A delegada Cristiana Bento, que investiga o estupro de uma adolescente de 16 anos no morro da Barão, na zona oeste do Rio, disse que a jovem foi uma vítima da sociedade. A afirmação foi feita na tarde desta segunda (6), na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), durante uma audiência pública feita para discutir a cultura do estupro.
“Ela foi vítima do estupro e também da sociedade. O Estado negligenciou ela no moral, no social, e é importante dizer que essa investigação trouxe mais dignidade para essa jovem”, disse a delegada.
Para Cristiana, a descoberta do segundo vídeo do crime –registrado no celular de Rai de Souza, 22, um dos suspeitos já presos– dá a certeza de que a jovem foi vítima de um estupro coletivo. “Esse segundo vídeo só veio afirmar o que estava no primeiro, que a adolescente foi violentada em diferentes momentos”, disse a delegada. “Para quem tinha dúvida, com esse celular a dúvida se espanta.”
As imagens duram 12 segundos e mostram os homens violentando a jovem com um objeto. “Peraí, garota, fica quieta aí, cara”, diz um dos homens. A vítima diz “não”, e o mesmo homem retruca: “Não o quê, porra”, enquanto a jovem geme de dor.
A gravação, assim como a do vídeo que foi divulgado nas redes sociais –também registrado no celular de Souza–, aconteceu numa casa do morro da Barão conhecida como “abatedouro”. Segundo a polícia, a vítima foi levada para lá após ser deixada só na casa em que fez sexo com Souza, na qual também estiveram o jogador de futebol Lucas Perdomo, 20, e uma amiga da vítima, que teve relações com Perdomo.
A investigação aponta que a adolescente foi encontrada por traficantes e levada para o “abatedouro” por Moisés Camilo de Lucena, conhecido como Canário, que também teria sido o primeiro a estuprá-la. Ele foi reconhecido pela vítima por uma tatuagem, e sua prisão já foi decretada.
Os policiais suspeitam de que vários traficantes do morro da Barão tenham passado pelo “abatedouro” enquanto a jovem esteve por lá –um período que durou da manhã de sábado (21) até a noite de domingo (22). Num trecho de seu depoimento divulgado pela Polícia Civil, Rai de Souza, atualmente cumprindo prisão temporária em Bangu 10, culpa a vítima por estar lá.
“Ali é o lugar dos traficantes, nem é o lugar dela. Errada era ela de estar ali, Deus me livre”, disse o jovem, que nega ter estuprado a adolescente.
DEPOIMENTO
A jovem que esteve com a vítima e com Souza e Perdomo no baile funk foi ouvida nesta segunda (6) na Delegacia de Criança e Adolescente Vítima, no Centro do Rio. Ela já havia prestado um depoimento no dia 27, quando chegou à Cidade da Polícia ao lado de Rai de Souza e de Lucas Perdomo –apenas o jogador havia sido intimado; os dois outros foram como testemunhas.
Em seu testemunho nesta segunda (6), ela repetiu a mesma narrativa, que coincide com a dos dois homens. Afirmou ter ficado com Perdomo enquanto a vítima ficou com Souza, e disse que os quatro foram para uma casa abandonada na favela, onde cada casal fez sexo consentido. Ela também negou que o grupo tivesse consumido bebidas ou drogas.