Segundo uma pesquisa realizada pelo Colégio Notarial do Brasil Seção Minas Gerais (CNB/MG), houve um aumento de 62% no número de divórcios e inventários realizados em cartórios do estado. De acordo com o estudo, a pandemia de COVID-19 teria influenciado neste aumento, já que as pessoas passaram mais tempo em casa e, consequentemente, acabaram resolvendo questões pendentes de divórcios e partilhas de bens. Para quem atua na área, o empoderamento feminino também tem influência nesse índice.
Em conversa com o Estado de Minas, a Dra. Maria de Fátima Araújo Martins, sexóloga e terapeuta de casais, relatou que o aumento de atendimentos em seu consultório chegou a gerar filas de espera. De acordo com a especialista, ficar muito tempo em casa – sem estímulos externos – intensifica o estresse vivenciado pelos parceiros, inclusive pela presença constante dos filhos. Quanto mais pessoas ocupam o mesmo espaço, maior o grau de estresse que ele proporciona. Outras dificuldades também surgem: a ansiedade aumenta, há maior abuso de substâncias e os fatores emocionais ficam exacerbados.
O procedimento da separação pode ser bem árduo para os participantes. É uma grande modificação do status quo e muitas pessoas podem não se dar bem com o processo de luto que o momento trás ou com a mudança de seu próprio status dentro da relação. “Tem até uma ideia machista, aquela ideia representa um papel, sou uma esposa ou um marido.” – explica Maria de Fátima.
Para a advogada do direito da família e sucessões, Carolina Pereira, a emancipação feminina trazida por mídias como novelas também contribuiu para o aumento de separações: “A mulher agora consegue sair melhor [de situações abusivas]. Hoje se tem muita informação sobre a divisão de papéis de maneira saudável. A conscientização também se deve aos meios de comunicação, até na teledramaturgia”.
Segundo a advogada, pesquisar bem o profissional que participa do processo é muito importante, já que situações facilmente resolvíveis juridicamente recebem complicações emocionais e quem acompanha o procedimento deve saber como abordar a situação para que ela não se alongue desnecessariamente. E Carolina ressalta: “São inúmeras dificuldades, primeiro as psicológicas, não é um problema só jurídico, é muito difícil lidar com separação. O desejo de vingança ou tentativa de manter alguma relação até por raiva pode estar presente. Você vê as pessoas unidas, mesmo pelo ódio. […] O papel do advogado é racionar e diminuir os atritos”. Cartórios podem agilizar o processo, mas o mais importante é estar perto de um profissional que entenda como conversar.
A comunicação é o fator decisivo num bom relacionamento e para que o processo de separação seja o mais tranquilo o possível. Da parte do casal, segundo Maria de Fátima, é preciso ouvir, para além de escutar: “um casal com dificuldades de se comunicar terá muitos mais problemas . Tudo começa pela mente, se tem uma distorção da fala do outro, sem uma comunicação boa, há muito ruído. Que o outro aprenda a ouvir, não escutar. O ouvido acolhe, espera o outro falar até o final, cria um pensamento crítico, não leva pro pessoal. Saber separar situações de pessoas. Uma comunicação saudável você tem gestos não agressivos. Criar empatia, ter interesse na fala do outro.”
Qual é o sinal mais comum de uma futura separação?
Para Maria de Fátima, o indício mais expressivo de um desentendimento do casal é a falta de interesse sexual no parceiro. A perda da intimidade entre as partes ou mesmo a maior atenção do casal para outras coisas como filhos podem sinalizar grandes dificuldades num relacionamento. A competitividade exacerbada, disputa intensa entre quem é melhor no casal também contribuem para a diminuição do afeto.