Em uma semana, 1.361 pessoas se contaminaram com a dengue em Belo Horizonte. O dado foi divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde nesta sexta-feira (19/5) e representa crescimento de 37,8%. Até esta semana, 4.957 casos da doença já foram confirmados e outros 14.528 resultados estão sendo investigados.
Na quinta-feira (18/5), a Prefeitura de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana, determinou situação de emergência em saúde pública em decorrência do aumento do número de casos da doença, na cidade. Em Minas Gerais, a situação é parecida, até segunda-feira (15/5), 149.091 casos já haviam sido confirmados, o que representa um crescimento de 401% em relação ao mesmo período de 2022, quando eram 29.711.
Para ampliar o atendimento a crianças e adultos, preferencialmente com sintomas de dengue, chikungunya ou doenças respiratórias, neste sábado (20/5), cinco Centros de Saúde de BH estarão funcionando das 7h às 18h. As unidades dos bairros Flávio Marques Lisboa, São Paulo, Aarão Reis, Santa Terezinha e Rio Branco funcionarão no sábado. No domingo, apenas a unidade do bairro Rio Branco ficará aberta.
Além da abertura dos seis centros de saúde, as UPAs da capital mantêm o funcionamento normal no fim de semana, com atendimento 24 horas para o público em geral.
Em abril, a Secretaria Municipal de Saúde confirmou a terceira morte em decorrência da contaminação pelo vírus. Outros dois óbitos pela contaminação da arbovirose já haviam sido confirmados na capital. Apesar de não fornecer informações sobre os pacientes, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que todos já tinham outras doenças que “contribuíram para complicações”.
Epidemia cíclica
O vírus da dengue se comporta por ciclos, ou seja, a cada três ou quatro anos há aumento e queda no número de contaminações. Quando analisamos os dados de BH, há três anos, em 2020, eram 3.147. Em 2019, chegou a 15.491 contaminados, apenas até a terceira semana de maio.
O padrão se repete desde 2010, primeiro ano de registros da PBH que estão disponíveis para livre consulta. Em 2016, até maio, foram 67.102 casos. Dois anos antes – em 2013 – 24.980. Em 2010, 21. 823. Além disso, durante os intervalos epidêmicos os casos até o quinto mês do ano não passaram de 3 mil – com exceção de 2011, quando foram registradas 4.857 contaminações.
De acordo com o virologista professor da UFMG e presidente da Associação Brasileira de Virologia, Flávio da Fonseca, apesar de "assustador", as epidemias de dengue já são esperadas pelos pesquisadores, pelo menos enquanto não há vacinação em massa contra a doença. Ele afirma que a oscilação de períodos endêmicos acontece desde o primeiro caso registrado no país, em 1980.
Por isso, assim como aconteceu em Pedro Leopoldo, outras cidades também estão sujeitas a decretos de emergência sanitária em decorrência da doença. Fonseca explica que, normalmente, a medida é tomada quando o sistema de saúde municipal, ou estadual, fica sobrecarregado e não consegue comportar o número de pacientes. No entanto, as epidemias podem ser “previstas” e as cidades preparadas para atender aos contaminados, sem que haja superlotação.
“Embora seja assustador, a dengue tem essa característica e, como a gente ainda não tem uma vacina amplamente utilizada, e não existe remédio contra a dengue, a única forma de combate maciço é o controle do vetor, que a gente sabe que é muito ineficaz. a gente não consegue mais dar conta do Aedes Aegypti porque ele se distribui para todo lado, é muito difícil combater o vetor porque ele está muito bem adaptado ao ambiente urbano”, diz o especialista.
Dengue 3
Na última semana, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou o ressurgimento do sorotipo 3 do vírus da dengue no país. O tipo do vírus não era causador de epidemias há mais de 15 anos, o que acende alerta quanto ao risco de uma nova epidemia da doença causada pelo sorotipo viral, considerado um dos causadores de infecções mais graves.
Segundo o virologista professor da UFMG e presidente da Associação Brasileira de Virologia, Flávio da Fonseca, o tipo 3 da dengue estava apenas “escondido”, ou seja, ele circulava mas contaminava poucas pessoas. Ele explica que o “reaparecimento” acontece devido a vulnerabilidade da população para o vírus, tendo em vista que a última epidemia do sorotipo aconteceu em 2003.
“Esse padrão oscilatório já é esperado, e não chega a ser uma surpresa. Epidemiologicamente já se sabe que os sorotipos 2 e 3 normalmente estão associados a ciclos de doenças mais graves. Enquanto as dengues 1 e 4 estão associadas a ciclos de doenças mais brandas”, diz.
Além disso, Fonseca afirma que o vírus da dengue possui mais uma “complicação” que facilita a sua contaminação. Quando uma pessoa é contaminada por um tipo, por exemplo o dengue 1, caso em uma recontaminação o sorotipo seja diferente, mesmo possuindo anticorpos contra o vírus, os sintomas poderão ser graves. No caso de recontaminação pelo sorotipo, os sintomas serão fracos, ou nem existirão. “É um fenômeno imunológico que acontece”.