MANAUS — Os 60 detentos mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, foram executados logo nas primeiras horas do confronto entre facções na tarde de domingo. É o que avalia o juiz titular da Vara de Execução Penal do Tribunal Justiça do Amazonas (TJ-AM), Luís Carlos Valois, que acompanhou e comandou as negociações juntos aos presidiários ainda na noite de domingo. Valois que chegou ao local da rebelião por volta das 22 horas – horário Manaus – disse ter entrado em estado de choque com as imagens dos corpos esquartejados, empilhados, mutilados e decapitados.
Pilhas de corpos espalhadas pelos corredores, membros esquartejados nos cantos e muitas cabeças decapitadas no local. O chão estava lavado de sangue. Nunca vi nada igual na minha vida. aqueles corpos e o sangue ainda estão nítidos na minha cabeça. Ainda estou em choque — relatou.
As imagens divulgadas extraoficialmente e que circulam pelas redes sociais mostram cenas de terror dentro do presídio. Pilhas de corpos em carrinhos e no pátio são as cenas mais comuns.
Valoais caracteriza as 60 mortes como uma carnificina. Para ele, durante as negociações ficou claro que não se tratava de uma rebelião por melhorias no sistema prisional, mas de uma disputa entre grupos por poder.
— Quando cheguei lá os assassinatos já haviam acontecido. Já participei de várias rebeliões, negociando diretamente com os presos e sempre tem reivindicações para melhoria de alimentação, superlotação e celeridade no processo de julgamento. Mas dessa vez as reivindicações não tinham força. Parecia que eles estavam apenas usando essas argumentações para ganhar tempo. A matança já havia acontecido. Ficou clara a disputa de poder entre os grupos. Matar 60 pessoas não justifica qualquer reivindicação.
Para o juiz, o número de mortes podia ter sido maior. Na avaliação dele, a entrada do Grupo de Choque podia ter levado vidas de detentos do semiaberto que não participaram do motim.
— Os presos do regime fechado invadiram o semiaberto e tomaram conta de todo o complexo. O número de mortos podia ter sido maior. Felizmente, houve uma negociação eficaz e conseguimos evitar a morte de detentos do regime semiaberto que não participavam da rebelião. Uma de nossas primeiras exigências foi que eles se retirassem desse complexo e retornassem para o regime fechado — contou.
O motim, segundo Valois, terminou por volta das 23 horas, mas os detentos acordaram em liberar a entrada da polícia só a partir das 7h desta segunda-feira.