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Desisti dos meus filhos, afirma pai de extremistas

Central de Jornalismo
Imagem de vídeo em que Nasser Muthana (centro), 20, nascido no País de Gales, aparece junto a grupo de extremistas / foto: Al-Hayat Media Centre/Ho/AFP
Imagem de vídeo em que Nasser Muthana (centro), 20, nascido no País de Gales, aparece junto a grupo de extremistas / foto: Al-Hayat Media Centre/Ho/AFP

Aos 57 anos, Ahmed Muthana é direto na resposta quando a Folha o questiona sobre a decisão dos filhos em trocar Cardiff, no País de Gales, por um grupo extremista islâmico na Síria: “Eu desisti deles. Não quero vê-los novamente por toda a minha vida. Eu sei que não vão voltar.”

Nasser, 20, e Aseel, 17, deixaram o Reino Unido para lutar pelo Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL), dissidente da Al Qaeda.

O mais velho aparece em vídeo divulgado na internet em que, ao lado de outros dois jovens britânicos, defende a jihad (guerra sagrada) e convoca muçulmanos a deixarem seus países para lutar contra o Ocidente.

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Em entrevista à Folha, o engenheiro elétrico que se mudou do Iêmen para o Reino Unido ainda adolescente fala sobre o assunto em tom de mágoa e apreensão.

Nasser foi o primeiro a desaparecer, em novembro de 2013; Aseel viajou em fevereiro deste ano.

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Ahmed Muthana garante que nunca teve ciência do destino dos filhos. “Claro que não sabia, foi uma surpresa. Eles disseram que estavam indo estudar, iriam para a escola e nunca mais voltaram.”

A primeira informação recebida foi a de que Nasser estaria na Turquia. E qual a reação ao ver o filho convocando luta contra o Ocidente?

“Num primeiro momento, foi de tristeza, claro. Mas agora não mais. Não tenho nenhum sentimento. Eles foram embora, são homens. Não posso fazer qualquer coisa e preciso tocar a minha vida”, responde.

Até porque, mesmo que quisesse, seria praticamente impossível para ele ver os filhos novamente.

O governo britânico já deixou claro que vai impedir a entrada de qualquer cidadão que tenha trocado o Reino Unido para se aliar a extremistas religiosos.

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Esse movimento de jovens muçulmanos tem preocupado as autoridades locais.

Estima-se que pelo menos 500 já tenham trocado o Reino Unido para integrar grupos como o EIIL, que ameaça tomar Bagdá.

Ao menos 65 suspeitos foram presos nos últimos 18 meses. O primeiro-ministro, David Cameron, já admitiu o temor de que esses “jihadistas caseiros” provoquem ataques em território britânico.

No vídeo que assustou o Reino Unido, aparecem, além de Nasser, Reyaad Khan, de 20 anos e também de Cardiff, e Abdul Rakib Amin, de 25, de Aberdeen.

Há dois dias, Nasser teria colocado fotos de bombas caseiras numa rede social.

Ahmed Muthana diz que ainda tenta entender o que levou seus filhos a tomarem esse caminho. Para ele, ambos sofreram uma “lavagem cerebral”. “Para ser honesto, não sei o que aconteceu. Talvez a internet, talvez as pessoas em volta deles”, diz.

O episódio levantou suspeita sobre um centro islâmico em Cardiff chamado Al-Manar, criado em 2009 como entidade sem fins lucrativos.

Os irmãos Muthana e Reyaad Khan frequentavam o local, conforme mostrou a Folha no domingo (29).

Há dois anos, o centro recebeu a visita do controverso líder saudita Muhammad al-Arifi, proibido de entrar no Reino Unido por causa do discurso extremista.

O administrador do Al-Manar, Barak Albayaty, confirma que os jovens do vídeo frequentavam o espaço, mas refuta responsabilidade pela decisão deles de ir para a luta religiosa na Síria.

Ahmed e amigos em Cardiff descrevem os jovens como estudiosos e pacíficos –Nasser, por exemplo, havia sido aceito numa faculdade de medicina.

Em meio ao drama, a Copa do Mundo no Brasil tem sido um forma de distração para o pai dos garotos.

“Eu torço para o Brasil, tenho assistido sempre aos jogos”. Algum jogador preferido? Neymar, por exemplo? “Não, gosto de todos eles”.

Folha de S. Paulo

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