Uma crise? Ou a correção temporária de uma moeda virtual errática? O bitcoin despencava nesta sexta-feira, quase tão abruptamente como subiu nas últimas semanas, sem que os especialistas financeiros realmente saibam como explicar o fenômeno.
A mais famosa das criptomoedas era cotada nesta sexta-feira às 10h55 GMT (8h55 de Brasília) a cerca de 14.300 dólares, de acordo com os dados compilados pela agência Bloomberg, enquanto na segunda-feira se aproximava de US$ 20.000.
O bitcoin, que não parou de crescer depois de começar 2017 em torno de US$ 1.000, perdeu cerca de um quarto do seu valor em uma semana. Ou o equivalente ao dobro da capitalização de mercado do grupo L’Oréal, por exemplo.
A correção é particularmente brutal, mesmo para uma moeda virtual acostumada a fortes variações, e escapando das estruturas monetárias tradicionais.
Ao contrário do dólar ou do euro, o bitcoin não é emitido por bancos centrais, mas é “extraído”, ou criado, de forma descentralizada, por computadores que usam algoritmos complexos para produzir uma cadeia de blocos de transações codificadas e autenticadas (a chamada “tecnologia blockchain”).
Para Neil Wilson, da ETX Capital, com sede em Londres, “é difícil saber se o alerta já soou”.
Essas últimas semanas trouxeram quase tantas boas notícias como ruins para o bitcoin.
Certamente ganhou alguma legitimidade com o lançamento nos Estados Unidos de instrumentos especulativos baseados em bitcoin por operadores reconhecidos. Além disso, de acordo com a Bloomberg, o gigante bancário Goldman Sachs estaria considerando entrar no “trading” de bitcoins, o que seria, de acordo com os critérios do mundo das finanças, uma espécie de consagração.
Mas o bitcoin, acusado de ser utilizado para todo tipo de tráfico ilegal, continua a ser altamente criticado.
Na quarta-feira, sua estrela começou a perder o brilho depois de informações de um ataque hacker a uma plataforma de negociação de criptografia na Coreia do Sul, Youbit. E na quinta-feira, Haruhiko Kuroda, governador do Banco do Japão, um importante mercado de bitcoin, considerou o aumento espetacular da moeda como “anormal”.
Para não mencionar os rumores recorrentes da criação de criptomoedas concorrentes e rivalidades.
Para os especialistas, nada disso é suficiente para explicar sua queda repentina.
“Parece que é hora de os investidores aproveitarem seus lucros e gastá-los no Natal”, disse Neil Wilson.
Não é realmente possível comprar seus presentes ou peru em bitcoins, cujo uso comercial é muito marginal. Para gastar seus bitcoins, você deve trocá-los por outra moeda, o que reduz seu preço.
Alexandre Baradez, analista do IG France, não vê explicação particular para a queda e lembra que o percurso do bitcoin sempre foi errático. Sua volatilidade “é 20 vezes superior à volatilidade euro/dólar”, ressalta.
Segundo Stephen Innes, da OANDA, os investidores do bitcoin enfrentam “um retorno ao chão”.
“Uma demanda desenfreada” associada a uma disponibilidade limitada “levou investidores inexperientes a apostarem com tudo”, diz.
Além do bitcoin, a mania pela criptomoeda e pela tecnologia informática que serve de base, a “blockchain”, continua muito forte, para não dizer irracional.