Uma pesquisa feita pela Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 33 Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) privada e filantrópicas de Belo Horizonte constatou que a maioria possui alto risco sanitário e uma série de inadequações quanto à higiene na manipulação de alimentos. Das instituições avaliadas na capital, 30 apresentaram risco sanitário médio ou alto.
Quando verificados critérios operacionais que impactam mais a segurança dos alimentos, como armazenamento dos produtos, a situação é ainda pior, e apenas um local tem qualidade sanitária boa. Nos demais, a situação é precária ou inaceitável. Os resultados foram divulgados nessa segunda-feira (21), junto com outro estudo também da UFMG, realizado em quatro ILPIs, que mostra que quase metade dos idosos está desnutrida.
A pesquisa feita pela engenheira de alimentos Alice Rossi Barbosa, na pós-graduação em ciência de alimentos, aponta problemas em todas as etapas de preparação e administração das refeições. “As instituições que ocupam casas antigamente destinadas a moradias têm cozinhas domésticas. Elas herdaram a estrutura e não tiveram a adequação necessária para desempenhar a atividade”, disse Alice, que passou um dia em cada uma das instituições, no ano passado.
“Faltam telas nas portas e janelas, o que permite que moscas que tenham pousado em fezes entrem e pousem no alimento pronto, o que pode desencadear grande problema para a saúde dos idosos. A ausência de bancadas interfere no aspecto higiênico da produção de alimentos: como há pouco espaço, o alimento cru fica perto do preparado, o que aumenta o risco de contaminação”, afirmou.
Segundo a pesquisadora, há falhas na execução do procedimento de higienização – produtos como álcool 70%, utilizado para limpar as mãos, não são encontrados na área de manipulação dos alimentos. Além disso, os manipuladores têm pouco conhecimento na área de segurança de alimentos. Durante o levantamento, foi encontrada carne sem indicação de validade e em temperatura inadequada.
“Tudo isso aumenta a possibilidade de surto de origem alimentar entre os idosos, uma população considerada de risco, que tem sistema imunológico deprimido e quadros de desnutrição”, disse Alice. Segundo a pesquisadora, instituições filantrópicas tiveram resultados melhores do que as das privadas, devido à maior proximidade com o poder público. Para Alice, em ambos os casos, falta fiscalização especializada e atenta à segurança alimentar.
Saiba mais
Número. A Prefeitura de BH não informou o número de ILPIs na cidade, mas, segundo a pesquisadora Alice Rossi, ela recebeu da Vigilância Sanitária uma lista com 180 instituições.
Cardápio. Diariamente são oferecidos nas instituições leite, frutas, arroz, feijão, carne e legumes e/ou verduras.
Dados. Segundo o IBGE, há 299.572 pessoas com mais de 60 anos em BH.
Quase metade dos idosos é desnutrida
Praticamente metade das pessoas que vivem em quatro Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) na capital é desnutrida e sofre com perda de massa muscular, apontou a pesquisa da UFMG.
“Temos pessoas vulneráveis que, pela idade e pelas doenças associadas, são mais frágeis e demandariam cuidado mais rigoroso, e isso não acontece. Não há individualização na atenção ao idoso, todos são tratados como iguais, não se atende a quem mais precisa. Quem não tem dente não recebe comida pastosa, por exemplo”, disse a professora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, Maria Isabel Correia, que orientou a pesquisa da nutricionista Isabella Ribeiro de Souza.
Segundo o estudo, a maioria das instituições não tem nutricionista. Grande parte dos idosos apresenta ingestão proteica e calórica inadequada. “São poucas verduras e frutas e muitas frituras e carnes gordurosas”, afirmou.
Cardápio é adequado, diz secretaria
A Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania de BH informou que os cardápios das ILPIS são pautados pela alimentação saudável e adequada. Segundo a pasta, são priorizados hortaliças, frutas e alimentos processados. O cardápio é composto por seis refeições ao dia.
A secretaria informou que uma equipe visita instituições conveniadas com a prefeitura a cada 15 dias para analisar as condições da produção de alimentos. Se problemas forem encontrados, os coordenadores são orientados. A pasta disse que também forma manipuladores de alimentos.