No enclave da “elite branca” de São Paulo, teve refrigerante a R$ 15 e champanhe Moët Chandon a R$ 500 a garrafa durante o jogo do Brasil –mas ninguém mandou a presidente Dilma Rousseff para aquele lugar.
“Quando cantam o hino à capela, é o povo brasileiro; quando xingam a presidente, é a elite paulista”, assim resumiu sua indignação a empresária Fernanda Suplicy, uma das organizadoras do evento Ilha Gueri Gueri e sobrinha do senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
Na semana passada, a presidente Dilma foi xingada no jogo de abertura da Copa, no Itaquerão, e integrantes do PT afirmaram que o xingamento veio da elite. “Acho que mandar a presidente tomar… é uma coisa agressiva, que eu não aprovo, mas é a forma pela qual as pessoas se manifestam nos estádios”, afirmou Fenanda.
“Há uma tentativa de generalizar, um discurso de separar as classes e isso não é verdade –tem muita gente com grana que vota na Dilma”, disse o empresário Sergio Morisson, marido de Fernanda.
Está certo que a maioria das 800 pessoas que estavam no Ilha Gueri Gueri, evento que reuniu público de classe alta no bar Ilha das Flores, no bairro de Cidade Jardim, zona sul de São Paulo, não eram eleitorado petista.
“Se a Dilma tivesse ido ao jogo e aparecido no telão, certamente ia ter gente xingando”, admitiu uma advogada que não quis se identificar.
Alguns defendiam a “liberdade de expressão” para xingar a presidente. “O brasileiro simplesmente colocou para fora sua insatisfação com o governo”, dizia Carolina Burg, sócia do banco Plural. Segundo ela, só se estivesse “doida” votaria em Dilma na eleição.
Mas muitos se ressentiam do rótulo de classe privilegiada e mal educada que ofendeu a presidente. “Sei que há insatisfação, mas as pessoas deveriam demonstrar isso nas urnas. Mandar a Dilma…foi uma baita falta de educação; o mundo inteiro estava olhando esse desrespeito à presidente”, disse Luiz Antonio Busnello, sócio da agência Pepper, uma das organizadoras do evento.
“Não sei se foi elite ou não. A Dilma também foi xingada no show do Rappa do dia 1 de junho [em Ribeirão Preto]”, disse Ricardo Salles, secretário particular do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP).
Salles, ex-presidente do Movimento Endireita Brasil, causou polêmica ao criticar o trabalho da Comissão da Verdade. “A Dilma venceu em todos os estratos sociais, então parte dos descontentes são eleitores da classe alta que votaram no PT”, disse
Entre os VIPs presentes, a ex-candidata a deputada e socialite Ana Paula Junqueira (PMDB-SP), o secretário estadual de Planejamento, Júlio Semeghini, o musico João Suplicy, filho do senador Eduardo Suplicy, o estilista Walério Araújo, a atriz Luciana Vendramini, empresários.
“Quem organizou a Copa, a que só tem acesso quem tem dinheiro, foi o governo; então não dá para culpar a gente”, disse Ana Paula Junqueira, assumindo o papel de porta-voz da classe privilegiada.