedido, a soltura passa por um crivo antes de autorizar o detento deixar a prisão. Uma delas é a consulta do Setor de Arquivos e Informações (Setarin), responsável pelo acervo de mandados de prisão cadastrado no Sistema de Informações Policiais (SIP). O órgão é de responsabilidade da Polícia Civil. Quando há algum tipo de impedimento, como uma execução ativa, o Setarin geraria um impedimento.
“Caiu um cachorro, eles falam que foi o Totó que matou. É mais fácil”
Durante a coletiva de imprensa, Totó negou a participação de todos os crimes. Ele contou que trabalhou a vida toda como garçom, motorista, motoboy, porteiro. “Sempre trabalhei com minha família. Único erro foi porte de arma em 2004”, disse. Foi em 2009 que a vida dele mudou. Ele acredita que é perseguido. “Desde 2009 todas as ocorrências se vinculam a meu nome.Por causa de uma multa de trânsito; meu carro tava em contramão. Isso tudo que gerou na minha vida e na vida da minha família foi por discussão banal e os policiais disseram que iam acabar com minha vida”, completou.
Sobre a saída do Penitenciária Nelson Hungria, ele disse: “Eu não paguei nada. Não tenho condições de pagar isso. Eu saí com alvará legítimo, não foi falso.”